- Se acalme - Hans falou.
- Não tem como! - Andava de um lado para o outro dentro do quarto.
- Me conte como aconteceu.
Contei tudo a Hans, dos mínimos detalhes aos maiores.
- Pelo o que me disse, o soldado estava meio longe de você e apenas essa luz fraca não deve ter ajudado ele o bastante para saber que é você.
- Não sei - Passei a mão pelos cabelos lembrando de Naama. - Deixei a mulher que mais amo à minha espera, preciso voltar.
- Você vai. Irei te ajudar em tudo.
- Obrigado!
Mas sabia que não tinha como Hans me ajudar, se eles me reconheceram vou morrer.
- Tente dormir ou pelo menos deite um pouco. - Hans disse.
- Daqui a pouco eu vou.
Peguei minha toalha e qualquer roupa. Tomei um banho e fui me deitar.
As imagens daquele garoto e de Naama não saiam da minha cabeça, não posso morrer! Eu falei para ela me esperar! O que será de Naama sem mim?
Sai dos meus pensamentos quando um estrondo forte ecoou pela casa.
Escutei alto:
- Abram todas as portas!
Meu Deus! Eles vieram atrás de mim!
Hans levantou e abriu, continuei deitado, não queria levantar para ir ao encontro de minha morte.
Um soldado entrou pela porta e gritou:
- É ele!
Meu coração acelerou, mas o que mais me apavorou foi quando vi que o soldado apontava para Hans!
Hans me olhou confuso, levantei num pulo da cama.
O superior entrou e falou:
- Você tem certeza soldado?
- Sim! - Respondeu convicto.
O superior olhou para Hans e falou:
- Soldado, era você quem estava alimentando aquele judeu imundo?
Hans me olhou, ele pareceu pensar bastante e respondeu:
- Sim.
Hans ?! Não! ! !
Olhei para ele apreensivo sem entender aquela resposta, quando fui abrir minha boca, Hans balançou a cabeça em sinal negativo. Fiquei calado.
Se fui covarde? Sim!
- Levem-no.
Dois homens o pegou pelos braços e o levaram.
O superior me olhou e disse:
- Quero todos vocês às seis da manhã no campo.
Assenti e ele saiu.
O que foi isso?
Hans vai morrer?
Por minha causa?
Não! Não pode ser!Depois daquilo não dormi mais, passei a noite pensando, Hans não deveria ter falado que foi ele!
Nunca irei me perdoar se acontecer qualquer coisa à ele.
Levantei da cama, ainda era cinco da manhã, coloquei minha farda e fui para a cozinha.
Tentei comer, mas não consegui, nada descia pela minha garganta.
Abri a porta, o céu ainda estava cinza, o vento aumentou muito. Sentei numa cadeira que havia ali na varanda.
Só estava a observar o vento batendo nas árvores e levando suas folhas.
Ao longe já ouvia algumas vozes, devem ser de trabalhadores, saindo de suas casas para garatirem o pão do dia. Alguns cachorros latiam incansavelmente.
A porta se abriu e saíram alguns soldados de lá.
Falei:
- Nosso superior mandou todos nós irmos para o campo as seis.
- Vou chamar os outros! - Um respondeu e entrou na casa.
O outro ficou encostado na porta, observando a paisagem.
- Não acredito que Hans fez aquilo. - Ele falou, sem tirar os olhos das árvores.
- Você o conhece? - Perguntei intrigado.
- Sim. Trabalhavamos juntos. Ele sempre foi muito cuidadoso. - Ele disse, mas ao mesmo tempo colocou a mão na boca - Esqueça o que eu disse.
Ele entrou também.
Após alguns minutos todos saíram já prontos.
Pegamos o jipe e seguimos o caminho.
Não demoramos muito e chegamos. O portão estava trancado, o que não era de costume.
Um soldado nos viu e veio abrir o portão.
Entramos, o superior veio até nós e falou:
- Venham.
Fomos andando até perto da câmara de gás. E lá estava Hans, ajoelhado e com as mãos para trás, seus cabelos loiros cobriam seu rosto que encarava o chão.
Olhei para ele e depois para o superior, precisava fazer algo! Não sou covarde!
- Senhor? - Disse ao homem alto que se virou.
- Fale.
- Posso ter algumas últimas palavras com Hans?
O homem me fitou e por fim disse:
- Tem um minuto.
Fui para perto de Hans me agachei e falei em seu ouvido:
- Você não vai morrer por algo que não fez.
Ele levantou a cabeça e disse baixo:
- Não ouse me tirar daqui! Prefiro morrer por um judeu, do que viver minha vida inteira torturando um.
- Hans não posso...
- Joseph não faça nada! Estou mandando!
- Me perdoe. - Falei, me sentindo fraco.
Ele sorriu e disse:
- Não tenho por que! Só continue ajudando eles.
- Dou minha palavra.
- Joseph acabou o tempo - O superior avisou.
Levantei, meu coração pesava tanto, a culpa me consumia. Ele não podia! Meu Deus!
O superior foi para perto de Hans, puxou em seus cabelos, para que todos vissem seu rosto e falou:
- Quero que isso sirva de exemplo para todos! Todos que ajudarem qualquer judeu ou prisioneiros, pagarão com suas vidas!
Hans começou a rir, ninguém entendeu o por que.
- Do que está rindo, seu... seu desgraçado. - Hans levou um tapa forte na cabeça.
- Vocês são pessoas sem escrúpulos, antes de morrer pode me fazer um favor senhor? - Hans falava com ironia - Diga aquele porra de Hitler que eu o odeio! Eu o odeio! - Ele gritava sem parar - Eu o odeio!
- Levem esse insolente logo.
Um homem pegou ele pelo braço e o conduziu até a porta da câmara, Hans me olhou mais uma vez.
Aquele olhar foi de agradecimento? O que Hans? Estava me agradecendo por te matar?
Depois que fecharam a porta de aço, só ouvi um grito. Uma voz grossa. Hans.
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Me apaixonei pelo brilho da Morte
RomanceEu?? Uma judia no meio da Alemanha! Em plena segunda guerra mundial. Se vou morrer?? Não sei. Talvez. Mas farei o possível para que isso não aconteça. Se tenho família?? Tinha, até eles serem capturados pelas tropas de Hitler, e provavelmente fora...