Capítulo 28

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Acordo em um lugar desconhecido. O local soltava uma fragrância nostálgica e familiar. 

Ainda aturdido, tento me levantar, mas percebo que existem algumas agulhas perfurando minhas veias, possivelmente por eu estar passando por uma terapia intravenosa. Mas bastou eu olhar para meu torso revestido por uma fina peça de roupa alva que rapidamente deduzi que local era aquele: um hospital. 

Deveras estar ali. Eu havia sido atropelado, eu acho, e alguém com humanidade suficiente devia ter me trazido aqui. Provavelmente o próprio motorista que, por imprudência minha, havia me atingido . Fiquei por alguns instantes sem esboçar reação alguma, já que todo meu corpo havia adormecido graças a algum tipo de anestesia. Após vários minutos olhando o teto límpido e branco do hospital, me dou conta do seguinte fato: O pingente já não estava mais comigo. Provavelmente ele havia sido confiscado por alguma enfermeira junto com o resto das minhas roupas. Mas isto era a melhor das hipóteses possíveis. Ainda havia uma outra que, por estar acidentado e possivelmente todo banhado por meu próprio sangue, era mais do que óbvio que um profissional responsável iria fazer: jogar meus pertences fora, incluindo neste meio, o pingente. Ah se eles soubessem da importância daquele simples objeto. 

Quando este pensamento passou por minha cabeça, minha respiração ficou ofegante, meus batimentos aceleraram e os Bips do monitor passaram a  ressoar como loucos: A simples possibilidade de eu puder ter perdido aquele pingente me fez entrar em pânico. 

Eu havia de entrar em colapso se não fosse por uma mulher, até então desconhecida, vir me acudir. Com a adrenalina passando por minhas veias, eu estava lúcido o suficiente para distinguir sua fisionomia: ela tinha cabelos castanhos, andava de forma graciosa, porém apressada (graças a ocasião) tinha um rosto tipicamente europeu, olhos claros e pele alva. 

Quando senti suas mãos apertando meu peito, senti uma mão firme e calosa que deveria pertencer a uma mulher que já havia passado por muitas situações como aquela. Logo percebi que estava com uma profissional forte e responsável. Mas tarde eu haveria de descobrir porque. 

Com os batimentos se acelerando ainda mais, a moça já começava a retirar uma agulha de seu jaleco para injetar na minha intravenosa, mas quando meus batimentos começaram ao voltar ao normal, ela exitou e resolveu guardar as agulhas. Acredite, foi uma luta intensa fazer aquilo, pois quase todo o meu corpo havia entrado em choque muscular e eu mal conseguia respirar normalmente. Mas eu havia conseguido me controlar e restaurar meus batimentos. 

Novamente eu voltei meus olhos para o teto, estava envergonhada e não queria ficar encarando uma mulher que provavelmente pode ter salvado minha vida, mas que eu mal conhecia. 

- Você é bem forte garoto, tenho que admitir. Ela disse, olhando para mim com as mãos levadas ao queixo, como se estivesse tentando ver até dentro da minha alma. Ela estava falando inglês com um sotaque um pouco difícil de distinguir. E como eu havia passado grande parte da minha vida em um colégio inglês, eu obviamente sabia falar este idioma. 

 - Eu... eu... agradeço. Respondi, com extrema dificuldade na minha fala, por conta das fortes dores e da respiração ofegante. 

- Foi por muito pouco que não o perdermos você sabia? você teve duas paradas cardíacas, realmente não era a sua hora.

Sem ligar muito para o que ela havia me dito, eu pergunto logo sobre o pingente mas sem deixar claro que era ele que eu queria.

- O... O que aconteceu com meus pertences e há quanto tempo estou aqui? 

- Você está aqui a mais de um mês, você havia ficado em coma três semanas e só agora conseguiu se recuperar o suficiente para se manter lúcido. 

Levo um tremendo choque quando ouço este fato. Um mês? Será que havia possibilidade de ter passado tanto tempo? Eu ainda conseguia lembrar do acidente, mesmo que com certa dificuldade, como se houvesse acontecido dias atrás. 

- Um mês?! 

- sim. 

Ficou em silêncio por um momento. 

- E quem me trouxe aqui neste lugar, você saberia me dizer? 

- bem... O homem estava muito agitado e nervoso. Ele também estava machucado, parecia que ele havia levado um tiro de raspão na orelha, mas não quis ser atendido. Deixou você com os tratos de nossas enfermeiras e foi embora sem dizer nome, telefone ou endereço. 

Levado um tiro? Que tipo de homem que ferido iria trazer um desconhecido para o hospital e ainda ter recusado tratamento? Será que poderia ser... Não, é impossível. Será que meu pai poderia ter sobrevivido apesar de eu ter jogado o seu corpo abismo abaixo? Era surreal demais para ser verdade. 

- E... Você saberia me dizer como este homem era? 

- Como assim? 

- A sua fisionomia, as roupas que ele vestia... 

- Desculpe, mas eu não estava na hora em que ele havia lhe deixado conosco. Eu havia chegado um pouco depois. Quando eu havia entrado aqui no hospital, havia uma aglomeração de médicos e enfermeiros ao seu redor. Tome, isto é tudo que ele havia deixado como identificação. 

Ela me mostra de perto um cartão magnético, com o nome Markov contido nele. Depois disto ela o guarda novamente. 

- Este homem... Pergunto, tentando fixar meu olhar nos seus olhos cor de avelã - Eu... não sei quem ele é. 

- Ele salvou sua vida. E deixou este cartão de débito para custear todo o seu tratamento. Se ele não for um conhecido, deve ser um homem de grande coração. 

Apesar de eu querer saber mais sobre este homem, não podia deixar de lado meu dever de protetor do protocolo. Eu tinha que sair daquele hospital, os homens que estava atrás de mim podiam estar me procurando naquele exato momento. Por isso, eu tentei ir embora, mas, é claro, a enfermeira me impediu. 

- Para onde você pensa que vai? Disse ela, turvando as sobrancelhas e engrossando sua voz. 

- Escute - respondo, tentando retirar a sua mão de cima de mim - Eu agradeço por tudo, o tratamento está pago e eu me sinto melhor. Eu realmente preciso ir embora. 

- Não, não pode. Eu não posso permitir. Você ainda está debilitado e ainda não têm condições de receber alta, por favor, volte para sua cama. 

Começo a forçar as suas mãos para longe de mim; ela não entenderia e eu não poderia contar para ela o que estava acontecendo. Eu realmente precisava ir embora. 

- Por favor! Me deixe ir! você não entende, eu e todos neste hospital podem estar correndo perigo, me deixe ir! Agora! 

As palavras saíram mais rápidas do que eu poderia controlar. Ela deveria estar pensando que eu estava com algum tipo de delírio de grandeza.

Mas algo de diferente ocorre. Ela retira as mãos de cima de mim, e me fita de uma maneira constrangedora e intimidante. Ela estava literalmente me fulminando com seus olhos. 

- Caio, você não pode ir. Você não vai, não enquanto não saber com quem está falando. 

- Co-como você sabe meu nome? 

- Porque Senhor Caio Feron, eu sou a diretora da NSA, Ruth Mitchell.



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