CAP 34. Concerto?

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Oi. Achei você.

Disse ao me aproximar por detrás dele lhe surpreendendo. Ele olhou confuso em minha direção meio assustado com a chegada repentina. Perguntei-lhe, tirando uma mecha de cabelo do rosto, um tanto acanhada:— O que está fazendo aqui tão escondido, Cowboy?

Ele me encarou por um minuto olhando para o lado escuro da mata por onde aparentemente eu havia surgido, e sorriu, achando graça por ser a única a descobrir seu esconderijo secreto. Deu-me um sorriso de lado e respondeu por fim:

— Só... Pensando um pouco.

— Hum. Interessante. — dei mais outro passo. —Posso pensar com você?

Seus sorriso lindo alargou-se.

— É claro que pode.— respondeu.

Sentei-me ao seu lado no gramado. Meus pés penderam no ar ao ficar sobre o deslize de terra que seguia abaixo até alcançar o rio. Era um bom lugar para se ver o lua no céu limpo, juntamente com os poucos fogos que ainda queimavam sobre a cidade.
Imaginei a praça de Dourados cheia de pessoas, comemorando, se abraçando, todos juntos felizes pela chegada do novo ano. Aquele sentimento gostoso de esperança se renovando no ar, os sorrisos entre amigos... Pensar sobre isso me levou a outro lugar. Como será que está minha família agora?

Só percebi os olhos de Felipe fixos em mim quando olhei para ele libertando-me dos devaneios.

— Como me achou?— perguntou curioso, levantando de leve a sobrancelha indagadora como já era de costume. Dei de ombros.

— Não foi tão difícil. Quer sanduíches? — respondi evasiva, escondendo o fato de ter literalmente despencado sobre o seu acampamento sem querer. 

Ele olhou para o embrulho em minha mão, ponderou por um segundo, e aceitou.

— Pensei que ficaria vendo os fogos na pedreira. — comentou, enquanto desembrulhava o lanche e dava uma mordida.

— Até ficaria, mas, Pam começou a chorar, Débora também e, bom... Prefiro ficar aqui com você ao invés daquelas choronas. — confessei, fazendo seu rosto se iluminar de uma forma linda e espontânea. Abracei os joelhos, sorrindo com timidez.

Felipe se remexeu em seu lugar, embrulhou o sanduíche de volta e o pousou em seu colo. Tirando o chapéu da cabeça, alisou as bordas do tecido grosso na aba com o olhar distante, pensativo.

— Você gostou da música? — perguntou cauteloso de repente. 

Meu interior se aqueceu ao lembrar-me da canção.

— Sim, adorei.— respondi. —A propósito... 

Segurei seu rosto vencendo a distância que havia entre nós e colei minha boca na sua. Ele ficou surpreso com o gesto inesperado, mas não recuou. Me envolveu a cintura enquanto retribuía o toque com o mesmo carinho. Pude ouvir sua risada espontânea escapulir entre nossos beijos e o mundo pareceu se iluminar de uma forma diferente.

Ele segurou meu queixo e me afastou.

— Entendeu o que eu quis dizer?— perguntou numa voz enrouquecida.

— Que eu sou tudo pra você? É. Eu entendi sim. — corei no mesmo instante. Felipe sorriu, tímido.

— Não é só isso.

— O que mais então?

Pude ver sua mente misteriosa trabalhando, pensando em como diria aquilo a mim. Com o tempo, fiquei boa em colher alguns traços seus, manias das quais ele tinha toda vez que ficava calado e pensativo. Ele mordia os lábios quando estava nervoso. E era exatamente o que fazia agora.

Um caipira em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora