Capítulo 17 - O reino dos cogumelos

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  Era o décimo dia!

— Miserável, filho da p...

— Agora deu para falar sozinha?

Sâmia nunca imaginou que fosse ficar tão feliz por ver aquele rosto.

— Agnes! O Jahean está com você?

— Jahean? Não! Vim aqui para vê-lo.

— Pois sente e espere.

— O que anda se passando por aqui?

— Ele sumiu, você acredita? Simplesmente sumiu!

— Como sumiu?

— Faz doze dias que ele desapareceu e não disse a ninguém onde foi; ou ninguém quis me dizer.

— Interessante. E você parece um tanto incomodada, não?

— Agnes, por favor! Como posso me aproximar dele e impedir essa droga de casamento se ele desapareceu?

— Entendo. Bem, enquanto isso, falaremos do festival.

— Explique-me isso direito.

— Muito bem. Dois dias antes, vou levá-la ao meu reino e lá você pode ensaiar a dança da serpente.

— Agnes, por Deus. O nome da dança não é no sentido literal, é?

— Tive uma ideia! Vamos hoje mesmo ao meu reino.

— O quê?

— Sim, lá você se distrai e deixa o Jahean preocupado quando aparecer e não te encontrar.

Sâmia sorriu. Seria interessante saber o que ele faria quando descobrisse que ela havia desaparecido. Agnes era, sem dúvida, uma mulher incrível. Só sua presença já mostrava autoridade e uma elegância, certo tipo de poder... após o almoço, Sâmia separou algumas coisas para partirem. A carruagem era muito luxuosa e confortável. Levaram cerca de 5 horas para atravessar a Terra Baixa, que tinha esse nome porque realmente se localizava em uma declinação, se comparada ao reino de Sunset. Sâmia olhava a paisagem, encantada, e à medida que se aproximavam, a paisagem ia tomando forma. Imensas dunas de cogumelo?

— Agnes? Aquilo são cogumelos?

Agnes gargalhou.

— Sim! É uma decoração encantadora, não?

— Mas o Etoile não gosta que chamem de reino dos cogumelos. É muito temperamental, mas uma ótima pessoa.

— Etoile?

— O rei, meu marido. Toda rainha precisa de um marido, não?

Chegaram ao palácio real e Sâmia notou que tinha um modelo mais exótico que Sunset, lindo, mais moderno, ou melhor, extravagante como Agnes, cheio de cores vivas e vibrantes.

Três dias se passaram quando uma criada veio avisar a Sâmia que vieram buscá-la. Sâmia, que estava no jardim, saiu correndo pelas escadarias com o coração aos pulos e foi com certa decepção que o viu.

— Leander?

— Que cara é essa? Não está feliz em me ver?

— Claro que estou. — Sâmia abraçou o amigo e tentou disfarçar a vontade que tinha de gritar.

— Sâmia, vamos. Vou levá-la de volta.

— Por quê? Ele voltou?

— Não. Mas quero que fique lá.

— Leander!

— Vamos embora. Se ele chegar e você não estiver, é bem capaz de sair e só voltar para o casamento.

Sâmia, com muita tristeza, se despediu de Agnes. O tempo que passou na Terra Baixa serviu para apagar a impressão horrível que tinha da rainha. Conversaram muito. Ela pôde aprender sobre magia, arte e filosofia. O marido de Agnes ela só viu uma vez: era um rei de negócios e vivia viajando para negociar as vendas. Sim, além dos cogumelos de areia, havia uma vasta plantação de cogumelos que ela descobriu serem ervas medicinais, capazes de curar todas as enfermidades.

Assim que chegaram à Sunset, Sâmia suspirou:

— Ele não vai voltar mais!

— Claro que vai. Como acha que ele cantará no festival?

— Talvez só apareça para o festival.

— Talvez.

— E você não vai me dizer o que fará durante sua apresentação?

— É segredo.

— Venha, que quero lhe mostrar uma coisa.

Sâmia puxou Leander pela mão e o levou a seu quarto.

— Pelo Submundo! É perfeito!

Uma tela pintada a tinta óleo mostrava o imenso Tabuleiro de xadrez com todas as criaturas e peças, inclusive o rei.

— Nem posso acreditar! É perfeito! O Jahean adorará.

— Não quero que ele veja!

— Mas por quê?

— Primeiro porque ele não merece, depois, não acredito que ele se interesse, e terceiro porque ainda não terminei.

— Parece pronto.

— Não este, os outros.

— Há mais?

— Sim, mas só vou te mostrar mais um, os demais só quando estiverem prontos.

Leander olhou e ficou encantado.

Viu sua majestade sentado na borda do tabuleiro, olhando para o infinito.

— Tenho vontade de roubar esse para mim.

— Eu lhe dou de presente quando terminar os outros.

— Sâmia, é incrível sua habilidade para a pintura. O Jahean ficaria tão feliz.

— Olha, Leander, eu juro que muitas vezes faço um grande esforço para não quebrar isso na cabeça dele!

— Nem brinque com algo assim.

— Vou dar uma olhada pelo castelo e ver se o Jahean deixou alguma pista. Você ficará aqui?

— Acho que sim.

— Até mais tarde, então.


Ciclos Eternos - Submundo Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora