Capítulo Cinco - Primeira Parte

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Borá para mais um capítulo Labirintets!!!
Espero que gostem muito!
Não deixem de curtir e comentarem!
Beijos e mais beijos

Capítulo

- Pontual, como sempre - falei, ao pular no banco do passageiro do carro de Beka. E ao olhá-la arregalei os olhos.
Rebeka Visco era minha melhor amiga desde o primeiro dia de colégio. E eu a adorava. Mas ela tinha uma mania incontrolável de trocar a cor dos cabelos de tempos em tempos. E mesmo já a conhecendo há anos, e já tendo visto vários cortes e cores diferentes, simplesmente não conseguia me acostumar.
Beka era muito bonita. Nós duas tínhamos mais ou menos a mesma cor de pele. Mas enquanto ela era branquinha estilo branca de neve, eu era mais para branquinha estilo cadáver. Éramos da mesma altura. Ela era magra, mas tinha mais volume nos seios que eu. Seus olhos eram castanhos bem escuros e seu cabelo já tinha sido loiro, castanho claro, castanho escuro, preto carvão, castanho com mechas loiras nas pontas, preto com mechas avermelhadas e tantas outras cores que nem conseguia lembrar de todas. O que eu achava de uma extrema coragem da parte dela.
- Espero que essa reação queira dizer que ficou muito bom - falou, jogando os cabelos para o meu lado para que pudesse ver melhor.
- Ruiva? - exclamei.
- Por quê? Não combinou? - disse, parecendo decepcionada com minha reação.
- É que eu gostava do loiro com as mechas mais claras - disse, tentando me justificar para minha melhor amiga. Mas ela continuou esperando com um olhar de quem queria elogios. - Mas o ruivo ficou bom. Só tenho que me acostumar - apressei-me em dizer, antes que ela achasse que eu não tinha gostado mesmo.
- Você se acostuma rápido, Eva.
- Só queria poder me acostumar antes que você mudasse novamente - falei, sufocando um risinho.
- Engraçadinha. Deu um trabalhão ficar ruiva. E combina com a minha cor de pele - falou, jogando os cabelos que caíam em cachos até um palmo abaixo dos ombros. Achei melhor elogiar mais, antes que ela resolvesse que eu não tinha gostado e quisesse mudar para azul dessa vez.
- Ficou muito bom, amiga - complementei. Mas tinha ficado mesmo.
- Eu sei - falou, brincando.
Chegamos em quinze minutos e paramos em uma vaga consideravelmente perto da entrada. Ainda era cedo e pelo visto ninguém estava muito empolgado em acordar cedo naquele frio, ainda mais para o primeiro dia de aula. Não saímos do carro logo que chegamos, lá dentro estava quentinho por causa do ar quente do carro.
Vi pelo canto do olho que Beka me olhava de vez em quando e podia sentir que ela queria me falar algo. Olhei para ela respirando fundo.
- Tudo bem, desembucha. O que foi?
- Só queria saber se você está preparada. - ela me olhou sem jeito. - Sei que pediu para que não perguntássemos sobre... - murmurando disse o nome dele - Noah, mas, como ele não voltou ainda, todo mundo vai perguntar. Eu só queria que estivesse preparada. Se quiser, podemos combinar alguma história, para quando ele voltar e o porquê de ainda não ter voltado.
Desde o dia em que ele viajou, pedi para todas as minhas amigas que não me perguntassem sobre o assunto. E até hoje nenhuma delas tinha perguntado. Mas ficavam sondando para saber se eu estava bem. Ligavam e mandavam mensagens várias vezes por dia. Pois elas podiam ver em meus olhos o resultado da falta de sono. Mesmo assim, preferi guardar para mim a última esperança de que ele voltaria antes das aulas começarem. Parecia que se não colocasse em palavras, se não falasse em voz alta, não seria realmente verdade.
Respirei fundo antes de finalmente dizer aquelas palavras para tentar controlar o choro.
- Ele não vai mais voltar - revelei, sentindo minha garganta se fechar em um nó no mesmo instante. - Recebi um e-mail dele onde falava que não voltaria mais para a cidade, que tinha se mudado.
- Mas e os pais dele? - perguntou Beka indignada com a notícia.
- Sabe como eles são. Não ligam - disse, dando de ombros. - Eles têm dinheiro. Podem bancar ele em qualquer lugar que ele queira morar.
Ficamos em silêncio durante algum tempo. As janelas já estavam quase por completo embaçadas pelo contraste de temperatura entre o interior e o exterior do carro.
- Vou sentir saudades dele - falou, finalmente quebrando o silêncio.
Olhei para Rebeka. Ela estava chorando. Afinal de contas, Noah também era seu amigo. Mesmo não sendo tão próximo dela como era de mim, eles se conheciam desde a infância. Quis consolá-la mesmo precisando tanto de consolo quanto ela e a abracei.
- Você quer falar sobre isso? - perguntou, entre soluços.
- Falar sobre não vai trazê-lo de volta.
- Mas e o motivo? Foi só por que vocês brigaram?
- Para falar a verdade, eu não sei. Eu sei que parece estranho, mas simplesmente duvido que tenha sido só porque discutimos. Já pensei sobre isso mais de mil vezes e passei e repassei nossa última conversa em meus pensamentos e não achava um motivo para que ele se mudasse de cidade.
- Então é isso. - disse Beka depois de um tempo, encerrando o assunto e pegando sua bolsa. - Vou refazer a maquiagem antes de entrar. Não quero começar o primeiro dia com cara de quem esteve chorando.
Depois da maquiagem retocada e de reunirmos coragem para sair do carro, corremos pelo estacionamento, que agora já estava lotado. Não tínhamos mais tempo de enrolar e ainda precisávamos pegar a programação das aulas.
Os corredores já estavam cheios e barulhentos, o que era bom. Quanto mais gente, menor a probabilidade de ser parada por alguém, era mais fácil seguir o fluxo de alunos até a secretaria do que tentar andar contra eles.
Pegamos nosso cronograma e senti um muxoxô quando vi minha última aula do dia: Educação
- Não vou aguentar - falei para Beka. - Estou toda quebrada, não vou conseguir.
- Diga que está com cólica - aconselhou ela, me dando uma piscadela. - Existem poucas vantagens em ser mulher, use pelo menos uma em seu benefício. Diga que está tendo uma amostra grátis de como seria ter um parto normal. Vão sentir pena de você e dispensá-la da aula - falou, me puxando pelo agasalho. - Vamos para a sala, temos a primeira aula juntas.
No caminho, os corredores já tinham começado a ficar vazios com os alunos entrando nas salas.
- Eva, vai indo na frente, preciso ir no banheiro antes. Muito suco no café da manhã.
- Vou com você.
- Não, vai na frente para guardar lugar. Não quero ter que sentar na cara do professor já no primeiro dia de aula.
Contra minha vontade, fiquei olhando enquanto ela entrava no banheiro. Não queria ficar sozinha.
Não seja covarde, Eva. Você estudou aqui sua vida toda. É só pensar que isso não vai durar para sempre.
Talvez eu conseguisse sobreviver à primeira aula sem que ninguém se metesse na minha vida. E assim que me virei, dei de cara com Marcus encostado bem em meu armário. Era castigo? Encontrar logo com ele primeiro? Justo ele?
Marcus era loiro natural e sua franja formava um M como o do McDonald's. Devia ter 1,75 cm mais ou menos e tinha um corpo pelo qual as meninas babavam e faziam questão de secar toda vez que ele passava pelos corredores. O que ele adorava.
Ele fazia parte do time de futebol e de natação. Seus olhos eram azuis, mas não azul-piscina. Um azul mais escuro. E sua expressão era sempre de quem se achava o último biscoito do pacote.
Existem dois tipos de pessoas bonitas. As que são bonitas e sabem disso, mas não se acham mais do que os outros por causa desse detalhe, e as que são bonitas, sabem disso, e fazem questão de tirar vantagem e desdenhar do resto do mundo. E Marcus com certeza era o tipo número dois.
Ele odiava o fato de nunca ter conseguido nada comigo. E isso não era porque eu me achava, era simplesmente um fato. Analisei minhas opções ao vê-lo ali parado. Eu podia dar meia-volta e ir embora descaradamente ou enfrentá-lo logo de uma vez. Ele já tinha me visto e estava apoiado com o ombro esquerdo na porta do meu armário. Senti uma vontade quase gritante de dar as costas e sair andando, mas precisava guardar os livros e não queria ficar andando com eles pelo colégio. Eles já eram pesados e, com a dor que eu estava no corpo hoje, pareciam pesar dez quilos a mais cada um. De qualquer jeito, ele poderia muito bem estar me esperando na próxima aula no mesmo lugar. Mataria Beka por me deixar sozinha. Devia ter ido ao banheiro com ela. Tomei coragem, respirei fundo e me encaminhei até meu armário e ao estorvo que estava pendurado nele.
- Eva, tudo bem? - falou, já me analisando da cabeça aos pés e voltando a cabeça. Senti-me passando pela máquina de raio X do aeroporto. Pelo menos a máquina do aeroporto não fica medindo cada centímetro de seu corpo. - Você anotou a placa do caminhão que a atropelou? Você parece tão abatida.
- Oi, Marcus. Não dormi muito bem. - Respondida a minha pergunta. Sim, definitivamente era castigo. Tinha certeza de que ele me perguntaria algo. Se pelo menos ele não estivesse apoiado no meu armário. - Preciso guardar meus livros - falei, apontando para o meu armário. - Ah, esse é o seu novo armário?
- Sim. - Como se ele não soubesse.
- Mesmo abatida, você está linda hoje.
- Obrigada.
- Como foram suas férias?
- Ótimas - falei, tentando colocar todos os livros naquele espaço minúsculo.
- As minhas também foram ótimas, fui para a Europa. Temos casa lá, sabe como é.
- Hum, hum. - Não, eu não sabia como era ter casa na Europa. Coloquei os livros no armário, me embananando toda para terminar logo e dar o fora dali. De qual deles eu precisava mesmo para a primeira aula?
- E o que fez de bom?
Como assim?
- Nas férias.
- Nada, tive que trabalhar, então fiquei por aqui mesmo.
- Que pena. E seu amigo? - Ele falou a palavra amigo de forma sarcástica, mas nem valia a pena retrucar. Sabia! Estava demorando. - Já voltou?
- Não.
- Não? Para onde ele foi mesmo?
- Não sei - falei entre dentes.
Marcus e Noah nunca foram muito chegados. Mesmo os dois sendo populares. Marcus sempre foi exibido. Sempre falando dos jogos que ganhou, das medalhas que conquistou, convidando para andar em seu carro caro, falando de suas viagens, dando festas em sua casa e sempre usando roupas de marcas caríssimas. Enquanto Noah era mais despojado. Mesmo tendo dinheiro, não ficava esfregando na cara das pessoas. Nisso eles eram completamente diferentes, e como pessoa também. Noah sempre me fez prometer que eu nunca ficaria com ele, que eu nunca seria mais um troféu que Marcus colocaria na parede. E eu sempre batia nele de brincadeira por falar essas coisas. Eu não tinha o menor interesse de ficar com Marcus. Ele podia até ser bonito e rico, mas, como pessoa, era terrível, fútil e não ligava para ninguém a não ser para ele mesmo.
Ele me analisava no estilo raio X de novo quando olhei para ele, porém se recompôs depressa.
- Não sabe mesmo para onde ele foi? Que estranho. Mas vocês não eram bem... chegados?
Respirei fundo para não gritar: não é da sua conta, porra! Comecei a contar de um até dez mentalmente para não perder a paciência.
Diga logo, Eva. Diga as palavras e todos vão saber e poder comentar e fofocar à vontade. Não vai durar para sempre, logo será notícia velha. Tire o Band-aid de uma vez. Pensei comigo mesma.
Fechei o armário com mais força do que era necessário, já com tudo que precisaria na bolsa.
- Ele se mudou e não vai voltar - cuspi as palavras para ele o mais rápido que pude.
Pronto, falei. Seus olhos se arregalaram, mas ele se recuperou rápido.
- Sei... - disse quase nem conseguindo disfarçar a felicidade na voz. - E por que isso?
- Não sei - falei, virando-me para ir para a sala. Achei que meu gesto de dar as costas para ele teria encerrado o assunto, mas ele veio andando comigo.
- Você não sabe? Mas vocês eram tão... próximos. Como pode não saber?
Parei de andar de repente fazendo-o dar um tranco parando também. E era ali naquele instante, naquele local, em que me descontrolaria e começaria a gritar com ele. Começando meu primeiro dia de aula como a louca que se descontrolou no corredor com um dos caras mais populares do colégio. Mas eu estava quase explodindo. Nem que eu contasse até mil, naquele momento, não adiantaria.
- Eu-já-disse-que-não-sei-e-você-pode-ir-se... - O sinal tocou alto abafando o que eu ia dizer.
