Eu e Felipe nos encontramos novamente no estábulo. Meu coração inquietou-se com sua simples presença e me senti boba. Nossos olhares, vez ou outra, se cruzavam tímidos enquanto realizávamos as tarefas restantes. - Bom, quero dizer, tímido da minha parte -. Felipe era um tremendo de um cara de pau!
Terminamos de alimentar os cavalos, vendo Felipe se derreter todo por eles conversando e fazendo carinho em suas crinas como se fossem seu verdadeiro amor, e em seguida fomos alimentar os outros animais da fazenda, o que era uma tarefa deveras cansativa e demorada. Haviam muitos bichos ali. Muitos das quais não sabia nem da existência.
Quando o momento de entrar no chiqueiro de porcos chegou, tive que ouvir sua implicância divertida sobre minhas costas, sem perder o prazeroso costume que ele tinha de me irritar.
— Pronto. Tá aí. Não queria trabalhar com porcos? Agora agarre essa oportunidade, menina!
Ah, que vontade de matá-lo! Depois disso, discutimos umas milhares de vezes, eu reclamando o trato que acabamos de fazer e ele se defendendo, dizendo que não estava violando nosso acordo, que apenas fazia pequenas e inofensivas observações comentando sobre minha pessoa. "Nada de mais", dizendo ele. O sorriso sem vergonha estampado na cara.
Depois de algum tempo, concluímos todas as tarefas, exceto uma. Eu já estava exausta! Sentia meus músculos fadigados de tanto carregar sacos de ração, baldes de água e lavagem de porcos. Eu não pertencia a essa vida de campo. Não-mesmo.
Mal podia esperar pra acabar logo com tudo isso. Além do mais, hoje à noite tinha encontro com os colegas da pousada, assim como havia combinado com minha linda amiguinha egocêntrica Débora.Pra minha alegria, a última tarefa era tão simples que faltei ajoelhar no chão e agradecer a Deus por sua infinita misericórdia. Depois de alimentar porcos e limpar cascos de cavalo, essa tarefa veio pra me aliviar finalmente. Era fácil e por incrível que pareça, agradável. Pela primeira vez no dia!
Eu e Felipe iríamos pintar o celeiro que acabara de ser construído pelos empregados e Seu Marcos hoje mais cedo. Devo bater palmas porque eles eram muito bons no quesito "construção velocidade nível Hard"!
O celeiro não era muito grande, porém, servia para armazenar os sacos que alimentavam os animais, que agora multiplicando a família Rocha com mais boizinhos na nossa fazenda, iriam precisar de muita comida.
Chegando no lugar onde o celeiro foi construído, Felipe suspirou pesadamente, também cansado e se direcionou pra mim com uma expressão esperançosa ao falar:
— E aí? Você sabe pintar? Detesto mexer com tinta. Por favor, diga que sabe.
No mesmo instante, senti uma fagulha brotar em meu velho e bem conhecido espírito maluco de criatividade.
— Claro que sei. Ei, podemos pintar qualquer coisa? Ou... Só unificar a cor pintando o celeiro todo? - fiz a pergunta e percebi que ela foi meio estranha aos ouvidos do caipira.
Ele me olhou confuso.
— Por quê?
— Eu só pensei em fazer algo diferente... — respondi baixinho.
Ele franziu o cenho, pensativo.
— Hum... Sei lá. Pinte o que quiser. O celeiro é do seu avô mesmo. Duvido muito que ele vá reclamar com você.— Ótimo!
Era tudo que eu queria ouvir. Me deparando novamente com o celeiro senti algo extremamente diferente ascender em mim. Analisando a madeira sem cor, com as mãos na cintura, comecei a pensar sobre algo. Não sei se a alegria foi o fato de ter visto tinta e pincéis grossos sendo trazidos por Felipe, ou se foi o fato de ser minha última tarefa do dia.
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Um caipira em minha vida
RomanceHelena Rocha é uma moça sonhadora e apaixonada. Tão apaixonada que decide ela mesma fazer o pedido de casamento a seu namorado, Richard White, um famoso milionário de NY, que a propósito, tem sérios problemas com compromisso. Essa história não poder...