Joseph ON:
Viajamos, assim que chegamos Hitler foi para uma casa bem grande e todos os empregados ficavam em outra ao lado, a escolta dele tinha que ser sempre, não podia o deixar desprotegido. Ao redor da casa grande havia vários homens andando em volta da mesma. Todos soldados.
Fui para meu quarto, lá era dividido, dois soldados ficavam em um quarto com duas camas. Arrumei minhas roupas numa pequena cômoda de madeira velha que tinha ali.
Após alguns minutos um outro homem chega.
Ele fala:
- Olá sou Hans Cullman - ele estendeu a mão para mim e eu apertei - vejo que seremos colegas de quarto.
- Seremos.
Ele começou a arrumar as coisas deles e eu deitei na cama.
Pensava em Naama. Ainda bem que meu estoque de comida estava lotado, assim não faltaria nada à ela, nesse pouco tempo que estamos juntos sinto algo tão bom por ela. Sinto que é amor. Naama mudou minha vida.
- No que você trabalha? - Hans pergunta, me tirando dos meus pensamentos.
- Sou soldado-segurança do Führer e você?
- Trabalho vigiando os campos de concentração. - Não sei se percebi errado, mas na voz daquele soldado parece que havia tristeza ou desânimo. Será que ele não gosta de trabalhar nisso?
Depois disso fomos chamados para almoçar, seguimos até a cozinha, alguns homens já se encontravam lá.
Cerca de quinze homens estavam naquela casa comigo, todos nós estávamos sentados à mesa comendo. Passado alguns minutos um soldado superior aparece:
- Olá soldados.
Todos respondemos com um "Olá senhor".
- Terminem de comer logo, pois iremos levar vocês à um lugar.
- Podemos saber onde senhor? - Um homem sentado ao fundo da mesa pergunta.
- Sim. Irão ver o melhor campo de concentração da Alemanha.
Quando ele terminou de falar aquilo me engasguei na hora com a comida que tinha acabado de engolir.
- Tudo bem soldado? - O superior perguntou intrigado.
- Tudo... - Cof, cof, - tudo sim senhor, só me engasguei, nada mais. - Peguei um copo com água e o virei em minha boca.
Eu não queria ir ver aquilo! Esses lugares são horríveis! Eles torturam as pessoas como se fosse normal, mas não é, não é!
Mas não poderia falar não, tenho que ir de qualquer jeito. Entramos em um jipe que nos esperava e seguimos o caminho.
Paramos num portão grande preto, no meio dele tinha uma frase assim 'Arbert Macht Frei' (O TRABALHO LIBERTA). Como? Como o trabalho liberta? Que loucura é essa?
Entramos, o lugar era devastador, de um lado havia vários esqueletos trabalhando, sim! Esqueletos, pois aqueles pobres homens não tinham nada mais que pele e osso.
Olhei para o outro lado, tinha um soldado com um chicote na mão batendo em um homem negro. Aquilo era horrível, o homem já estava todo sujo de sangue ele não aguentaria por muito tempo. E foi o que eu pensei, ele morreu instantes depois apanhando. Ouvi ao fundo o soldado que o batia dizer a outro:
- Esse já foi. - Gargalhadas.
Que caras cruéis, não entendo como pode existir pessoas tão... assim.
Virei meus olhos um pouco para os soldados que estavam atrás de mim e encontrei Hans. O que achei mais estranho é que em hora nenhuma ele levantava a cabeça, seus olhos eram indescritíveis, focados ao chão.
Ver aquele lugar me dava ânsia, muitas vezes a comida que comi voltava a minha garganta, mas sempre segurava.
Aquele campo fedia, era um cheiro amargo, azedo .. cheiro de morte.
Estávamos ainda andando pelo local e o superior que nos guiava parecia se vangloriar daquilo, isso era repugnante, como uma pessoa se vangloria por torturar pessoas inocentes?
No fundo do campo percebi um cômodo bem grande feito de concreto com uma porta de aço, alguns soldados colocavam as pessoas que estavam numa fila grande lá dentro, depois fechava a porta e esperavam. Fiquei curioso para saber o que é aquilo. Mas não precisei perguntar, pois um de nós perguntou:
- Para que serve aquele cômodo?
O superior olhou e respondeu sorrindo:
- Aquilo é uma câmara de gás.
- Como funciona? - O mesmo homem perguntou.
- Ah.. não sei direito, lá dentro é solto um veneno ou gás asfixiante e todos morrem. - O superior ainda sorri.
Queria ir embora dali, não aguentava mais sentir aquele cheiro, ver pessoas quase morrendo de tanto trabalhar, ver pessoas cadavéricas... aquilo era muito ruim.
Mas tudo mudou quando vi uma criança! Sim! Uma criança trabalhando, pegando pedras e mais pedras daquele chão imundo. Como podem fazer isso até com criança.O menino estava de costas, ele era careca assim como todos os prisioneiros ali e usava uma blusa e um short surrados. Ele pegava as pedras com muita dificuldade, seus braços eram tão magros quanto suas pequenas pernas, não sei de onde ele tirava forças para carregar aquilo ainda.
Mas uma hora ele não aguentou, seu corpo tombou para o lado junto com a pedra que estava em suas mãos. Ao ver isso, um soldado foi a seu encontro parecendo furioso, seu chicote estralava nas costas da pequena criança. Não posso ficar aqui parado vendo isso. Tenho que fazer algo!
- Ei pare com isso - Todos me olharam.
- Por que pararia? - O soldado que estava batendo no menino falou.
Fui ao seu encontro e disse:
- Deixe ele comigo.
- Você é muito novato, não sabe o que fazer. - Ele disse.
- Deixe comigo.
- Está bem.
Tinha que sair dos olhares de todos rápido, principalmente do superior ele me olhava confuso.
Peguei o menino pelo braço e o levei atrás de um dormitório, onde percebi que quase ninguém passava.
O menino me olhava com medo, naquele momento estava com muita dó dele.
- Você está bem?
- S..sim- Respondeu o garoto se encolhendo.
- Ei não vou fazer nada com você. Mas temos que simular que eu fiz, então me deixe pegar um pouco desse sangue que está nas suas costas e passar no seu rosto.
O menino assentiu e se virou. Fiz o que falei. E ficou parecendo que ele tinha levado uma bela surra.
- Está com fome?
- Muita.
- Me espere aqui hoje a noite, se der trago algo para você.
- Tá - ele ainda estava desconfiado de mim.
- Agora vá. - Ele foi na frente e eu atrás. Os olhares dos homens se voltaram à mim novamente e o superior disse:
- O que foi aquilo soldado?
- Só quis ajudar senhor.
- Vejo que fez um belo trabalho, enquanto estiver aqui se quizer ajudar pode vir.
- Obrigado.
Tentei limpar minhas mãos sujas de sangue na minha farda mas não saia. Preciso ajudar aquele menino, pobre garoto.
Só de imaginar que Naama podia estar num lugar desses, minha raiva se transforma em ódio, ninguém merece isso!
Hoje à noite virei e darei algo para aquele garoto comer.
Se alguém me pegar ...
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Me apaixonei pelo brilho da Morte
عاطفيةEu?? Uma judia no meio da Alemanha! Em plena segunda guerra mundial. Se vou morrer?? Não sei. Talvez. Mas farei o possível para que isso não aconteça. Se tenho família?? Tinha, até eles serem capturados pelas tropas de Hitler, e provavelmente fora...