Eu entrei no carro e disparei vários xingamentos e frases sem muito sentido.
- Calma, Alex – eu ouvia em meio a todas as palavras que iam se perdendo na minha cabeça.
Estava muito bêbada para captar tudo que acontecia. Principalmente com o balançar do carro, que fazia todas as caipirinhas quererem voltar.
Chegamos na sua casa e agarrei-me nela quando senti o chão girar. Ela me direcionou até o sofá.
- O que houve, Alex? Quer me contar?
Eu fui tentando organizar melhor as palavras arrastadas, dizendo o porquê de eu ter ligado àquela hora da madrugada.
- Caramba! – ela deixou soltar, mas viu meu desespero e tentou controlar as palavras.
- Eu sou uma estúpida – repetia. – Merda! – gritei alto.
- Vai ficar tudo bem – ela disse sem muita segurança.
Percebi que ela tentava amenizar a situação, dizendo um monte de palavras de conforto, mas sua expressão de receio não me confortava nem um pouco.
- O que houve, Alex? – ela repetiu.
- Eu acabei de contar – falei, tonta.
- Não agora. O que houve para você estar assim? – perguntou, referindo-se ao fato de eu estar absurdamente bêbada.
- Eu sou assim. – Pensei um pouco. – Eu era assim. – Pensei melhor. – Eu não sei! Não sei mais quem eu sou...
- E você achou que se encontraria numa garrafa de cachaça? – ela perguntou, dura.
Fiquei um tempo em silêncio pensando no que estava acontecendo. Minha vida tinha dado uma virada de cabeça para cima, e eu, que sempre havia andado de cabeça para baixo, ainda não havia me acostumado com tanto ar.
Respirei fundo e então pensei "meu Deus, e agora?". Sabia que nada mais seria a mesma coisa e que agora dependia de mim. Sempre havia dependido de mim.
- Quão ruim é essa burrada para ela? – perguntei com receio.
Ela não precisou me responder. Suas feições denunciaram e meu desespero aumentou.
- Me diz, Laura! – eu implorei, já chorando desesperadamente.
- Digamos que ela tem um certo trauma.
Foi tudo que foi preciso para que eu sentisse uma vontade incontrolável de vomitar. Corri para o banheiro da maneira que podia, mas não deu certo. Eu estava sem equilíbrio e acabei vomitando na sala mesmo.
- Desculpa – eu falei sem graça, chorando mais.
- Relaxa, Alex... Não tem problema... - ela repetia calma, tentando cuidar de mim.
- Eu sou uma burra! Só faço besteira! – falei. – Deixa eu limpar.
Tentei andar, mas ela me segurou.
Eduardo apareceu na sala e me levou de volta para o sofá, falando comigo.
- Irmã, relaxa, nós cuidamos de você, está bem? Laurinha vai ficar aqui com você e eu vou limpar, não se preocupa!
Repeti algumas dúzias de "desculpa", mas meu desespero estava em outro lugar. Eu continuei chorando enquanto Laura me abraçava e falava palavras de conforto, que finalmente me confortaram. Tive vontade de fugir, correr, gritar, mas as palavras de Laura me acalmaram bastante, pois ela me lembrou de quem eu realmente era e como eu precisava enfrentar de uma vez por todas os meus medos.
Depois de alguns cafés e muita água, o efeito da bebedeira, apesar de ainda forte, já havia diminuído e eu pensava com mais clareza. Clareza suficiente para saber que não erraria mais. Que era hora de me jogar de verdade. Havia sido imatura e irresponsável, mas, no meio de todo o desespero, eu percebi uma grande verdade: eu já havia crescido. Eu já havia mudado! Percebi que o que eu temia já tinha acontecido.
- Eu já mudei – repeti em voz alta.
- Não, Alex, você só se encontrou – Laura disse.
Era verdade. Todo o meu medo foi se dissipando ao reparar o quão natural o processo havia sido e o quanto eu havia tentado retardar algo por puro medo. Um medo sem sentido. Mas agora eu não tinha mais medo. Eu finalmente havia entendido tudo. Eu finalmente havia internalizado tudo. E compreendi que, por mais que minha burrada tivesse sido ruim, sem ela talvez eu tivesse demorado muito para lidar com todo o medo que, naquele momento, havia se dissipado, como mágica.
- Alex, eu não queria te dizer antes porque você estava muito desesperada, mas, além da situação, tem outra coisa: você escolheu um dia bem ruim para fazer isso. Preciso que você fique calma e acredite que tudo acontece por uma razão.
- O que foi? – perguntei, tentando manter a calma, mas, ao ouvir sua resposta, me deixei cair no sofá, desolada.
- Eu sou uma estúpida – repeti baixinho.
- Não, Alex. Você só agiu como uma, mas aproveita o tropeço para levantar e andar olhando para frente. Não deixa isso te abalar.
E, nesse momento, por mais culpada que me sentisse, eu decidi que era hora de crescer e encarar a vida.
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Apesar de ser lua cheia
RomanceAlexandra tem vinte e três anos e não gosta de responsabilidades. Tudo o que ela quer é continuar vivendo de bares, festas, boates, bebidas e mulheres. Tentando adiar sua formatura em Letras e o dia em que terá de começar a trabalhar, Alex decide fa...