Capítulo 13- Doce Rafaela

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Os dias passavam rapidamente. Todos os hóspedes haviam partido, exceto Agnes e Rafaela. Sâmia nunca teve a oportunidade de conversar a sós com a noiva do rei e estava muito grata a Leander por isso. Sempre havia desculpas: cafés da manhã no quarto, evitando descer, almoços em salas diferentes, cortes durante as conversas quando se cruzavam, muito esforço para mantê-las longe e isso evitava um envolvimento maior. Mas desde aquele dia no jardim, não havia como escapar à vista dela. Não havia mais motivos para jantarem em lugares separados, uma vez que Rafaela já tinha aceitado a presença de Sâmia sem mais perguntas. Assim como a amizade com Leander havia crescido, a inimizade com o rei também. Frequentemente a destratava e a evitava. Estava com aquele péssimo humor de sempre e, claro, com a ajuda de Agnes, seus momentos eram ainda piores. Enquanto Leander trabalhava, Sâmia passava a maioria do tempo trancada em seu quarto ou na biblioteca, trabalhando em sua resenha. Logo estaria tudo acabado e poderia tirar férias com a Margarette.

Em uma tarde, Sâmia estava sentada na biblioteca lendo quando a porta rugiu e, por trás dela, surgiram longos cabelos negros:

— Ora, ora! Há tempos que venho procurando por você. Nunca conseguimos ficar a sós.

Sâmia sentiu medo. Iria Rafaela dizer que não a queria ali? Rafaela simplesmente beijou-lhe a face e se sentou ao lado dela.

— Fico feliz em ter alguém para conversar. O Jahean está sempre tão ocupado.

Erguendo a manga do vestido, ela perguntou a Sâmia, com olhos brilhantes:

— Veja, o que acha desse bracelete?

— É maravilhoso. — Sâmia respondeu, rezando para que essa fosse a resposta que ela esperava.

Rafaela abriu um largo sorriso.

— Sabia que seríamos como irmãs — disse, segurando ambas as mãos de Sâmia. — Você precisa ver minha coleção, tenho 18 iguais a esse de cores diferentes, cada pedra de uma tonalidade.

— Você tem muito bom gosto. — Sâmia disse, não acreditando no que seus ouvidos escutavam.

— E não tenho mesmo? — Rafaela concordou, sorrindo.

— Leander é um homem de sorte. Nem toda mulher por aqui sabe apreciar o que há de melhor em joias.

Rafaela deveria estar representando algum papel. Ela não poderia ser tão estúpida assim, porém, decidiu ver até onde ela ia.

— Ouvi falar da exposição de joias élficas esses dias durante o almoço. — Sâmia arriscou.

— Nem me diga! Não perderei por nada nesse mundo. Será depois da exposição no pátio central. Eu mal posso esperar!

Rafaela continuava a falar uma coisa após outra e Sâmia só conseguiu falsificar um sorriso e consentir com a cabeça.

— Realmente, eu não entendo. É claro que acabam se tornando valiosas, uma vez que só podem ser extraídas através do uso de magia, mas o mais absurdo é que os habitantes não estão dispostos a extraí-las, acredita? Como se houvesse outra maneira de se enfeitar uma mulher. Por isso, a Superfície sempre me atraiu. Ouvi dizer que existe uma loja de joias por lá. Há mesmo uma loja só de joias?

— Existem milhares de lojas. — Sâmia falou em um fio de voz, olhando em direção à porta, buscando por socorro.

— Milhares de lojas? Pelo Submundo! Como somos atrasados! Não existe uma única loja aqui. Ah, que felizes são os mortais. Para se conseguir algo aqui, somente através dos mercadores, e muitos ainda nem sempre têm autorização para vir. Os de Ocar principalmente. Temos algumas quando existem as feiras, mas não sabem fazer negócio, simplesmente não sabem. Pense comigo: como é raro, se alguém se dedicasse a isso, ficaria com uma fortuna. No entanto, nossos homens não estão dispostos a extrair as pedras e também não acham que os altos valores por elas sejam justos. Completamente insano, não é mesmo?

Ciclos Eternos - Submundo Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora