CAP 28. Sob as estrelas.

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Em todo o trajeto de volta pra casa, ficamos calados, emburrados um com o outro dentro da caminhonete. Eu mais do que Felipe.

Ele tinha conseguido estragar o nosso momento romântico! Por quê teve que tocar nesse assunto? Conseguiu me deixar de mal humor de uma maneira que nem eu estava me entendendo direito. A verdade, e que fez-me sentir extremamente irritada por ter feito essa conversa tão dolorosa vir à tona. Inevitavelmente, como uma válvula de escape, não consegui controlar os meus sentimentos e me senti exposta. E então, como resposta, ergui o muro que cercava meu coração, protegendo-me do que quer se seja. Aquela pequena abertura que deixei para que Felipe entrasse pouco a pouco ganhando espaço dentro do meu coração, agora estava abalada, sendo novamente recolocada pedras de medo e desconfiança. Estava tudo tão bom... Até ele fazer-me lembrar.

Insistir para que eu voltasse a pintar fora algo difícil de se ouvir. Mencionar o Ateliê foi ainda pior.

Eram assuntos que me perseguiam, talvez a vida toda, sendo tão dolorosos que não soube agir de outra forma se não gritar para que ele parasse. Suspirei, tentando dissipar a tensão que se acumulava em meus ombros.

Tá certo que Felipe não tinha entendido nada, mas precisava ter sido um chato irritante e insistente esse tempo todo? Nosso primeiro encontro, a primeira vez que conseguíamos ficar sozinhos depois de todas aquelas semanas, tinha ido por água abaixo.

Ele dirigia chateado com minha atitude sobre o volante, mordendo o lábio inferior nervosamente, talvez se segurando para não falar o que quer que estivesse se passando por sua cabecinha dura. Vez ou outra, Felipe me lançava alguns olhares demorados, esperando o momento em que eu finalmente lhe dirigisse a palavra. Porém, isso não aconteceu. Estava com raiva de mais, constrangida de mais para falar qualquer coisa. Não saberia o que dizer nem se eu tentasse. Era um sentimento desconfortante.

Eu queria que ele soubesse que eu estava chateada. Então, virei a cara, cruzei os braços e fitei a paisagem escurecida da cidade pela janela, completamente emburrada. Até que Felipe não conseguiu mais se manter calmo por muito tempo, e logo balançou a cabeça, aborrecido, e começou a falar:

- Você é inacreditável... Por quê é tão complicado te entender? - murmurou entre dentes sem olhar pra mim.

- Eu não quero falar sobre isso, Cowboy. - respondi, evasiva, fitando a paisagem pela janela sem realmente vê-la.

- Mas, eu quero falar sobre isso! - insistiu, um pouco exaltado. - Você me deve uma explicação.

- Não te devo nada. - retruquei, irritada.

- Ah deve. E deve muitas! Como... Por quê... - Ele se embananou nas próprias palavras por conta do nervosismo característico. Logo, respirou fundo e conseguiu se recompor: - Por quê gritou comigo daquele jeito? Não bastava ter me dado um toque pra que eu parasse de falar antes de você surtar e gritar no meio da lanchonete?

Meu rosto se contorceu pela raiva. Olhei pra ele incisiva: - Eu tentei. Mas, achei que não precisasse disso já que é Expert em decifrar pessoas. Além do mais, estava muito ocupado insistindo com suas ideias bobas.

- O quê? - ele indignou-se arregalando os olhos, incrédulo. -Ideias bobas? Eu estava apoiando você, Helena! Mas que droga! Será que não entende isso? Será que é tão difícil fazer você entender que eu só quis te apoiar?

- Pare de tentar me fazer sentir culpada! - gritei.

- Você é culpada por ter estragado o nosso encontro! - ele revidou, exaltado.

- Chega! Eu não quero mais falar com você! - explodi, levando as mãos ao alto.

- Ótimo! Nem eu. -Determinou, em igual intensidade.

Um caipira em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora