Cap 41. Nosso caminho.

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A vida é cheia de caminhos tortos. Ribanceiras. Encruzilhadas. Tudo feito para complicar ainda mais a sua jornada.

Jamais se imagina aonde vai parar. O que vai encontrar durante sua viagem épica de vida.

Não há como se preparar para os imprevistos. Chega a ser difícil até de explicar como é que caímos e tropeçamos em tantos buracos ao longo do caminho. Não fomos preparados para nada disso. Ninguém espera pelo inesperado. Ninguém.

E agora eu estou aqui. No lugar mais improvável que pensei estar um dia; num hospital. Mais precisamente, na sala de espera que é, definitivamente, o pior lugar da terra para mim. Fui deixada aqui de molho, aflita, nervosa, impaciente, à espera de uma simples informação sobre o homem que eu amava operando numa sala de cirurgia.

Quem diria não é mesmo? Olha só pra onde meu caminho me levou.

Quem diria que aquele rapaz que eu conheci há um mês atrás por quem me apaixonei, aquele cara perfeitamente saudável, dono de um sorriso sínico arrepiante, um Cawboy caipira assumido que me despertou tantos sentimentos diferentes, dono de um olhar intenso e da risada mais envolvente que já ouvi, iria estar simplesmente... Aqui. 

Ironias do destino. Ironias da vida. Ironias do universo a se divertir ás minhas custas. Me prega peças para provar constantemente que o amor na verdade não era pra mim.

"Ele tem que ser mais difícil para Helena", diz o infortúnio a me perseguir. "Se não, não vai ter a menor graça!"

Haha. É realmente, se não for assim não tem a menor graça... Estar a um fio de perder quem se ama realmente é algo muito mais emocionante.

Caí com a cabeça para frente que parecia pesar mil quilos aparando-a com as palmas da mão escondendo todo o rosto. Sentada num sofá grande de frente para a única janela grande do hospital, eu pudia ouvir as gotas fortes de chuva bateram sobre o vidro e assistir o show das gotas intermitentes escorrerem sobre ele. O céu era cinza. O tempo lá fora tempestuoso, como meu interior.

Ao meu lado, à dois espaços do sofá, Débora dormia acolhida nos braços de Dário que, carinhosamente, passava as mãos em seu cabelo e as vezes descia os dedos para sua barriga. Ele a envolveu com um casaco que cobriu suas pernas e lhe abraçava mais forte a cada murmúrio ou movimento dela.
Apesar da angustia pairando sobre todos nós, Dário encontrou algo em que se agarrar. Encarar a barriga da noiva era sua corda de salvação. Era o único momento em que ele sorria. De canto de olho, eu pudia pegar esse raro momento em que ele se permitia sonhar com o filho que esperava tão ansiosamente. Era o seu acalento, seu momento de paz em meio a tanto drama e notícias ruins.

Senti uma pontadinha de inveja. Eu queria poder ter algo que me acalmasse assim como ele. Mas, no momento, não tenho nada em que me segurar.

Saindo de um elevador cheio de médicos, alguém cujas as roupas não combinavam em nada com o branco impecável de tantos jalecos e o destacavam ali naquele meio, o pai de Felipe caminhou até nós com um semblante fechado segurando um copo descartável de café. Eu tão logo endireitei minha coluna e esperei que se aproximasse.

Fazia algum tempo que ele não falava comigo. Na verdade, acredito que não me dirigia a palavra desde o incidente com o cavalo que me jogou no chão. Se não fosse por Felipe ao me aparar da queda nem sei o que teria sido de mim. Talvez eu estaria numa sala deste hospital ao invés de... Em fim. Deixa pra lá.
A verdade é que a presença daquele homem me deixava nervosa. De todo o jeito eu buscava lhe agradar fazendo de tudo para que ele se sentisse bem ao meu lado. Porém, o efeito parecia o contrário. Raramente eu conseguia. Ele era fechado, duro como pedra. E para decifrar seus intensos olhos tão iguais aos do filho, levava algum tempo. Um bom tempo.

Um caipira em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora