Marco

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- Você os achou?- Indagou o homem carrancudo, sentando na sua poltrona reclinável em seu apartamento luxuoso, um charuto estava em sua boca, como de praxe.

- Sim. - Respondeu Enrico, andando por entre o centro de Campos do Jordão.

- Seja mais claro. - Disse o mafiosos, secamente.

- Não precisa ser tão grosso.

- Você sabe que sou bem pragmático. Diga-me, você tem a localização deles?

- Campos do Jordão. - Respondeu Enrico.

- Nossa, como se eu não tivesse tirado essa conclusão antes. - Disse Marco sarcasticamente e sem paciência.

- Não - começou Enrico - não sei onde eles estão hospedados se é isso que quer saber.

Marco soltou uma lufada de fumaça, provavelmente eram os charutos que deixavam-no com um hálito tão desagradável.

- Passe o telefone para Pietro. - Ele ordenou.

Enrico parou na frente de um hotel elegante onde, na frente dele, havia um homem vendendo pinhões. 

- Ele....- Enrico começou a pensar no que poderia dizer, ele conhecia muito bem as consequências para quem mentisse para seu pai. - Foi atrás de pistas.

- Pistas? - Marco disse através do telefone, era possível sentir a incredulidade de Marco em cada palavra. - Pietro foi encontrar "pistas"?

O irmão mais velho de Emily respirou fundo e disse:

 - Sim. 

Marco bufou.

- Enrico, meu filho, você não está pensando em me trair também não é mesmo?

Enrico paralisou-se ainda mais, talvez fosse melhor contar de uma vez antes que seu pai começasse a tirar suas próprias conclusões afinal das contas, Marco nunca gostou muito de Pietro.

- Ele, digamos, está fora de serviço. - Disse Enrico, talvez começando a tornar-se frio como Marco.

- Como é? - Marco ajeitou-se na cadeira de seu apartamento.

- Eu... fiz o que eu precisava. 

Mentira, ele sabia muito bem que não precisava fazer isso, ele apenas o fizera para ter absoluta certeza de que ninguém iria tomar a sua herança como herdeiro da máfia, só faltava liquidar Hugo e ele estaria pronto para assumir o "trono".

- Você matou o meu filho? - Berrou Marco, o telefone pareceu que ia explodir na orelha de Enrico.

- Eu disse que foi preciso.

- Você matou o meu filho! - Ele começou a berrar ainda mais, inconformado com a frieza na voz de seu filho mais velho, sua voz grossa atormentava as orelhas de Enrico naquele momento.

- Ele estava tentando salvá-los, o que eu poderia fazer? - Disse ele.

Ficou silencioso no outro lado da linha.

- Pai? - Enrico ousou perguntar. - Pai? - Insistiu ele.

Então, suavemente, começou-se a ouvir um gemido baixinho, Marco estava chorando.

- Você não está chorando mesmo, está? - Enrico começou a provocar-lhe. - Nossa, achei que os mafiosos não deveriam demonstrar fraqueza.

- Cala a boca seu merda! - Gritou o mafioso novamente, as lágrimas atrapalhando sua pronúncia. - Ele era seu irmão, meu filho! Quando você achou que tinha o direito? Hã?!

- Ora, mas então por que estamos caçando tanto Emily e Fred?

Marco não disse nada.

- Por quê?!

- Isso não lhe diz respeito!  - Marco cuspiu as palavras. A dose de conhaque pareceu-lhe tentadora naquele momento, mas ele forçou-se a se concentrar novamente em sua conversa com seu filho. Marco respirou fundo. 

- Vamos lá, pai, estamos perto de acabar de uma vez por todas com.... - Marco interrompeu, dizendo:

- Eu sei. -  O mafioso disse. - Não precisa ficar me lembrando disso.

Enrico engoliu seco, será que Marco estava realmente deixando o acidente de Pietro para lá?

- E ele?

- Fred? Já lhe disse que não sei onde estão hospedados.

Marco fechou o punho direito, a última lágrima escorrendo-lhe a bochecha, seu olhar nunca havia sido tão perverso.

- E eu não sou surdo. - Respondeu ele. - Eu ouvi você falando pela primeira vez, pelo amor, seja mais inteligente. - Marco pegou a dose de conhaque e bebeu-a. - Quero dizer "ele"

- Seja mais específico pai.

- A, mas que merda, Hugo! Algum sinal de Hugo?!

Enrico se assustou com a reação do pai.

- Não, sinto muito.

- A última vez que o vi eu o tinha amarrado. Provavelmente meu querido filho talvez o tenha ajudado a fugir.

- Eu disse que precisava fazer o que eu fiz. - Insistiu Enrico, sua blusa preta causando-lhe um enorme sufoco no calor de Campos do Jordão.

- Não pedi sua opinião e muito menos seu comentário. - Marco analisou o copo do qual bebera o conhaque e disse: - Que traição lamentável fora a de Hugo.

Então ele desligou o telefone e jogou o copo de conhaque na parede, lançando cacos de vidro por todo o chão do apartamento. Então o velho mafioso caiu de sua poltrona, as mãos fechando-se no rosto.

- Eles vão pagar. - Ele disse, os olhos impetuosos cheios de ódio e dor. - Ela vai pagar...por tudo. - Ele cuspiu as palavras de sua boca com os dentes cerrados.



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