A Casinha de Madeira

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- O que você quer que eu diga, Emily?! - Gritei na direção dela.

Nós já havíamos saído do elevador e agora caminhávamos na direção do playground do prédio. Emily batia os pés com força no chão e eu tentava controlar o volume de minha voz para não acordar os inquilinos, já que virava a madrugada.

- Emily! - Disse novamente.

Talvez eu fosse invisível naquele momento, já que ela só realmente voltou-se para mim quando chegamos ao banco do playground. Nele havia uma casa de madeira que tinha cesso a um escorredor, havia também umas barras de ferro ( aquelas coloridas para se pendurar) e também um gira-gira.

- Fala comigo. - Disse, acalmando meu tom de voz.

Ela olhou para mim, seus olhos não brilhavam por causa de lágrimas, brilhavam por causa de fúria e dor.

- Por que, Fred? - Ela perguntou com sua voz embargada.

- Eu não a beijei.

- Não?! - Ela disse em tom irônico. - Claro, aqueles não eram seus lábios e nem seu tom de cabelo, nem...

- Cala a boca, Emily! - Eu gritei.

Ela arregalou os olhos.

- Me desculpa, Emily, eu não queria nada disso, mas você terá de acreditar em mim, eu não beijei a Helô.

- Helô?! Há! - Ela riu sarcasticamente. - Você já deu até um apelido para aquela cobra.

- Não, Lily, eu não quis dizer isso, foi só um modo de dizer.

- Lily? - Ela disse com tom choroso e então correu para dentro da casa de madeira, seus pés tropeçando nos mesmo na hora de subir.

- Amor, volte aqui, o que eu lhe disse que te magoou agora? - Eu não estava entendendo e, para ser sincero, sempre achei que fosse muito bom em entender pessoas mas naquele momento, Emily me mostrava que eu não conseguia entender nem metade do que uma garota quer dizer, isso é frustante.

Eu subi na casinha da árvore. Emily estava encolhida em um canto, seu shorts revelando uma parte de sua coxa que eu nunca vira antes, o que me fez enrubescer.

- Lily, se você quiser que eu te ajude você precisa me dizer o que está acontecendo, mas acima de tudo, você precisa confiar em mim e, quando digo que não houve nada, é porque não houve absolutamente nada. - Eu deixei meu tom de voz calmo e suave, meu deus eu parecia até um psicólogo naquele momento.

- Fred, por que está me chamando de Lily?

Eu não entendi a pergunta, grande surpresa, pensei. Ela talvez tenha visto na minha cara que eu não havia entendido o que ela queria me perguntar, então, ela repetiu a frase, reformulando-a.

- Por que só agora você está me chamando de Lily?

- Eu... - eu comecei a pensar, eu simplesmente achava que aquilo era algo fofo de se chamar, então, foi isso que eu disse. - Eu achei que era um jeito carinhoso de te chamar, sabe, para mostrar meu amor por você.

Uma lágrima escorreu pelos olhos dela.

- Por favor, Fred, não me chame de Lily. - Ela virou o rosto. - Só minha mãe me chamava assim.

Pela primeira vez, eu achei que havia entendido o porque de ela não gostar de Lily, o porque dela ter ficado ainda mais magoada.

Eu arrastei meu rosto para perto do dela e disse:

- Me perdoe, não queria lhe causar dor.

Ela sorriu, as lágrimas ainda rolando.

- Ah. - Ela lufou. - Acho que só precisava por isso pra fora, sabe, ainda não superei a morte dela, provavelmente nunca a supere.

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