Labirinto de Espelhos (Livro 1)

Capítulo Oito - Segunda Parte

A surpresa foi tanta que fiquei paralisada durante alguns segundos tentando entender se ele estava realmente ali com aqueles olhos lindos olhando para mim.

Com um pé para fora de casa e o outro ainda dentro, pude praticamente ouvir quando meus neurônios deram o reinício no meu cérebro e tentei me recompor o mais rápido possível do choque de vê-lo ali.

Seria possível que de tanto pensar em uma pessoa ela simplesmente se materializaria na sua frente? Se fosse verdade, eu com certeza não ligaria.

– Olá, Eva – falou, com um ar de divertimento olhando para mim. – Estou atrapalhando? Você faltou hoje, então vim ver se você estava bem.

– Sim. – Por sorte, pelo menos minha voz consegui encontrar.

– Sim, eu estou incomodando? Ou sim, você está bem?

– Estou bem. Quando acordei hoje você...

Não sabia como continuar a frase.
Você tinha me abandonado? Foi assim que me senti.

– Achei melhor ir embora. Você estava dormindo tão bem que não quis acorda-la.

– Como conseguiu ir embora? Quando acordei, o zelador estava abrindo a porta da frente. E saí correndo no momento em que ele se distraiu.

– Ele abriu uma porta lateral antes. Saí por ela. Você estava de saída?

Eu ainda permanecia na mesma posição, estática. Acho que, no final das contas, não sou muito boa em lidar com surpresas.

Será que algum dia me acostumaria com ele chegando assim? Com aqueles olhos lindos me observando?

Acho que não.

Qual foi a pergunta mesmo? Ah, é...

– Eu preciso ir trabalhar.

– Que pena. Eu precisava de uma guia. Vim na esperança de que você pudesse me mostrar a cidade.

Mostrar a cidade? Era só dar uma volta de carro de meia hora e veríamos a cidade inteira. Mas como eu adoraria dar essa volta de carro de meia hora com ele.

– Eu adoraria, mas faltei hoje no colégio e se minha mãe ficar sabendo que não fui no trabalho também, ela vai começar a ficar preocupada, então... – Senti meu celular vibrando na bolsa.

– Você não quer entrar? – falei, abrindo a bolsa. Voltei para dentro de casa para apoiar a bolsa no móvel ao lado da porta, meu celular parecia ter vida própria dentro dela e sempre que precisava dele ele se escondia de mim.

Enfiei a mão tentando acha-lo até que o senti vibrando.

Olhei o número que estava ligando.

Era do trabalho. Que estranho.

Atendi já preparada para uma bronca.

Chefe ligando nunca é bom.

– Alô. Oi, Rômulo. O quê?

Willian ainda não tinha entrado em casa e fiz sinal para que entrasse.

– Eva, que bom que consegui falar com você antes de você chegar. Não precisa vir trabalhar hoje. Estou com alguns problemas pessoais e não vou poder abrir.

– Nossa, espero que esteja tudo bem.

– Não, mas vai ficar. Não se preocupe, seu dia não será descontado do seu salário.

– Nossa! Obrigada.

– Então é isso. Tchau.

E desligou.