Capítulo XXVIII

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"Sim, é possível haver amizade entre homem e mulher. Impossível é, negar o amor quando ele bate a porta. "

Amy Adams

Os primeiros pingos de chuva nos atingiram, logo que iniciamos a cavalgada à margem do lago. Mas eu não deixei que isso estragasse meu prazer. O lago era lindo, cercado pela encosta de um lado e por milhares de flores do outro. Parecia um cartão postal.

Porém, enquanto eu admirava a paisagem refletida na água cristalina, um vento forte soprou, apagando a imagem e deixando em seu lugar um manto cinzento e assustador. No instante seguinte, a chuva começou a cair com intensidade, um raio caiu em algum lugar perto dali e foi seguido pelo rugido ensurdecedor de um trovão. Sem dizer nada, lancei um olhar assustado para Adam.

Ele sorriu.

- Não se preocupe, querida. Estamos chegando. Continue pensando na sobremesa.

Uma rajada de vento bateu no meu rosto, e eu senti a pele arder aos pingos da chuva gelada. Estremeci e finquei os calcanhares nos flancos da égua, incitando-a ao galope rápido. De repente, o animal desapareceu debaixo do meu corpo e cai de costas, no chão duro. Enquanto tentava recuperar o fôlego e manter os olhos abertos, apesar da chuva torrencial que caía, tive a vaga noção da égua suja de lama se erguendo a seu lado, de outro cavalo se aproximando e parando, de alguém pairando sobre mim, gritando meu nome.

Adam.

Consegui esboçar um sorriso.

- Ganhei? - perguntei.

- Não! - Adam estava ajoelhado ao meu lado, o rosto muito pálido. - Você só deu uma cambalhota no ar, antes de atingir o chão. Daquela vez que caí do cavalo, dei duas piruetas completas.

- Quem sabe da próxima vez... - fechei os olhos. - Ah, isso dói!

- Por favor, Amy, não se mova. - A voz de Adam soou preocupada.

- Estou bem - afirmei e voltei a sorrir. Abri os olhos e comecei a sentar. - Não quebrei nada.

A chuva entrava pela gola da minha jaqueta, molhando a blusa. Estremeci com violência.

- A égua está bem?

Duas mãos firmes e fortes seguraram meus ombros e me obrigaram a deitar.

- Pare de se preocupar com o maldito cavalo e fique quieta!

- Adam, já disse que estou bem. Deixe-me levantar, ou vou pegar uma pneumonia! - Afastei as mãos dele e sentei, atordoada. - Estou bem. Só preciso recuperar o fôlego.

Adam passou um braço em torno dos meus ombros, tentando me proteger da chuva com o próprio corpo.

- Você quase me matou de susto, Amy.

- Está tudo bem.

Voltei a estremecer e ele me apertou contra si, olhando em volta. A chuva tornara-se ainda mais forte e não dava o menor sinal de que pararia tão cedo.

Ele parecia estar decidindo o que fazer. E eu podia apostar que ele estava se culpando, o que era ridículo. Quando ele fechou os olhos e suspirou parecendo estar resignado, eu tive certeza, ele estava se culpando.

- Acho que devemos ir andando - falei com a voz trêmula. - Estamos ficando ensopados e eu adoraria descobrir qual é a surpresa da sobremesa.

Adam sorriu e me abraçou com força, enterrando o rosto em meus cabelos molhados. Ele se preocupava comigo, se preocupava muito e eu simplesmente amava aquilo.

Adam fastou-se o bastante para me fitar.

- Acha que pode montar?

- Claro que posso - respondi com impaciência. - Estou só um pouco dolorida, não mortalmente ferida.

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