Pego?

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  A minha tarde ainda foi longa depois daquele episódio, tive que seguir Hitler para muitos lugares, fomos em algumas palestras que ele iria dar, fomos em algumas rádios, e em casas dos seus grandes 'amigos'.

  Cheguei em casa em torno das 18:00, o céu não havia escurecido tanto ainda. Entrei em meu quarto, Hans estava deitado lendo. Peguei uma roupa e fui tomar um banho rápido, pois não esqueci do que falei à aquele garoto, tenho que levar algo para ele comer.

  Após terminar o banho fui para meu quarto. Assim que entrei Hans perguntou:

  - O que realmente fez com aquele garoto? - Hans soltou seu livro e me olhou com uma expressão de dúvida.

  - Como assim? - Respondi com outra pergunta. Não o entendia.
  - Você não parece o tipo de cara que bate em crianças. Conte-me a verdade, sei guardar segredos.

  -Não confio em você. - Falei meio rude.

  Hans se levantou e fechou a porta.

  - Por que não levantou a cabeça em hora nenhuma no campo? -Perguntei tentando mudar de assunto.

  - Simples. Não concordo com o que eles fazem, não suporto ver pessoas sofrendo daquele modo sem ter nenhuma justificativa.

  Olhei em seus olhos tentando achar algum traço de mentira, mas não encontrei, ele estava falando a verdade! Será que posso confiar nele? Vou tentar.

  - Você acertou. Não sou do tipo que bate em crianças, não toquei naquele garoto, apenas simulei com seu próprio sangue que eu o bati.

  - Parabéns! Até hoje não tinha encontrado ninguém que pensasse igual à mim.

  - Sabe onde vou agora? - Ele fez sinal negativo com a cabeça - Vou levar alguma coisa para o garoto comer.

  - Joseph, é muito arriscado. - Ele me alertou. - Por mais que eu já tenha feito isso, é preciso muita cautela, se pegarem ...

  - Eu sei. - Respondi cortando sua frase - Mas já que disse ao menino, tenho que cumprir minha palavra.

  - Está bem. Se precisar de qualquer coisa estarei aqui.

  Era estranho conversar com Hans, agora que estávamos perto um do outro pude perceber que nos parecemos batante, posso dizer que nossos cabelos são idênticos.

  Ri com isso e falei:

  - Nossos cabelos são praticamente idênticos, copiou meu corte?

  - Copiei - Nós rimos.

  Sai do quarto e fui até a cozinha, ali havia apenas dois soldados conversando. Peguei apenas um pão enfiei em meu bolso e sai da casa.

  O tempo mudou repentinamente, o céu estava com um tom cinza quase preto...estranho. Havia um vento forte também, que varria as folhas caídas.

  Passava pelas ruas, e as mesmas estavam desertas, o silêncio dava até um certo medo.

  Ainda bem que decorei bem o caminho quando fui mais cedo de jipe. O campo não ficava tão longe, em uns vinte minutos de caminhada já estaria lá.

  Cheguei, o lugar não estava tão quieto quanto pensei, ao longe vi muitos prisioneiros ainda trabalhando no pesado, e os soldados os acompanhando.

  Abri o portão, sim, ele ficava aberto, pois na torre haviam vários soldados e quem se quer tentasse sair, morreria fuzilado.

  Entrei, um soldado meio longe me olhou, mas logo desviou seu olhar quando viu minha farda.

  Andei um pouco pelos lugares mais vazios tentando não chamar atenção dos soldados que ali estavam.

  Fui para o lugar onde falei para o garoto que o encontraria. O que iluminava ali era uma luz bem fraca, que quase não se via nada.

  Esperei, esperei e nada do menino aparecer. Já fazia mais de dez minutos que esperava ele.

  Após outros longos cinco minutos, vejo um corpo magro e pequeno vir devagar, sem nenhum barulho.

  - Desculpe pela demora - O menino falou olhando para o chão.

  - Por que demorou tanto? - Falávamos quase em sussurros.

  - Um soldado me pediu para fazer muitas coisas, tenho que voltar rápido - Ele disse triste - Você trouxe algo para mim comer? Hoje não comi nada ainda. - Ele passou a mão na barriga.

  - Quantos anos você tem?

  - 7, eu acho.

  - Você sabe onde estão seus pais?

  Ele me olhou nos olhos e disse:

  - Vocês os mataram. - Ouvir aquilo foi horrível. Vocês? Vocês não! ! !

  Peguei o pão que estava no meu bolso e dei para ele. Seus olhos brilharam quando viu aquele pão.

  Ele mordia rápido e com força, como se não tivesse comido a dias.

  Ele ainda estava comendo quando ouvi uma voz um pouco longe atrás de mim...

  - O que é isso?

  Olhei para o garoto, o mesmo olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas. A única coisa que consegui dizer foi:

  - Corre!

  Saímos correndo, o menino entrou em um dos dormitórios e eu sai rápido pelo portão.

  Quando encontrei a rua não parei mais, saí correndo sem olhar para trás, passava pelas ruas rápido só ouvia meus passos na terra. Meu coração acelerado, não me ajudava, minha respiração estava cada vez mais debilitada.

  Mas decidi não parar de correr.

  Finalmente cheguei a casa. Entrei e para minha felicidade não tinha ninguém andando por ela. Tomei um copo de água e tentei normalizar minha respiração.

  Fui para meu quarto sem fazer barulho algum. Entrei e Hans ainda lia. Ele me olhou e se assustou, deve ter sido pela minha expressão de apavorado.

  Fechei a porta e disse:

  - Hans fui pego.


(Capítulo sem revisão, algum erro? Me desculpem!)

Me apaixonei pelo brilho da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora