Capítulo 33

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Eu e Ruth adentramos no imenso corredor, Robert a nossa frente, guiando-nos. Ele andava muito rápido e eu precisava sempre aumentar o passo todas as vezes que ele dobrava-o.

- Se não o conhecesse, poderia dizer que Robert está querendo manter distância de nos dois. Eu disse, mais alto que pretendia. Ruth arqueou as sobrancelhas.

- Ainda lhe resta dúvidas? Respondeu, enquanto caminhávamos por um corredor um pouco menor que os outros, mas tão alvo e limpo como os demais. - Robert está zangado comigo porque acha que eu estava morta. Se não for isso, não sei o que é. O cérebro masculino para mim é um mistério.

Eu solto uma gargalhada alta e Robert me repreende com um olhar. Eu e eu Ruth ficamos em silêncio por alguns instantes mas depois retornamos a nosso diálogo.

- Bem, mas eu acho que eu entendo o Robert. Eu também ficaria deprimido se pensasse que um amigo meu havia falecido, e depois simplesmente saber que ele estava vivo o tempo todo.

- Talvez tenha outro motivo. Ruth abaixou o tom de voz, quase que cochichando.- Eu e Robert temos uma relação, digamos, um pouco além da profissional... algo um pouco mais... íntima, digamos assim.

- Íntima? Pergunto, na mesma hora que Robert diminui o passo.

- Sim. Ruth estava com o olhar fixo a frente. Provavelmente disfarçando nosso diálogo. - mas acho que conversas sobre relacionamentos em lugares hostis não é o ideal. Não é mesmo Robert?

Para minha surpresa, Robert para de andar por alguns instantes, abruptamente. Percebo o punho fechado do meu camarada e logo deduzo que ele não havia gostado da provocação de Ruth. Robert odiava ser feito de bobo.

Após isto, eu e Ruth também paramos. Ruth apressa o passo e agarra o ombro de Robert, o obrigando a olhar para ela.

- Chega Robert. Chega desta petulância infantil. Você está agindo feito uma criança.

- Chega você, Ruth! Eu estou cansado de receber suas ordens. Estou cansando de sempre ter que fazer tudo pela sua organização e você nem sequer reconhecer meu valor. Nem sequer falar um obrigado. Me enganar, me fazer de bobo. Não Ruth, chega você! 

Mas havia coisas mais importantes a nos preocupar. Um sinal começa a soar e uma luz vermelha engole todo o recinto onde estávamos.

"Invasores identificados. A todos os funcionários, retirem-se de imediato das fundações deste prédio. A equipe de combate entrará em ação e qualquer um que não obedecer a ordem de retirada será alvejado."

- Que droga! Eles sabem que estamos aqui! Eu grito, apanhando a pequena pistola do bolso. Mas ela não seria útil contra os fuzis e metralhadoras que aqueles homens carregavam. Eu estava começando a ficar com medo, mas eu estava ao lado de dois agentes de campo bem treinados, por isso eu ainda tinha a remota esperança de continuar vivo.

- Já era hora. Ruth, você está com o rastreador aí?

Ruth demora para responder. Talvez ela ainda estivesse digerindo o que Robert havia acabado de pronunciar. A súbita mudança de atitude do meu amigo pelo menos prova que ele ainda tinha juízo suficiente para relembrar que estávamos dentro de uma organização super poderosa e que corriamos risco de morte.

- s-sim, ele esta aqui comigo.

- do que estão falando?

Pergunto, no mesmo instante.

- Implantamos um rastreador no terno de Alexander. Ele provavelmente já deve ter o retirado mas podemos saber por onde ele andou e...

- Saber onde o super computador está escondido! Brilhante! Eu completo, eufórico.

Robert solta um sorriso satisfeito.

- Mas devemos correr. Interpôs Ruth - aqueles idiotas dos guardas de Alexander não são bem treinados mas são muito numerosos. Devemos usar nossa desvantagem numérica ao nosso favor para podermos passar por eles.

- como? Pergunto

- Nos separando.

Eu e Robert nos entreolhamos. Nos dois sentíamos que se separar em uma situação de alto risco como aquela poderia nos matar, um por um.

- Mas seria perigoso demais! Ele argumenta. Cada um de nós temos diferentes níveis de habilidade. Eu e você podemos nos cuidar, mas enquanto ao Caio?

Eu fico meio irritado com esta afirmação. Será que Robert não poderia insinuar pelo menos uma vez que eu era melhor do que aparentava ser?

- Eu acho que posso lidar com essa situação sozinho Robert, obrigado. Respondo,  reparando  na passagem a nossa frente, temia que a qualquer momento os soldados de Alexander invadissem aquele recinto e matasse a todos nós. 

- Pare de ser petulante Caio! Eu te conheço. Ele Retruca - Você não reconheceria que é incapaz nem que lhe cortassem as pernas!

- E esta é uma das qualidades de um soldado Robert: Valentia. Interrompeu Ruth -  Reconheço a sua preocupação com a segurança do seu amigo, mas precisamos tomar esta medida, ou nossa chance de sobreviver se limitará a um punhado de falsas esperanças.

Robert fitou os pés por uns instantes. Este nosso laço amigo/irmão talvez tenho o impedido de tomar uma decisão imediata. Mas, assim como eu esperava, ele finalmente decide o que iria fazer.

- Vamos nos separar. Ele responde, finalmente -  Mas vamos nos manter conectado um ao outro. Se um de nós correr perigo deverá avisar ou mandar um sinal os outros dois, Entendido?

- Sim. Respondi.

- De acordo.

Passos de uma enorme multidão aumentava a cada segundo. Uma serie de pisadas e sons de macacões pulsando ecoaram por todo o salão: os soldados de Alexander estavam bem perto de nós.

- Droga! Eles estão mais perto do que eu poderia imaginar! Ressoa Robert, dando em minhas mãos uma submetralhadora e dois cartuchos estendidos. - Caio, isto é tudo que eu posso te dar agora. Por favor tome cuidado e não tome nenhuma atitude precipitada, pois pode ser a sua última. Robert me dá uma submetralhadora israelense e um cartucho estendido, aquela coisa disparava mais de cem tiros por segundo!

- Entendi.

- E Ruth... Robert parou de falar e olhou a mulher de 43 anos como se visse uma visão deslumbrante a sua frente. - Tome isto aqui. Ele a beija, longa e ternamente. 

- R-Robert... 

- Isto é caso eu não encontre mais você neste mundo.

Ruth fica com as bochechas rosadas mais ascendi com a cabeça. Um tiro é disparado e quase acerta nos três.

- estão ali! Ouço uma voz grave e autoritária. Um dos soldados de Alexander estavam apontando para nós, o enorme fuzil mirando em nossas cabeças.

- Vão Caio e Ruth! Agora!

Nós três saímos em disparada aos corredores mais próximos. Eu não tive coragem suficiente de olhar para trás. Mas era algo que eu devia ter feito, pois, eu não sabia, mas aquela seria a última vez que eu veria a face do meu amigo vivo. 


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