Descoberta...

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Já era de madrugada, não ouvia nada, a casa estava em um silêncio absurdo, minha boca se encontrava seca, preciso de água, meu estômago ardia de tanta fome. Mas não posso sair daqui, a essa hora o dono da casa deve estar dormindo e se ele me ver não sei o que pode acontecer comigo...

Mas a fome e a sede me venceram, levantei daquele chão frio e abri a porta o mais devagar possível, tudo estava bem escuro, fui passando pelo corredor apalpando minhas mãos pela parede, andava em passos pequenos, tentava fazer o mínimo de barulho possível, entrei na cozinha e a única coisa que iluminava ali era alguns feiches da Lua passando por uma pequena janela ao alto da parede. Fui até a pia peguei um copo que havia ali e o enchi de água, não me importei se estava sujo, afinal, faz tanto tempo que não tomo nada em um copo. Bebi bastante água, aquilo era tão bom, sem sabor, mas me saciou muito.

Estava à colocar o copo dentro da pia, quando por um descuido meu ele escorregou da minha mão e se estilhaçou no chão. Fiquei em choque, meu coração disparou, minha respiração se descontrolou, dei dois passos para sair dali, mas parei ao ouvir uma voz:

- Quem está ai?

A luz da sala acendeu, o medo tomou conta de mim, fiquei sem reação, parada no meio da cozinha.

Até que o homem entrou na cozinha, ficou me olhando meio confuso. Mesmo sem muita iluminação pude perceber que ele estava usando apenas uma calça preta, sua barriga era definidíssima, seus cabelos eram de um tom loiro bem claro, seus olhos azuis eram perfeitos, aquele brilho... ah aquele brilho!

Mas sua expressão mudou repentinamente, acho que ele percebeu que sou judia.

- O que você quer aqui? Você é uma judia?

Não consegui responder nada, meu corpo tremia, minhas mãos estavam totalmente suadas.

Então ele deu alguns passos rápidos, chegou perto de mim, pegou em meus ombros um pouco forte e voltou a falar:

- Fale logo! - Seu tom de voz era ameaçador. - Ou irei te matar agora mesmo!

Algumas lágrimas já desciam pelo meu rosto, por um momento pensei ter visto sua expressão mudar, mas acho que foi só impressão, então respondi:

- Eu... Desculpe. - Minha voz saiu quase que em um sussurro, já estava chorando igual uma criança. Desde que tive que ser só eu e eu para tudo, nunca havia sentido tanto medo quanto estou agora. Ver a morte em sua frente não é nada bom.

Ele me soltou e começou a andar para lá e para cá pela cozinha, parecia impaciente e preocupado, suas mãos passavam pelo seu cabelo parecendo que iria arranca-los. Até que ele parou de andar, me olhou fixamente e falou:

- Ajoelhe-se.

- O... o que? - Perguntei sem acreditar no que ele acabou de falar.

- Ajoelhe-se! - O homem gritou parecendo estar com muita raiva.

Me ajoelhei temendo pelo pior, sabia que ele poderia me matar ali mesmo, sem hesitar.


Me apaixonei pelo brilho da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora