2 meses depois.

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Naquela noite tive um sonho, primeiramente achei que era o mesmo de sempre, tudo estava cinza e quieto, a voz de Heloise sussurrou uma vez: como a vida é efêmera mas, para a minha surpresa, ela disse uma segunda, ainda mais alto, depois uma terceira e assim continuou, até que sua voz ficasse ensurdecedora. 

- Para! - Gritei, dessa vez eu possuía voz no sonho. A voz de Heloise calou-se instantaneamente. 

Eu abri os olhos cansados, minha respiração inquietante e bruta. Minhas narinas dilatavam conforme expelia o ar mais rápido do que deveria.

- Olá? - Disse. - Olá! - Disse novamente.

- Fred. - Ouvi a voz dela me chamando. - Fred. - Ela disse novamente.

Eu me virei e a vi, Emily estava ali, parada, vestindo um vestido preto que ajudava a destacar seus cabelos loiros dourados e sua cintura. O vestido possuía renda até a metade do colo dos seios dela, toda a renda também sendo preta, a gola fechava-se em torno de seu pescoço. Os braços desnudos e as mãos delicadas pareciam acanhar-se e, por baixo da barra do vestido, que dançava em volto seus tornozelos, ela usava um salto alto preto e branco.

- Emily. - Eu disse e estiquei minha mão para alcança-la.

- Ahhhhh! - Ela gritou.

Eu me virei, mas não via ninguém, não tinha mais ninguém além de nós.

- Emily, sou eu, calma. - Disse, investindo no contato físico novamente.

- Marco.

Eu não disse nada.

- Marco! - Ela gritou e eu me virei devido o desespero que pude sentir na voz dela e lá estava ele.

- Olá, Freduardo.

- Marco. - Disse, colocando-me na frente dela.

- Como o amor é frágil. - Ele ergueu a arma que, surpreendentemente, surgiu na mão dele. - O amor será a sua ruína.

Ele apontou para nós, especificamente para mim.

- O tempo está passando, Sr Chase. - Então ele puxou o gatilho.

- Não! - Eu gritei, mas a bala não atingiu meu corpo, pelo contrário, ela o transpassou, como se eu fosse apenas uma névoa.

A bala acertou em cheio o peito de Emily, que caiu com um baque surdo no chão de lugar nenhum, eu não conseguia definir que lugar era aquele. Seus cabelos tingindo-se de um vermelho vívido enquanto a vida esvaía-se de seu corpo.

- Lily..... - Eu disse, mas minha voz estava entrecortada de dor, arrependimento, eu havia falhado com ela. - Emily! - Berrei, gaguejando com o choro doloroso.

Eu senti um vento forte vindo contra meu peito, arrastando-me para longe dela.

- Não! - Gritei, enquanto tentava agarrar o chão daquele lugar com todas as minhas forças, mas eu não pude, minhas mãos tornaram-se nada e meu corpo começava a destruir-se. - Lily! - Eu gritei, vendo a garota da minha vida, deitada, sem vida, num vestido preto, com os cabelos encharcados de sangue.


............................................................... Dois meses depois.....................................................................


Nunca fui muito de ter fé em relacionamentos, na verdade, sempre mantive certa distância deles, a única vez que eu disse a uma garota que eu a amava, me arrependi severamente, alguns sentimentos devem ser reclusos e mantidos apenas em seu peito mas, naquele momento, eu não me importava de ficar falando que eu amava Emily, naquele momento, eu discutia com minha mãe por causa dela, depois do sonho que tive dois meses atrás, eu havia decidido viajar com Heloise para encontrar Emily e minha mãe não parecia gostar nem um pouco dessa ideia.

- Eu a ama, mãe! - Disse.

- Você nem ao menos sabe o que é o amor direito, Freduardo! - Ela retrucou.

Meu rosto ficou ainda mais vermelho, se isso era possível.

- Você não irá atrás dessa garota.

Eu fiquei indignado.

- Você não pode! Você não tem o direito! - Eu soquei o sofá, em que estava sentando, com meus punhos.

- Sim, filho, eu posso. - Minha mãe adquiriu um tom de soberania mesmo que aquele não tivesse sido sua intenção. - E eu vou.

- Não. - Disse.

- Você é meu filho, não deixarei que se machuque mais. - Ela entorpeceu-se com o choro.

- Oh, mãe. - Eu levantei de meu sofá e fui sentar-me com ela no outro. Eu a envolvi com meus braços. - Me perdoe, mas eu estou indo atrás dela. Eu a amo, e isso é algo que você não pode controlar.

Minha mãe olhou em meus olhos.

- Mas você já sofreu tanto. - Ela disse, sua blusa de lã marrom escorregando por seu ombro.

- Nós sempre iremos sofrer, mãe, mas nós é quem devemos escolher se seremos mortos por isso ou se continuaremos lutando.

Ela olhou para meus olhos e pronunciou tais palavras com dor:

- Pode ir. - Ela abaixou os olhos. 

Eu a abracei, feliz por ela compreender o tamanho de meu amor por Emily. 

- Obrigado, obrigados, obrigado! - Disse festejando e correndo para meu quarto, onde eu já havia deixado uma mochila de roupas preparada em caso que ela permitisse ( eu meio que já esperava por isso).

Depois de alguns minutos eu desci, já de roupa trocada - um tênis vinho com cardaços branco, uma blusa do Game of Thrones preta e um shorts também vermelho. 

Dei um abraço extremamente apertado em minha mãe e disse:

- Você não irá se arrepender, eu vou conseguir.

Eu dei um beijinho em sua bochecha e saí pela porta de casa, não ouvindo as palavras que minha mãe sussurrava para ela mesma:

- Será, meu filho? - Então ela sentou-se com a mão direita apoiando a cabeça pesada e com o coração apertado no peito.

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- Anda, Heloise! - Gritei enquanto buzinava dentro do carro na porta da casa dela.

- Calma, Freduardo! - Ela retrucou enquanto pegava duas mochilas e colocava nas costas.

Ela entrou no carro e sentou-se no banco ao lado do meu. 

- Não me chame de Freduardo. - Disse, ligando o carro novamente.

- Então não me chame de Heloise.

Eu acelerei e nós saímos em direção a Campos do Jordão.

Se aquilo daria certo? Quem sabe. Se eu estava preparado? Não. Heloise estar comigo num carro indo à Campos do Jordão era uma improbabilidade? Claro.

Pois é, a vida é um poço de surpresas constantemente irritantes, porém, completamente empolgante.  








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