Vamos tentar

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  - Deve ser - Joseph respondeu parecendo desanimado.

  Pude perceber que alguém estava na cozinha, pois havia barulhos de panelas.

  -Ora Joseph, não sabia que você cozinhava. - Um soldado perguntou meio desconfiado.

  -Éh... - Ele começou a responder, mas foi interrompido...

  - Pare com isso Adam, não fique mechendo nas coisas dos outros, é claro que Joseph deve ter alguma empregada, não é soldado?

  - Sim, isso mesmo - Joseph respondeu rápido e um pouco exaltado.

  - Mas voltando ao assunto da viajem, você já sabe para onde vai com o Führer Hitler Joseph?  - Uma voz bem grossa que ainda não tinha ouvido, perguntou.

  - Ainda não. O Führer Hitler irá nos comunicar amanhã.

  - Entendo. - A voz grossa respondeu.

  Estava ainda deitada queria prestar bastante atenção naquela conversa, mas bem naquela hora me deu uma vontade repentina de ir ao banheiro. Mas me arrependi quando tentei levantar e a cama de madeira fez um barulho bem alto. Será que eles ouviram? Medo! Muito medo!

  - O que foi isso? Vocês ouviram este barulho? - Um soldado falou alto.

  - Joseph não tem mais ninguém em sua casa? - Uma voz falou.

  - Aqui não tem mais ninguém! Moro sozinho. - Joseph respondeu alto.

  - Podemos checar sua casa?

Quando ouvi aquilo meu coração disparou, meu Deus! E se eles me acharem? Eu e Joseph iremos morrer! Já estava chorando. Como sou burra! Deveria ter ficado quieta!

  - Não irá ser necessário senhor. Posso lhe afirmar que aqui não se encontra nem uma alma, além das nossas. - Joseph respondeu, parecia que ele escolhia muito bem as palavras a serem ditas.

  - Preciso ter a confirmação dos meus olhos Joseph. E se você se recusar terei motivos para desconfiar do senhor - O homem disse autoritário.

  - Está bem. Podem ir.

  Não! Não deixem Joseph! Eles irão me achar!

  Alguns passos já ecoavam pelo corredor, minha respiração estava ofegante, minhas mãos estavam suando muito. Mas não posso ficar aqui parada!

  Rolei devagar pela cama e levantei dela, percebi que eles já estavam muito perto e a única saída que achei foi me jogar em baixo da cama.

  Assim que fiz isso a porta se abriu e bateu com muita força na parede. Dali de baixo só conseguia ver as botas pretas daqueles soldados imundos, pelo que percebi haviam dois em meu quarto. Eles abriram a porta do banheiro e o checaram, quando pensei que eles irião sair do quarto, um soldado fala:

  - Joseph venha aqui!

  Ainda chorava em silêncio, eles não pode me encontrar! Estava paralisada ali, a única coisa que se mexia em mim eram meus olhos que observavam cada detalhe.

  - Sim... - Ele respondeu parecendo aliviado.

  - Pode nos responder por que esse quarto está assim? Parece que alguém anda dormindo por aqui. - Um deles falou.

  - Ele está assim... - Joseph fez uma pausa, deve ter sido para pensar em alguma coisa - Por que desde que minha irmã morreu não mandei arruma-lo, gostaria de deixar tudo conforme ela deixou a última vez que esteve aqui.

  - Ah sim. -  O homem respondeu, mas não parecia muito satisfeito.

  Um outro soldado aparece na porta dizendo:

  - Precisamos ir embora, já deu a hora. Já terminamos de checar a casa.

  - Então vamos, desculpe pelo incômodo Joseph!

  - Tudo bem. - Joseph respondeu.
  Todos eles saíram do quarto, que alívio! Não me encontraram, graças a Deus!

  Só saí de baixo da cama quando ouvi a porta da sala se fechando. Aquela noite foi horrível, aquele medo ainda tomava conta de mim. Joseph disse para mim não fazer nenhum barulho e olha só o que eu fiz!!? Como pude?!

  Sentei na cama, tentado secar as lágrimas que desciam pelos meus olhos, mas não conseguia, minhas mãos tremiam. O que será que vai acontecer?

  Olhei para a direção da porta, quando uma tosse forçada me chamou atenção. Ele estava ali, com os braços cruzados contra seu peito e a respiração ofegante. Seu olhar estava indecifrável, uma mistura de medo, dó e raiva.

  Então ele falou:

  - Você me deu um belo susto hoje em.

  - Me desculpe. - Foi o que consegui falar em meio aos meus soluços.

  Tomei um susto quando ele se agachou na minha frente e me deu um abraço. Fiquei parada tentando absorver aquilo, ele não iria brigar comigo? Não iria me chingar?

  Depois que me soltou, ele disse:

  - Tive tanto medo de te perder - Joseph limpa algumas lágrimas que caiu em minha bochecha.

  Não falei mais nada, apenas o beijei, um beijo calmo. Tentando experimentar cada pedaço da boca dele, não podia ficar mais sem aquilo, agora tive a certeza que estou gostando realmente dele. Preciso falar isso!

  Parei de beija-lo e ele me olhou meio confuso, então falei:

  - Quero tentar Joseph! Seja o que Deus quizer.

  Assim que terminei de falar ele me jogou na cama e me abraçou fortemente.

  - Obrigado!

  Ficamos assim por alguns minutos, até a barriga dele roncar avisando que ainda não tinha comido nada. Nós rimos daquilo e fomos para a cozinha.
 
  Comemos, conversando e rindo, acho que aquela hora que estávamos ali foi o melhor momento que já vivi depois que essa guerra começou.

  - Joseph? - O chamei enquanto lavava os pratos.

  - Sim?

  - Não pude deixar de ouvir as conversas que vocês tiveram. Você vai mesmo viajar?

  - Irei. - Ele se levantou de onde estava sentado e me abraçou por trás, dizendo em meu ouvido - Mas voltarei para você!

Me apaixonei pelo brilho da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora