Sâmia se levantou e foi em direção ao local onde estava a estátua do rei, porém, antes de alcançar a trilha, viu Annie deitada na grama em posição fetal. Estaria morta? Por um momento, desejou que sim, mas logo se arrependeu e, aproximando-se lentamente, constatou respirar. Ela abriu os olhos.
— Sâmia! Estava sonhando com você!
Isso fez com que ela sentisse o sangue gelar.
— Não estava, não! Não foi real!
Annie sorriu.
— Claro que não foi, por isso disse que foi um sonho.
Annie se sentou e cruzou as pernas como um indígena e abaixou a cabeça por um momento.
— Sâmia, estou preocupada com você?
— Por quê? Foi um sonho ruim?
— Nem tanto. Sonhei que ficava cega, mas não é isso que me preocupa.
— O quê?! Você sonhou que eu ficava cega? E isso não é importante?
— Fique tranquila. Sente-se.
Sâmia estava à beira de um ataque de nervos. Será mesmo que tudo que essa mulher sonhava acontecia?
— Veja bem, não é tão ruim se ficar cega...
— Como não? Claro, não é com você!
— Me escute. — A paciência que Annie tinha, a calma com que expressava as palavras e o olhar sereno, fazia com que Sâmia desejasse matá-la com as próprias mãos.
— Não sei como isso vai acontecer: talvez seja um olho só, talvez os dois, pode ser logo, mas pode demorar. Quando digo que não é importante, é porque você está aqui. Pelo que sei, você ficará até o casamento do Jahean. Se até lá não tiver acontecido, você deve permanecer aqui até que aconteça. Os cogumelos da Agnes podem lhe devolver a visão: eles curam todas as doenças da Superfície e quase todas do Submundo.
— Entendo... — Sâmia não podia deixar de concordar que, ao menos uma vez na vida, a Annie falava algo com sentido. Se até o casamento ela não perdesse a visão, pediria a Leander que fosse embora com ela até acontecer. Assim, ele poderia ajudá-la. De uma coisa ela tinha certeza: não iria ficar lá nem mais um minuto e muito menos ao lado dos recém-casados.
— Mas, Sâmia, como eu dizia, não é isso que me preocupa...
— Tem mais?
— O que está fazendo com você?
— Como?
— Você está bebendo veneno a cada dia, o que chamo de beber doses de desgosto. É um veneno que mata lentamente. Onde está sua motivação de vida?
— Não sei do que está falando.
— Claro que sabe. Sabe desse desespero que grita dentro de você, não sabe de onde vem, nem para onde vai, mas sabe que ele está aí, com todos os seus fantasmas te aterrorizando.
Sâmia não sabia o que dizer. Annie deveria ler pensamentos melhor que o Jahean.
— Já ouvi conversas que na Superfície existem profecias; uma delas é:
"Só não existe jeito para a morte?"
— É um velho ditado por lá.
— Já parou para refletir sobre ele realmente?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ciclos Eternos - Submundo Livro 1
FantasyEsqueça tudo que você acha que sabe sobre o Submundo e seus habitantes. Esse livro mostra um romance mágico, fantástico com valores reais usado em nosso cotidiano. Esse é um livro como você nunca viu!