Um dia antes
É muito difícil crer que algo teve um fim. Principalmente quando esse algo era muito importante pra você.
A gente pensa, pensa e pensa um pouco mais tentando se convencer de que é o fim, sem nunca realmente parar para acreditar que acabou. Se perdeu e nunca mais vai voltar.
Era exatamente assim como eu me sentia. Aquela sentimento terrível de perda e culpa. Aquela falta de ar que nunca ia embora. Aquela sensação de estar se sufocando na própria angústia.
Eu perdi tudo. Definitivamente tudo.
Minha mãe se foi. Minha saúde já era. Eu me demiti do meu emprego e perdi a única mulher que já amei.
Eu não sei o quê mais eu aguento perder.
Mas, honestamente? Tudo bem. Está tudo bem pra mim. Porque, na verdade, foi tudo culpa minha. Eu mereço passar por isso.
Eu só preciso suportar.
Limpei o suor frio da testa recolocando com relutância o chapéu na minha cabeça. Ainda não podia esquecer do elogio que recebi de Richard sobre ele. Não podia me esquecer do ar de arrogância e superioridade dele ao olhar pra mim quando fora decididamente até a fazenda para me tirar Helena. Bom... Eu já havia entregado ela de bandeja antes mesmo de tudo aquilo acontecer, mas... Não importa.
Desci as escadarias do casarão pela última vez e não ousei olhar para trás.
Estava na hora. Hora de esquecer. De deixar pra lá. Seguir em frente. Ou pelo menos... Eu tentaria.
Preciso me refazer. Os cacos ainda ferem e machucam, e eu não tenho muita certeza se teria cola o suficiente para concertar.
Então, pra mim chega. Não irei conseguir aguentar mais um minuto aqui. Eram lembranças de mais, acontecimentos de mais, uma vida inteira...
Não dá pra ficar em um lugar quando tudo o que eu vejo nele me faz lembrar dela. Não quando todo canto que eu vou para ter refúgio, seja no campo ou na varanda, no celeiro ou sentado à sombra de uma árvore, eu sinto que um dia sua presença fora quente e palpável ali, e sem querer, o seu perfume me invade a cabeça e enche minhas narinas como se ela realmente estivesse a um passo de distância de mim. Era uma tortura saber que não. Que não iria mais estar.Portanto, não. Assim não ia dá. Não vou conseguir superar desse jeito.
— Adeus, Felipe. Espero que encontre o que procura. — disse Dona Margaret ao pé da escada da varanda segurando a mão de seu marido enquanto me assistia partir.
Olhei por sobre o ombro. Não cessei meus passos. Apenas acenei brevemente com a cabeça e continuei. Apertei os punhos me distanciando cada vez mais do casarão após ter pedido finalmente aos senhores Rocha a minha demissão.
Eles não souberam o que aconteceu entre mim e Helena. Eu não pude contar. Meu pai enlouqueceria e talvez até me deserdaria, mas não fora totalmente por isso. Essa história precisava ser apagada, como se nunca tivesse acontecido. Portanto, eu estava terminantemente proibido de falar sobre ela. Ou pelo menos, era o que tentava fazer.
Então eu parti, com a desculpa de que precisava encontrar o meu caminho. O que, não deixava de ser verdade, uma vez que usara ironicamente o mesmo discurso da última vez em que fui embora.
— Obrigado por tudo senhores, sempre serei grato pelo o que fazem por mim e minha família. Não tenho palavras para agradecer. Mas, eu tenho que ir. Tudo o que eu precisava aprender neste lugar, eu já aprendi. Foram lições valiosas... Carregarei pra sempre. Mas, já não há mais nada aqui que me prenda, então, é hora de seguir o meu próprio caminho.
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Um caipira em minha vida
RomansaHelena Rocha é uma moça sonhadora e apaixonada. Tão apaixonada que decide ela mesma fazer o pedido de casamento a seu namorado, Richard White, um famoso milionário de NY, que a propósito, tem sérios problemas com compromisso. Essa história não poder...