Cap 23. Visitas inesperadas.

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Eu, com certeza, andava mais feliz.

A empolgação de começar cada dia era evidente em meu rosto quando o meu pensamento insistia em puxar a lembrança de Felipe. De que iria me encontrar com ele logo mais na fazenda.

Por mais que eu tentasse negar e controlar esse meu ímpeto de ir correndo lhe ver e lhe abraçar, eu não conseguia. Ficava cada vez mais difícil disfarçar na frente dos outros o quanto eu queria segurar sua mão e me sentir segura, mas continuávamos em meio a eles como se nada estivesse acontecendo. Era complicado, porém, confesso que eu gostava disso. Adorava a excitação em meus ossos, aquele sentimento fervilhante de fazer algo ás escondidas quando nos encontrávamos na estrebaria de Círius, o cavalo, para finalmente ficarmos a sós e nos beijar.

Eu parecia uma adolescente louca e inconsequente, escapulindo do casarão, dando desculpas esfarrapadas a vovó Margaret e correndo a espreita das árvores para me encontrar com ele no estábulo no fim do dia. Aquele era o nosso ponto de encontro, e aparentemente, Círius não se incomodava desde que Felipe lhe desse gordas maças em troca do aluguel de seu cantinho deixando ele bem tranquilo e quieto.

Mas hoje, foi quase impossível controlar a vontade de estar ao seu lado.

Era manhã e nós continuávamos a fazer as tarefas da fazenda. Apesar dele não deixar de ser um Cowboy insuportável e implicante a maior parte do tempo, eu simplesmente não conseguia ficar longe dele e sorrir por suas palhaçadas.

Estávamos sozinhos levando blocos enormes e pesados de feno para dentro dos estábulos e eu tinha que confessar: estava ficando boa nesse negócio de fazendeira. Mesmo suando copiosamente e forçando meus poucos músculos ao máximo, eu carregava os pesados blocos para dentro sem reclamar e alimentava com carinho meus novos amigos. Quem diria não é mesmo? A princesinha do campo como me chamava Felipe, com suas delicadas sapatilhas de balé sempre trabalhada na arrogância do inicio ao fim, estava agora mesmo mordendo a linguá enquanto se sujava e melecava a cara enchendo as botas de lama.

É. O mundo dá muitas voltas.

Ou então... Foi só a culpa de um Cowboy caipira que decidiu entrar na minha vida e pois tudo de cabeça pra baixo.

A ultima opção parece ser bem mais razoável.

E falando nele, Felipe fez questão de me apresentar cada cavalo quando entramos no celeiro, dizendo seus nomes e o porque de cada um, alegando que combinavam perfeitamente com sua personalidade.

Ele começou a me apresentá-los devidamente um por um e eu comecei a sorrir e acenar para os cavalos como se fosse a primeira vez que os visse. Havia Círius, é claro, seu cavalo mais amado e o mais temperamental (embora, agora ele esteja se comportando bem. Vai entender?), Arco-Íris; a única fêmea da "gangue", que era dócil de pelo na cor de areia e incríveis olhos claros como um caleidoscópio multicolorido.
Havia Elvis, um alazão lindo na cor preta que, lindamente relinchava o tempo todo quando estava na presença de humanos, quase como se estivesse gargalhando de uma piada interna ou então cantando "Jailhouse Rock", ou algo assim. Devo dizer que era muito engraçado estar perto dele. Eu o adorava!
Havia também o Franja, um alazão de estatura mais baixa que os demais, pelo manchado de branco e preto, dotado de longas e invejáveis crinas pretas tampando chamosamente os seus olhos. Contive a vontade louca que me deu de ir até ele e lhe fazer algumas trancinhas. - Talvez ele não gostasse muito de penteados a julgar pelo seu estilo despojado e jogadão. Então, fiquei quieta na minha -.

E por ultimo, o mais novo membro da família, filho de Arco-Íris e Círius, a Catara. Uma potranca linda de pelo cor de areia, com manchas brancas e crinas sedosas, também portadora de um temperamento quase catastrófico já que se irritava fácil quando ficava longe da mãe e tentava derrubar a porta de sua estrabaria com os cascos pequenos. Fiquei pensando como uma criatura tão nova poderia ser tão temperamental. Bom, os genes de sua descendência eram bem evidentes. E graças a Deus, ela nunca conseguiu realizar essa façanha. Se não, eu e Felipe teríamos que pregar a porta de novo no lugar, e eu definitivamente não queria ter que fazer isso. Mais trabalhos resultariam em mais canseira. Então, não. Por favor Catara, comporte-se bem com a titia!

Um caipira em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora