Cap IV: Irreal?

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Ao sair dali, procurei um lugar para me esconder, um lugar para obter minha fuga. A cada passo dado, surgiam mais pessoas, que me cercavam com seus olhares de dó. Aquilo me deixava angustiada, fazia-me mais vulnerável que o normal. Meu estado emocional estava abalado, mais uma coisa ruim havia acontecido comigo, e essa em especial era difícil demais para lidar... Após andar tanto sem rumo, entrei numa sala escura e, aparentemente, sem nenhuma pessoa. Nem me preocupei em acender a lâmpada, queria que ninguém me encontrasse ali e além de tudo havia uma janela, onde atravessa alguns raios de sol.

Ali dentro tinham alguns instrumentos musicais. Lembravam-me minha mãe, ela respirava música. Tocava-os com tanta delicadeza e amor, que fazia sua melodia ser como mágica; alguns ela até me ensinara. Tocar piano fazia parte da nossa rotina diária, sabíamos dos clássicos ao jazz. Percorri por toda a sala, em busca de algo que me chamasse atenção. Sinceramente, tudo ali me enchia os olhos: violões, flautas, violinos e claro, não podia faltar o piano. Sentei-me próxima a ele, deslizei os dedos lentamente sobre cada tecla e comecei a tocar uma canção qualquer. Senti alguém me observar, no mesmo instante parei de tocar. Olhei por toda sala e não havia ninguém. Sendo assim, voltei a minha música.

Uma vaga lembrança me veio à tona "Minha mãe estava tocando piano. E eu junto a meu pai a observávamos, impressionados com sua habilidade. Pouco tempo depois, ela me chamou para tocarmos juntas. Eu não sabia tocar muita coisa, a única música que sabia por completo, era uma sem nome, que a mamãe havia criado. Praticamente todos os dias nós a cantávamos. O papai adorava ouvir aquele som.

- Parece que finalmente você aprendeu. - Disse a mamãe orgulhosa.

- Aprendi? - Perguntei surpresa. - Olha papai, eu aprendi minha primeira música. - Estava transbordando de alegria.

- Parabéns princesa. - O papai falou em resposta, e logo após me pôs em seus braços e me deu um beijo na testa. - Toque novamente para nós, quero ver se aprendeu mesmo. - Disse dando uma piscadela para a mamãe. Sentei em meu banco e antes de começar a tocar, minha mãe puxou minha mão.

- Querida, talvez agora essa música não faça muito sentido para você. Mas, algum dia você irá encontrar algo ou alguém que faça essa música parecer como mágica, que faça você não se sentir sozinha.

- Mamãe, ela já é mágica! Eu não preciso de mais ninguém, eu tenho vocês dois, e sei que nós nunca vamos nos separar. - Disse sorrindo. Meus pais retribuíram o sorriso, mas logo suas expressões vacilaram. Nem dei conta e comecei a tocar."

Naquele dia, talvez meus pais quisessem me ensinar algo. Talvez quisessem me dizer que na vida nada é para sempre. Um dia eles teriam que partir, mesmo que fosse daquela forma... Tentei afastar todos os pensamentos e comecei a cantar:

        When tomorrow comes I'll be on my own

(Quando o amanhã chegar, estarei por conta própria)

Feeling frightened of the things that I don't know

(Me sentindo assustada com as coisas que não conheço)

When tomorrow comes, tomorrow comes

Tomorrow comes

(Quando o amanhã chegar, amanhã chegar)

And though the road is long, I'll look up the sky

Woofline - Primavera sem cor (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora