CAP 4. Fazenda Boa Esperança.

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Já fazia algum tempo que estava na estrada a caminho da pousada de meus avós.

Depois de longas horas de voou, finalmente havia pousado no aeroporto Regional de Dourados e estava em um táxi ansiosa para vê-los. Tentava não pensar na neta desnaturada que eu deveria ser ficando sem lhes visitar por tanto tempo. Nas minhas contas, davam 10 anos. Puxa.. Como será que vão me receber?

Enquanto olhava pela janela do carro, via o setor de hotelarias e pousadas próximas aos sítios e fazendas onde meus avós tinham um pedaço de terra e moravam nela desde que eu me entendia por gente. E eu finalmente estava ali, voltando para aquela cidadezinha que me fazia ter uma enxurrada de sentimentos nostálgicos.

Lembro que todos os meses do ano em minhas férias de julho e dezembro eu vinha para cá com meus pais. Era o ponto de encontro de toda a nossa pequena, mas boa família. Brincava e me divertia a beça correndo na varanda com Débora, a filha do capataz de vovô Otávio, observando os cavalos no celeiro, nadando no riacho até os dedos enrugarem, e também, aproveitava para comer as rosas do jardim da minha vó deixando-a uma fera.

Eu e o taxista já podíamos ver a fachada da pousada do meu avô. "Balanço da Maré", era o que se lia no grande letreiro que dava entrada ao estabelecimento. Sua grande estrutura era embalada por salgueiros, o que deixava a entrada da pousada ainda mais calorosa, nostálgica e convidativa. Ela estava exatamente como eu me lembrava.

O taxista em fim parou em frente a pousada e eu finalmente pude descer e esticar as pernas.

Abri o porta malas e comecei a pegar o que era meu. Estava ansiosa. O coração batia na boca. Minhas mãos tremiam quando segurei a alça da mala me perguntando quem vovô tinha mandado me buscar para levar-me à fazenda, quando de repente escutei gritos histéricos vindos de dentro da pousada.
Logo, uma mulher apareceu abrindo as portas de vidro da recepção e saindo de lá correndo em minha direção balançando os bracinhos.

— Amigaaaaa! Eu não acredito! Você chegou! — correu até mim com os braços abertos, o cabelo loiro balançando. Seu sorriso era largo, os olhos claros e brilhantes. Não foi preciso muito para eu reconhecê-la. Aquele sorriso e a atitude impetuosa a denunciaram assim que a vi chegar.

— Debi? Debi é você? — perguntei chocada estreitando os olhos quando ela se aproximou.

— É lógico que sou eu! Não tem como confundir esse lindo rostinho que você tá vendo agora! Oi amiga, há quanto tempo! — ela me abraçou forte. Eu não podia acreditar. Estava tão contente.

— Aí meu Deus, Debi, eu não te vejo desde... Desde os 12 anos? Uau! Você está linda! — a abracei mais fazendo um showzinho histérico de gritos junto com ela.

— Meu Deus, Helena! Deixa eu olhar pra você. Uau! Como você está diferente! Até que em fim ficou bonita. Olha, você arrumou os dentes tortos! Caramba, ficou linda! — Debi me olhou de cima a baixo com o queixo caído. Sorri sem jeito. Não sabia se isso era realmente um elogio.

— Ahn... Obrigada. Eu... Acabei usando aparelho. Mas, puxa! Você também está maravilhosa! Sempre foi muito bonita, mas agora está ainda mais. E esse cabelo...

— Ah, para, eu sei! Não é incrível nos vermos depois de tanto tempo? Nossa, tenho tanta coisa pra te contar. Preciso te atualizar de tudo o que aconteceu nesses últimos 10 anos. Mas, primeiro, quero que veja isso. — ela então colocou os ombros para trás e empinou os seios fazendo uma cara de sedução.

— Ahn... — Fiquei perdida. O que exatamente eu deveria estar vendo ali?

— Anda, adivinha, adivinha! — ela trocou de perna fazendo uma pose de modelo e biquinho. Fiz cara de paisagem.

Um caipira em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora