Quando cheguei em casa, fui procurar o tal cara Pestalozzi no Wikipédia para ver quem ele era, como ela havia dito para eu fazer. Descobri que ele havia sido um pedagogo que viveu entre os anos 1746 e 1827. Ele era cristão, mas não defendia nenhuma religião. Tinha vários trabalhos publicados onde expunha o seu método. Falava bastante em desenvolvimento com três estados: natural, social e moral. Fiquei lendo e lembrando a conversa com Clara, que parecia entender muito bem sobre tudo que falava.
Não quis sair de novo naquela noite. Admito que ainda estava um pouco tonta com aquela conversa que me fez pensar coisas antes nunca pensadas. "Alex, você acredita em Deus?". Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Minha mãe era um pouco católica e me lembro de ela ter repetido algumas vezes "isso não é de Deus!" para o fato de eu ser lésbica. Será que a Clara pensava a mesma coisa? Até o momento, não sabia sobre sua sexualidade apesar de pressentir que ela também era gay. Aliás, não sei se pressentia ou se desejava que fosse.
Assim que meus amigos saíram e eu fiquei só em casa, peguei o celular e liguei para a Clara.
- Alô – ela atendeu, pois não sabia o meu número ainda.
- Oi, Clara. É a Alex.
- Oi, Alex! Tudo bem? – disse, simpática.
- Tudo sim. E com você?
- Tudo ótimo!
- Liguei para combinarmos um dia para conversarmos sobre o trabalho.
- Ah, sim... Como está seu dia amanhã? Eu posso sair da escola por volta das quatro.
- Essa hora está ótima! Onde nos encontramos?
Pensei em convidá-la para ir lá em casa, mas o apartamento ainda estava bem bagunçado por conta da social de sexta.
- Pode ser lá em casa se estiver tudo bem para você – ela disse.
- Está sim, claro!
Ela falou seu endereço e vi que morava em um bairro um pouco mais distante que o meu e que eu não conhecia muito bem. Na verdade, só conhecia bem os arredores de onde eu morava. Nem perto do apartamento dos meus pais eu conhecia tão bem. E a casa dela era mais próxima deles. Ela explicou como chegava e disse que, se ficasse com dúvida, era só ligar durante o caminho. Marcamos para as quatro e meia e então nos despedimos.
Fiquei o resto da noite assistindo televisão até o sono bater e eu ir para a cama. Paloma e Lucas ainda nem haviam chegado.
...
- Atrasada de novo? – perguntou Felipe quando me sentei ao seu lado na aula. – Noitada ontem? – brincou.
- Nem saí ontem... Foi pura preguiça mesmo – disse e rimos baixinho.
Quando saímos da aula, Paloma estava chegando ao café, onde a encontramos.
- Perdeu ontem, Alex! Tinha tanta mulher bonita que meu lado bi até aflorou – falou, rindo.
- Sério? – falei, um pouco decepcionada por não ter ido, mas até que não me arrependi ao pensar que, com certeza, nenhuma delas era tão bela e intrigante como a Clara.
Paloma nos contou de suas aventuras bissexuais da noite anterior e nós três ríamos com o seu jeito falastrão e até meio hétero ao falar das mulheres.
- Ela passava mais a mão que o carinha que fiquei lá na boate sábado!
Acabamos perdendo a aula seguinte e ficamos ali, conversando e bebendo café. Chegou a hora do almoço e comemos um crepe mesmo, com preguiça de ir até algum restaurante do campus.
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Apesar de ser lua cheia
RomanceAlexandra tem vinte e três anos e não gosta de responsabilidades. Tudo o que ela quer é continuar vivendo de bares, festas, boates, bebidas e mulheres. Tentando adiar sua formatura em Letras e o dia em que terá de começar a trabalhar, Alex decide fa...