Um caipira em minha vida

Cap 13. Ressacas e intrigas.

Acordei essa manhã baqueada. Acabei de ter um sonho maluco. Sonhei que estava outra vez na Boate, indefesa, onde eu era abruptamente sequestrada por um ser asqueroso e desprezível em forma de homem e, estranhamente, o Cowboy caipira aparecia pra me salvar montado em um cavalo branco todo bem vestido e em pose de herói. A capa vermelha presa em suas vestes voava sem nem ao menos possuir algum vento por ali ou alguma janela aberta, e uma luz áurea brilhava cintilante por detrás dele mostrando toda a sua glória e tão estonteante visão.
Foi tudo como um bom filme daqueles bem cliché de romance medieval que eu costumava assistir. Me vi atriz, totalmente vulnerável nas mãos do ser facínora que me prendeu impiedoso em correntes largas de ferro soldadas no chão, pousando a mão na cabeça dramaticamente pedindo ajuda. Felipe, ouvindo minhas súplicas, bravamente aparece em seu lindo alazão galopando heroico entre a multidão que preenchia o castelo, quer dizer, Boate. Puxa, como sonhos são malucos! Então, Felipe desembainha uma espada e vence o ser horrendo com um rápido golpe, me libertando das correntes e me resgatando. Ele me coloca em seu cavalo cavalgando comigo pra longe envolta em seus braços. Aproveitei para o abraçar ternamente e olhar em seus lindos olhos verdes brilhantes. Felipe, amoroso, então me disse:

— Está a salvo, milade. Não se preocupe. Eu sempre irei te proteger.

Prometeu, mostrado um sorriso sincero. Sua voz suave arrancou de mim suspiros apaixonados. Em agradecimento me preparei para beijá-lo. Quando encostei meus lábios nos dele, fui abruptamente arrancada do sonho com o toque insistente do meu celular me levando a acordar num pulo.

Dor. Fui atingida pela dor. Minha cabeça girou latejante quando abri os olhos me pondo à procura do celular que tocava estridente com o agudo de Christina Aguilera ao cantar "Moulin Rouge" bem na parte em que ela solava:"Voulez-vous coucher avec moi, se soir (oh, oh, ooh)", fez minha cabeça quase estourar com o último agudo.

Ressaca. Ressaca maldita! Atordoada, consegui sentir o celular com a ponta dos dedos em baixo do travesseiro e rapidamente o desliguei.

Uff.

O silêncio se fez presente outra vez. Deixei a cabeça dolorosa cair pesada no travesseiro. Não estava nem um pouco afim de levantar. Estava sem disposição nenhuma para hoje. Queria ficar na cama o resto do dia inteiro se possível. Sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim e ao me lembrar da noite passada, confirmei o quanto eu fui uma idiota por ter bebido tanto. Com certeza eu me excedi, e agora estava sentindo os efeitos dolorosos da consequência. Ah, que lesada! Eu poderia ter deixado de... Ei. Espera aí um minuto.
Interrompi o pensamento pela metade quando dei por mim de um detalhe. Ergui o rosto num impulso olhando em volta do meu quarto confusa. Pensei: "Mas, como eu vim parar aqui?".

Frenética, remexi em minha lembranças de ontem à noite tentando descobrir o que tinha acontecido comigo e quando foi que voltei pra casa. Constatei no fim de tudo isso uma triste realidade. Eu não fazia a menor ideia.

A última coisa da qual eu me lembro foi de ter conversado com Felipe minutos depois da briga em que ele se meteu por minha causa. Lembro dele ter me arrastado pelos braços pra um canto na Boate e nos sentado em uma mesa sozinhos bem escondidos ao lado do bar. Lembro de vê-lo com um feio roxo no rosto onde tentei o amenizar com uma bolsa de gelo improvisada.

Eu fui a culpada.

Eu o fiz passar por isso. Se não tivesse fugido, nada daquilo teria acontecido. E então, depois disso, eu não me lembro de mais nada. Só de uns borrões sem sentido na minha memória falha.
Meu Deus, o que foi que aconteceu ontem à noite? Como eu vim parar aqui? Será que peguei o carro e dirigi totalmente bêbada de lá pra cá? Será que fiz mais alguma besteira da qual tenho certeza de que vou me arrepender pro resto da vida? Céus... Nunca mais eu irei beber de novo. Álcool e Helena são duas combinações que já vimos que não dão nada certo.