CAP 38. Aceito.

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Jamais imaginei que minha vida chegaria a esses extremos. Sabe, onde nunca há um meio termo. Permanece no amar de mais ou sofrer de mais. Nós nunca vamos ter certeza se amamos na mesma intensidade que o outro. Apostamos tudo, amamos ás cegas e acreditamos que será o suficiente. Mas, quase nunca é.
Como podemos ter certeza? Como saber se não seremos enganados no fim? Como duvidar de quem mais confiamos e entregamos nossa vida?

Não sei. Só se que estou cansada de ser enganada.

Pensei enquanto voltava pro casarão com as lágrimas já secas no rosto. Eu não queria estar chorando quando voltasse. Não queria que se preocupassem. Mas, me sinto tão destruída por dentro, como não iriam perceber? Puxei fundo o ar para dentro dos pulmões e me convenci a continuar. Eu precisava voltar. Precisava manter o mínimo de dignidade quando encontrasse meus avós depois de terem me acolhido por dias para em fim dizer-lhes que eu estava indo embora daquele fazenda para sempre. Não conseguia me esquecer da voz rude e a expressão severa de Felipe. Não conseguia mais pisar no mesmo chão que ele sabendo agora do seu verdadeiro caráter. Simplesmente, não dá mais pra ficar aqui.

A dor de suas palavras ainda latejavam em minha mente e meu coração.

Me abriguei a não pensar, e quando cheguei a varanda do casarão, meus olhos antes tão distantes e marejados, se detiveram com espanto na figura de um carro conversível estacionado no gramado. Meu peito doeu com a batida saltada e desenfreada. Era um carro conhecido. Me lembro muito bem que ajudei a escolhe-lo.

Perdi a respiração por um minuto. Mas, o quê...?

Corri até a varanda subindo depressa as escadas. Minha mente repetia sem parar: Não pode ser. Não pode ser. Ao abrir a porta do casarão, todos as minhas dúvidas e medos caíram por terra quando eu finalmente dei de cara com o meu antigo fantasma.

— Richard?

— Olá, meu amor. — ele disse alargando o sorriso no rosto feliz ao me ver. Se levantou do sofá que compartilhava com meu papai e os meus avós na sala.

Minha cabeça girava. Só poderia ser um sonho.

— Mas o que...?

Richard deu um passo em minha direção, mas fora interrompido por vovô que se pronunciou primeiro.

— Querida, seu namorado é um rapaz muito simpático! Bom, eu não entendo uma palavra do que ele diz, mas... Ah! Por que não nos apresentou antes? Parece ser um rapaz rico e poderoso. Gostei dele! — disse vovô Otávio sorrindo feliz ao saber que a neta escolhera tão bem. Vovó Margaret deu-lhe um tapa na nuca fazendo-o se recolher.

— O que faz aqui? — perguntei a Richard num sussurro ignorando meus avós. Estava tão chocada que ainda agarrava com força a maçaneta da porta. As pernas estavam como duas massas de concreto duras e pesadas no chão.

Richard caminhou até mim. Tentei não estremecer com sua aproximação, mas fora em vão. Seus olhos azuis carinhosos me fitavam fazendo-me lembrar do quanto eu fora apaixonada por eles. Ele parou na minha frente e enlaçou minha cintura. Sua mão deslizou por sob a minha que apertava com força a maçaneta e a trouxe delicadamente para seu peito. Ele abriu um sorriso sem dentes.

— Eu vim aqui para te ter de volta. — respondeu soltando a minha mão sobre seu peito e tocando de leve o meu rosto com a ponta dos dedos quentes. — E pra que me perdoe pelo homem que fui. Aquele que não merecia ter uma mulher tão incrível, doce e maravilhosa como você. Aquele mesmo homem que não te valorizou, que não priorizou suas vontades, o nosso tempo juntos e o amor que me dera. Estava tão ocupado em resolver meus próprios problemas que me esqueci dos seus. Eu fui um babaca, Helena. Me perdoe. Te feri, te machuquei, e continuo sem te merecer. Mas, eu acredito em segundas chances, no arrependimento sincero e no quanto alguém pode mudar por outra pessoa. E eu estou aqui por isso. Estou aqui pra te pedir uma chance. Uma chance de recomeçarmos nossa vida juntos, de fazer tudo diferente, e uma chance de te mostrar o quanto eu mudei por você. Eu te amo Helena, e não quero passar mais um segundo sem estar ao seu lado. Por favor, nunca mais vá embora. Nunca mais me deixe daquela maneira. Eu errei uma vez quando disse que não estava pronto. Não vou errar outra vez.

Um caipira em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora