Capítulo 1 - Tirar a calma pode ser trazer a paz

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Nem o fato dos meus olhos estarem quase fechando de sono por conta da noite mal dormida e nem a leve ressaca que eu sentia conseguiram me impedir de enxergar aquela mulher que passava diante de mim, sorridente e tranquila. Por algum motivo, imaginei que aquela cena tiraria a minha calma, e só de pensar me senti desconfortável na cadeira em que havia acabado de sentar para degustar uma Coca-Cola que me fizesse despertar um pouco para a próxima aula, para a qual estava terrivelmente atrasada. Acabou que a visão dela despertou-me bem mais que o líquido preto e gasoso em minhas mãos e acompanhei com o olhar o seu caminhar calmo.

Chovia, mas ela parecia não se importar. Enquanto todas as outras pessoas tinham guarda-chuvas ou corriam para não se molhar com as gotas pequenas que caíam, ela parecia estar gostando. Não abaixava a cabeça nem parecia querer fugir do chuvisco. Ela mantinha uma feição serena e sorridente diante daquele dia feio e chuvoso e eu olhava para uma mulher que parecia ter luz própria.

Acabou chegando ao prédio coberto e saindo da chuva enquanto eu continuava olhando fixamente o seu caminhar ainda calmo até as escadas, imaginando que ela também estaria atrasada já que todas as aulas da faculdade aconteciam na mesma hora. Não me deixei levar pelos pensamentos e rapidamente levantei-me com minha Coca-Cola e fui subindo a escada, observando-a. Vi quando entrou numa sala no primeiro andar.

Olhei na porta o código da matéria para então descobrir que era uma aula de Pedagogia. Dei uma leve olhada pela janela da porta e a vi sentar-se antes de me lembrar do meu atraso e correr para o andar onde teria aula do curso de Letras.

Entrei na sala de Aquisição da Linguagem e sentei-me ao lado de Felipe, que já escrevia no caderno algumas das coisas que a professora falava. Por mais que essa matéria fosse um pouco complicada por se tratar de Linguística, não quis prestar muita atenção no que acontecia.

- Você perdeu um monte de coisa, Alex! A prova dela é na semana que vem, esqueceu? – ele perguntou-me, reprovando a cara de sono.

- Calma... Foi só um atrasinho... - disse, sem dar muita importância ao que acontecia.

Lembrei-me da menina-da-chuva e me perguntei se teríamos outra coisa em comum além do fato de nos atrasarmos para aulas chatas. "Fazer uma matéria com ela não seria nada chato", peguei-me pensando enquanto lembrava que, naquele semestre, faria uma aula de educação.

Apesar de estar perto de terminar a faculdade de Letras em Bacharelado, havia começado a cogitar a possibilidade de fazer também a habilitação de Licenciatura, o que faria com que eu ganhasse mais alguns semestres dentro da universidade. Por esse motivo, havia pegado uma matéria de educação, apesar de não gostar nadinha da ideia de dar aulas. Bastava que eu as assistisse – ou não. Ser professora realmente não se encaixava nos meus planos. O que eu queria mesmo era continuar estudando eternamente e fazendo pesquisa, mas como meus pais iriam parar de ajudar com as contas quando eu me formasse, queria alongar ao máximo esse período de regalias enquanto pensava melhor no mestrado e na maldita hora de arranjar um emprego.

- Eu falei para você não voltar tão tarde ontem! – Felipe disse ao fim da aula.

- Mas a festa estava tão boa... Aquela menina era uma delícia, não dava para ir embora! – disse com um sorriso, lembrando a menina com quem havia ficado na noite anterior.

- Alex, toda semana tem alguma festa nessa faculdade... Principalmente agora que o período está no início...

- Preciso de um café! – disse, ignorando o que ele havia dito e dirigindo-me para uma lanchonete.

Encontramos com Paloma sentada numa mesa com a mesma cara de sono que eu.

- Nem te vi saindo... - ela disse quando nos sentamos com copos de café na mão. – Podia ter me acordado.

Apesar de ser lua cheiaOnde histórias criam vida. Descubra agora