- Então quer dizer que você está solteira? - falou. Ele não desistiria. Respirei fundo para não berrar com ele.
- Não - disse, dando de ombros.
- Não?
- Namoro à distância - disse me segurando para não rir. Foi a mentira mais deslavada na qual consegui pensar, assim, do nada. Mas depois que falei, fiquei orgulhosa de mim mesma. Não precisaria ficar dando desculpas para não sair com ele e não precisaria estar realmente com alguém. Perfeito.
- Mas você falou que não viajou nas férias! - Ele parecia muito bravo.
- Não viajei. Conheci na internet.
- In-ter-net? - disse, incrédulo. - Isso é perigoso, Eva.
- Não se preocupe, Marcus, eu sei me cuidar.
Ouvi alguém gritando meu nome na entrada de uma sala próxima. Virei-me para olhar. Era Monique ou Mona para os íntimos.
- Amigaaaaaaaaaaaaa... que saudades.
Ela veio correndo e me deu um abraço de tirar o ar dos pulmões. Parecia que não nos víamos há anos. Monique Mariah Benetti era uma das minhas melhores amigas. Tinha a pele negra mais perfeita que eu já vi até hoje. Ela praticamente não tinha poros. Seus cabelos desciam em camadas onduladas até seus seios. Era um pouco mais alta do que eu e tinha curvas nos lugares certos.
- Oi, Marcus, tudo bem? - falou, olhando para ele e jogando charminho. Ela já ficara com ele algumas vezes.
- Tudo. Sabe, Eva estava aqui me contando que o amigo de vocês não volta mais esse ano. Que se mudou - ele falou, olhando diretamente para Mona, esperando para ver se ela se surpreenderia com a notícia. Mas ela segurou a barra muito bem.
Eu ainda não contara sobre Noah para ela. Não tinha contado para ninguém até meia hora atrás, na verdade. Eu, que a conhecia muito bem, podia ver que ela estava surpresa e disfarçando o baque de saber assim do nada. Sempre que ficava nervosa, roia as unhas e, assim que ele contou a notícia, ela colocou a mão na boca.
- É, eu sei, Marcus, mas isso já é notícia velha - disse ela, virando-se para mim encerrando o assunto. - Temos a primeira aula juntas, guardei lugares para nós. Vamos, o sinal já tocou. Tchau, Marcus - falou, jogando um beijinho para ele e me puxou pelo braço para dentro da sala.
- Não sei como aguenta ele, Mona - falei.
- Vai dizer que não acha ele um gato? - disse, piscando os olhos de uma forma afetada de brincadeira.
Fiz careta para ela. Bonito ou não, ele era um pé no saco.
Nossa primeira aula era de História. Beka chegou um pouco antes do professor fechar a porta e começar a fazer a chamada. Assim que a aula começou, ouvi um "psiu". Era Mona me passando um bilhetinho.
"Como assim ele foi embora e não volta mais? Verdade? Quer falar sobre? Você está bem?" - Mona
Era melhor responder logo. Elas eram minhas melhores amigas e respeitaram minha vontade de não falar sobre o assunto durante semanas, nas quais me escondi em casa, sozinha, e só saía para trabalhar. Nessas semanas não estava sendo uma boa companhia para elas.
"Verdade. Recebi um e-mail dele falando que se mudou e não voltaria mais. Não absorvi direito ainda. Fico esperando ele me ligar." - Eva
Esperei o professor virar de costas para a turma e joguei o bilhetinho na mesa dela. Dois minutos depois o bilhete veio pelo outro lado. Por Beka. Ela já tinha lido e respondido.
"Por que você não liga para ele? Não acredito que tenha ido embora e nem nos falou tchau. Ele também era nosso amigo, pô. Não amigos como vocês eram, mas mesmo assim, conheço ele desde que nasci. E ele foi embora para sempre? Para onde?" - Mona
Respondi de volta.
"O celular dele foi desligado. Acreditam se eu falar que não sei para onde ele foi? Nós brigamos, mas não foi nada que justificasse mudar de cidade." - Eva
"Joguei o bilhete de volta para Rebeka, ela nem leu direito e me jogou de volta. Brigaram por quê? Talvez para ele tenha sido algo mais importante do que foi para você." - Beka
O motivo era tão absurdo para mim que até escrevê-lo foi embaraçoso. Enrolei o bilhete nos dedos sem saber o que escrever. Mona me deu um cutucão com o braço e fez sinal para que eu escrevesse.
