Seus olhos percorriam as estantes repletas. Do rodapé ao teto, havia milhares de livros. Ficou parada na porta, admirando para depois percorrer o ambiente. A sala era forrada por um carpete que ela imaginou ser persa, se acaso existisse esse tipo de tapete no Submundo. Seus pensamentos ficavam cada vez mais confusos. Seis anos atrás, ela estivera ali e passara vinte e cinco horas tentando não ser morta. Depois de seis anos tentando se convencer de que nada havia acontecido, agora estava tentando descobrir mais daquele mundo: como eram feitos os tapetes, as decorações, de onde vinha tanta gente que ela não tinha sequer imaginado existir.
Havia um grande lustre adornado por velas que garantia a luminosidade da leitura. Havia, ainda, algumas poltronas próximas das estantes e um divã. Aproximou-se de uma longa cômoda de marfim com lindas esculturas, imagens de cavaleiros, algo que acreditou serem deuses e deusas. A decoração chamou mais ainda sua atenção: as paredes esculpidas em gesso, sendo ornamentadas por enfeites de ouro. Do lado direito, havia outra parede recheada de livros e mais algumas poltronas com um jogo de sofá ao fundo, dando um ar de sala privativa. Os sofás se fechavam em um L e eram acompanhados por uma mesa de centro.
A sua direita havia uma mesa de aproximadamente dois metros e o brilho refletivo pelo candelabro despertou o seu interesse.
— O que é aquilo? — Sâmia perguntou, caminhando em direção ao brilho.
— A coleção de cristais.
Ela não acreditava em que seus olhos viam: era uma cidade de cristal, com estradas, casas, vales, tudo esculpido no mais fino cristal. Andava lentamente, acompanhando cada detalhe. Depois da cidade havia um grande castelo cercado por uma floresta e havia até pessoas caminhando pelo pátio. A última coleção fez seu coração parar por um minuto: estava diante do negro tabuleiro de xadrez.
Piscou os olhos repetidamente para ver se estava enxergando direito, e ele estava ali, exatamente como se lembrava: no alto daquela colina com suas peças com rostos e mãos, as peças vivas! Seu olhar estava perdido com as lembranças. Observou longamente o rei e a rainha do tabuleiro. Há seis anos, ela teria ocupado uma daquelas casas e havia feito a maior aposta de todas, a aposta que valia sua vida.
— Vejo que gostou dos cristais — disse Leander com um sorriso suave.
— Como foram feitas?
— É um trabalho élfico, vendem nas feiras da redondeza, há mais espalhadas pelos cômodos do castelo.
Sâmia já não ouvia uma palavra do que Leander dizia. Sua mente estava muito longe, olhando fixamente para aqueles cristais. Não seria nenhuma surpresa se aquelas miniaturas fossem outras meninas infelizes como ela, que tivessem ido lá jogar com o rei e, não tendo a mesma sorte que ela teve o vencendo, teriam recebido como punição a transformação e ali iriam permanecer eternamente imóveis.
— Mas me diga o que achou da biblioteca? — Leander perguntou, tirando-a de seu delírio.
— É maravilhosa.
Sâmia não podia esperar para começar a devorar todos os livros, passaria os três meses trancada ali dentro, com intuito de obter o máximo de informação que pudesse.
— Imaginei que gostaria de conhecer esse lugar.
A voz de Leander quebrou o silêncio mais uma vez.
— Você pode vir aqui sempre que quiser; é um lugar perfeito para relaxar e descansar um pouco. Eu lamento, mas realmente já se faz tarde e eu preciso ir.
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Ciclos Eternos - Submundo Livro 1
ФэнтезиEsqueça tudo que você acha que sabe sobre o Submundo e seus habitantes. Esse livro mostra um romance mágico, fantástico com valores reais usado em nosso cotidiano. Esse é um livro como você nunca viu!