Capítulo 26

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Lá estava eu... Sentado em meio aquele dois corpos... Eu poderia chamar a polícia, mas minhas digitais estavam por toda a parte. O homem que me atacou estava usando luvas e as digitais do meu pai não iriam servir para provar nada, já que a arma que foi usado por aquele homem havia ficado com as minhas digitais, logo após de eu ter revidado. Nada do que eu falasse poderia adiantar. Mesmo que eu afirmasse que um assassino tivesse entrado em casa e matado meu pai, não teria como explicar a ausência de passa-portes meu e dele e nem de onde eu e meu pai conhecíamos aquele homem e porque ele queria nos matar. Independente de quão elaborado fosse o argumento, nada adiantaria, eu seria preso de qualquer maneira. Então só me restava ficar aqui naquele lugar, comendo aquela comida até ela acabar e fingir que nada aconteceu. Depois eu vejo o que fazer com os dois corpos no chão... A face do meu pai olhando para o vazio... Oh deus do céu...É simplesmente horrível.    

                                                                                                 ***

Fiquei deitado no antigo quarto do meu pai. De vez em quando eu lembrava dele e de tudo que nos havíamos passado antes daqui... E entao, eu caía no choro. Não importava o quão ruim era a nossa relação, aquele homem ainda era meu pai; meu mais querido e amado pai. Apesar de tudo e de todos, eu não queria ter ve-lo morrido... Era doloroso demais para mim lembrar daquela imagem. Mas como eu sei que ninguém se importa com isto, é melhor eu fingir que nada aconteceu. Algo que eu já estou acostumado a fazer.

Enquanto eu continuava absorto em cima daquela cama dura, um pensamento me invade a cabeça; se aquele homem estava em busca do protocolo, quer dizer que a organização dele e do meu pai sabem que o protocolo estaria aqui, comigo!

Oh meu deus! Eu grito, entrando em pânico. Eles podem entrar aqui a qualquer momento!

Rapidamente, eu me aproximo do antigo guarda roupa do meu pai, apanha tudo que havia lá dentro e desço as escadas. Lá embaixo, eu apanho uma mochila de excursão, e coloco tudo que me será útil durante alguns dias: água, carne, barra de cereais, ferramentas multi-uso, um saco de dormir e uma lanterna. Ainda havia mais suplementos guardados mas a mochila já estava quase cheia. Eu não poderia me dar o luxo de levar tanto peso sabendo que podem haver homens me procurando agora mesmo.

Aquela região era repleta de rochas e montanhas e mesmo que a polícia me encontrasse perambulando, eu poderia falar que estava fazendo uma excursão... Mas se eles pedissem minha identidade... Aí complicaria tudo. Mas não poderia desistir de minha empreitada por conta disto. Eu precisava ir até o fim. Eu olho para o corpo do meu pai estirado no chão, eu fecho os olhos para conter as minhas lágrimas e começo a arrastar o corpo dele para fora da casa. Eu não poderia deixar o corpo do meu pai largado, como um indigente. Daria para ele pelo menos um enterro digno, já que isto era tudo que eu poderia fazer.

Arrasto o corpo do meu pai para fora da casa e o do outro homem eu deixo estirado no chão da sala: não queria perder meu tempo tendo que enterrar o corpo de um miserável qualquer. Após já ter arrastado o corpo do meu pai, deixando uma enorme mancha de sangue pelo caminho, eu me dou conta que não havia pá alguma que eu poderia usar para enterra-lo. 

"E agora... Deus do céu, não vou deixar meu pai jogado aqui fora... Preciso pensar em algo bem rápido."

Não tive escolha, decidi apanhar o corpo do meu pai e arrasta-lo para a beira de um precipício, o mesmo que ele havia citado quando estava vivo. Me aproximei do enorme abismo de pedra... A visão era sombria, profunda e opaca, foi como se eu estivesse vendo o tártaro.

Quando observei aquele abismo, lembrei-me da famosa frase de Friedrich Nietzsche: "Aquele que luta contra monstros deve acautelar-se para que não torne-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha você."

Me identifiquei com aquela frase. Eu estava lutando contra monstros e meu pai era o abismo. Se eu continuasse a olha-lo, também me tornaria um morto, um ser sem vida.

Sem mais demoras, eu empurro o corpo do meu pai para a beirada do abismo. Era negro, obscuro e frio... Era dificíl para mim fazer isto, mas eu sabia que era necessário. Eu empurro mais um pouco. Empurei mais alguns centímetros até que... Ele caiu, e sumiu entre as névoas esfumaçadas do enorme buraco. 

                                                                                 ***

Tudo estava pronto, a mochila já estava preparada, não havia vestígio meu por nenhum comodo da casa. Bastava eu seguir caminhando pela trilha da montanha e chegar na estrada, e pronto. Eu não sabia para onde eu iria nem em que parte do leste europeu eu poderia estar, mas sem eu poder usar o carro do meu pai, já que ele pode estar com algum GPS embutido, eu tinha que seguir por aquele caminho a pé, sem a mínima ideia de quanto tempo mais eu poderia sobreviver sozinho.

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