Capítulo XXVI

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Amy Adams

Frank Czarnecki era um novo homem.

Me ocupei de secar os cabelos na toalha, a fim de disfarçar um sorriso. Não sabia o que era, talvez o ar da montanha, o clima de férias, ou o fato de Susan ficar muito bem de biquíni. Mas alguma coisa transformara Frank num cara quase normal. Ele passara a conversar, rir e até flertar.

Ainda sorrindo, me sentei na espreguiçadeira e observei os dois. Susan parecia uma adolescente, apaixonada pela primeira vez. Ela e Frank estavam sentados numa toalha, muito perto um do outro, desapercebidos do mundo à sua volta.

Senti uma pontada de inveja. Não havia nada mais maravilhoso do que aqueles primeiros dias da paixão. Tudo se tornava mágico e o mundo assumia as cores da ternura e do amor.

Fazia muito tempo que eu não sentia aquela magia.

Virei-me para admirar as montanhas ensolaradas, sentindo uma onda de tristeza trazer lágrimas a meus olhos. Era uma bobagem me sentir assim. Afinal, eu tinha tudo o que uma mulher poderia querer.

De repente, um homem sentou-se atrás de mim, passou os dois braços em torno da minha cintura e mordiscou meu ombro.

Sorri ao reconhecer o homem

- Bom dia, Adam.

- Como soube que sou eu? - ele perguntou, esfregando o queixo em meu pescoço. - Podia ser Mark Hudson.

- Mark Hudson é mais cuidadoso ao abordar uma mulher, às nove horas da manhã..

Adam estreitou o abraço e beijou minha orelha.

- Foi por isso que soube? Por causa da hora?

- E pela sua colônia após-barba. E por isto, também. - Sorrindo, passei um dedo pela cicatriz no braço de Adam. - Quase se matou naquele acidente de carro.

- Só os bons morrem cedo. Não foi o que disse, quando foi me visitar no hospital? Eu tinha dezessete anos e havia bebido muita cerveja e vinho barato, para comemorar o primeiro contrato de uma gravadora com a Kara's Flowers. Você me obrigou a fazer um juramento, lembra-se?

- Sim, eu me lembro.

Senti um frio na espinha ao lembrar de Adam na cama do hospital, ligado a uma porção de fios e tubos. Aquele dia havia marcado minha vida.

- Me fez jurar que jamais voltaria a beber e dirigir. Disse que, seu eu fizesse isso, nunca mais a veria. Fiquei apavorado quando percebi que estava falando sério.

- Deu certo, não deu? - eu o provoquei.

- Se deu! Nunca quebrei minha promessa, desde então.

- E nem pense em quebrá-la.

- Fique tranquila. - Após um momento de silêncio, Adam murmurou: - Não quero te perder, Amy. Você significa mais que tudo para mim.

Intrigada, me virei para fitá-lo e me surpreendi ao deparar com a seriedade na expressão de Adam.

- Adam, do que está falando? Aconteceu alguma coisa que eu não saiba?

- Eu ia perguntar a mesma coisa.

- Com relação a que?

- Hudson.

- O pai ou o filho?

Adam não sorriu. Eu suspirei.

- Adam, não sei o que se passa com você ultimamente. Nunca ficou tão perturbado por causa dos homens que passaram por minha vida. Sempre se meteu nos meus namoros e me deu conselhos que eu não precisava, mas jamais se comportou desta maneira. Está agindo como um marido ciumento.

- E você nunca falou em casamento, antes - ele falou com intensidade. - Ah, Amy, também não sei por que estou agindo assim. Talvez seja consequência do divórcio... Não sei. Parece que você é a única coisa que possuo e com que eu posso contar em minha vida. E, de repente, você começa a falar em casar-se com Mylonis e mudar-se para o Canadá.

- Eu disse que ainda não me decidi.

- Bem, se não for Mylonis, pode ser Hudson, ou um outro qualquer. - ele me olhou pensativo durante alguns instantes. - Acho que nunca pensei em você se casando, Amy. Só agora estou me dando conta de que, um dia, vou perder você. Mais cedo ou mais tarde, isso vai acontecer. E não estou conseguindo lidar muito bem com a situação.

- Ora, você pode se casar comigo e evitar maiores preocupações - falei e ri ao ver a expressão perplexa no rosto dele. Dei um sonoro beijo na boca dele, surpresa por fingir tão bem. - Brincadeira, Levine.

Ele me fitou de um modo estranho, então desviou os olhos para Susan e Frank.

- O que se passa com aqueles dois? Alguma novidade nas negociações da Hudson?

Virei-me para ele com ar irritado.

- Adam, às vezes você parecer estar em outro mundo. Ou melhor, ser de outro mundo. Será que não percebe?

- Do que está falando, afinal? - ele inquiriu mais irritado ainda.

- Esqueça! - Revirando os olhos, me levantei, apanhei a toalha e me embrulhei nela. - Vou dar uma caminhada.

- Com Mark Hudson?

- Se puder encontrá-lo, sim.

- Não. - Adam me alcançou, passou um braço em torno dos meus ombros e me apertou contra si, enquanto caminhávamos para dentro da pousada. - Vamos cavalgar até o lago Wolf. Já falei com o rapaz que aluga os cavalos e está tudo acertado. E o cozinheiro já está preparando o almoço para levarmos,

- Cavalgar? Almoço? - interrompi os passos e me virei para ele. - Adam, isso é loucura! Pode chover mais tarde. Aliás, a previsão do tempo informou que pode até nevar esta noite. Não podemos...

- Por que não?

- Eu...

- Rory Hudson só estará de volta no final da tarde e não há nada urgente que exija nossa atenção, agora. Você sempre gostou de cavalgar.

- Ainda gosto. - Eu me sentia definitivamente intrigada. - Faz anos que não monto.

- Mais uma razão para irmos. Ora, Amy, você vive dizendo que eu trabalho demais, que deveria ter mais tempo livre. Quando comprarmos a Hudson, ficaremos até o pescoço de trabalho, por um bom tempo. Sabe Deus quando teremos outra oportunidade como esta.

A idéia era tentadora.

- Só vou se você admitir que isto não tem nada a ver com o fato de fazer anos que não passamos um dia juntos, só por lazer. Você está é tentando me afastar de Mark Hudson.

O sorriso de Adam tornou-se mais largo.

- Exatamente.

- Eu poderia convidá-lo para ir conosco - eu o provoquei.

- Perigoso demais. A trilha é muito estreita em certos pontos. Eu detestaria vê-lo cair de um penhasco.

- Mencionou almoço?

- Entrada, prato principal, vinho e sobremesa.

Eu cai na risada.

- Você não tem jeito, Adam.

- Nem quero ter - ele concordou com uma risada, e me puxou para si, acomodando-me em seu braço. - Peguei sua jaqueta de couro no porta-malas do carro, mas é melhor levar mais uma malha.

- E se chover?

- Daremos um jeito.

- Não acha que vão ficar especulando, se desaparecermos por um dia inteiro?

- Podemos levar Susan. Ela aproveitaria o passeio. Afinal, não somos amantes.

Eu sabia disso muito bem, pensei.

- Não acho que Susan aceitaria o convite. Ela tem outros planos em mente. Mas... tenho certeza de que Mark adoraria.

A resposta de Adam limitou-se a duas palavras, que me deixaram vermelha.

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