"Ele disse que, já há algum tempo, passou a me ver mais do que como amiga. E que era muito doloroso para ele não poder ser mais do que isso. Acreditam? Amigos de mil anos e ele me vem com isso." - Eva.
Joguei o bilhete no colo dela de volta. Dessa vez o bilhete demorou para voltar. Assim que leram, elas se entreolharam e depois olharam para mim. Fiz cara de interrogação e apontei para o bilhete querendo dizer "escrevam". Elas demoraram tanto que comecei a achar que era medo do professor pegar. Isso me fez lembrar de quando éramos crianças e escrevíamos em código. A = 1, E = 2, I = 3, O = 4 e U = 5. Mas não precisa ter mais de dois neurônios para decifrar esse supercódigo.
Mona jogou o bilhete de volta em minha mesa.
"Entendo." - Mona
"Idem." - Beka
"Demoraram tanto tempo para escrever isso? O que foi? Podem desembuchar vocês duas." - Eva
Joguei o bilhete de volta e tentei prestar atenção na aula, mas sabia que no primeiro dia isso seria um tanto quanto impossível até que essa história com Noah esfriasse. Demoraram tanto que achei que tinham desistido. Uma eternidade depois o bilhete foi colocado gentilmente em minha mesa.
"Eva, era bem óbvio que ele não a via como amiga já há muito tempo. Ele nunca se interessou por nenhuma de nós. Nem por ninguém do colégio. E você sabe muito bem que não faltavam pretendentes. Ele estava sempre com você. Nós achamos que era questão de tempo até vocês começarem a namorar. E o jeito como ele a olhava... "- Mona
"MUITO idem." - Beka
Fiquei segurando o bilhete relendo as palavras enquanto rodava meu colar entre os dedos. Sempre fazia isso quando ficava ansiosa, mesmo sem perceber.
Então era tão óbvio assim para todos, menos para mim? Eu fui tão cega? Toda relação entre sexos opostos tem que terminar com as pessoas se envolvendo umas com as outras? Não podem só ser amigas?
- Senhorita Lins? Senhorita Lins? - Beka me chutou por baixo da mesa. O professor estava me chamando. - Quando teve início a Segunda Guerra Mundial? - perguntou.
- Em 1939, professor.
- E durou até que ano?
- Até 1945 - respondi. - O que é isso que está segurando, mocinha? - perguntou, não satisfeito com minhas respostas, analisando o pedaço de papel rasgado que segurava na mão.
- Não é nada - falei, rasgando o papel antes que ele ficasse tentado a ver o que era.
- Bem, continuando... - retomou, aborrecido. A aula continuou, mas nenhuma palavra que ele falava fazia o menor sentido, só conseguia pensar no quão cega fui. Teria uma conversa muito séria com minhas amigas depois da aula. Por que não me alertaram para esses sinais?
A aula passou se arrastando. Tenho certeza de que dormi de olhos abertos em alguns momentos. Estava lutando com as minhas pálpebras. Reuni todas as minhas forças e consegui prestar um pouco de atenção no final para tentar não ficar pensando sobre o assunto.
Assim que o sinal tocou, me virei para encará-las.
- Por que não me falaram? - perguntei, sem rodeios. Elas se entreolharam.
- Achamos que você sabia, Eva - Beka falou, justificando-se.
- Vocês estavam sempre juntos e faziam tudo juntos. Achei até que já tinha rolado alguma coisa - Mona explicou.
- Não, nunca rolou nada. Se tivesse rolado, eu teria contado. - Bufei. Já estava mais do que arrependida por ter optado ir para a aula hoje.
- Minha próxima aula não é com vocês - disse Beka. - Eu já vou porque ainda tenho que pegar meus livros. Não fique assim, amiga. Depois nos falamos - falou, colocando a mão em meu ombro em sinal de solidariedade. Mona ficou comigo, ela também tinha Geografia.
Meus livros e os dela já estavam nas nossas bolsas. Então não precisávamos ficar andando. E a sala era bem próxima. Graças a Deus. Não aguentaria ficar subindo e descendo escadas hoje.
Estava me sentindo um pouco anestesiada por ter sido tão burra. Perdi meu melhor amigo e nem tive a chance de me acostumar com a ideia de sermos mais do que amigos. Será que eu não quis enxergar?

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Espero que tenham gostado minhas amorecas! Quinta que vem tem mais!
Milhões de beijos

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