Ciclos Eternos - Submundo Livro 1

Capítulo 31 - Lembranças do passado

Sâmia estava na fazenda com a Margarette e o Kevin há mais de sete meses. Desde que Kevin a pegou no aeroporto, não conseguiu mais ir embora. Sua mobília havia sido trazida para uma das casas da fazenda e ela continuava pensando no que faria dali para frente. Havia deixado o emprego e Kevin a convencera a trabalhar com ele. Era a única editora responsável na empresa, decidindo quais livros seriam aceitos, o que dava a ela muito trabalho, fazendo com que ocupasse sua mente em tempo integral, principalmente por estar fazendo o que há muito tempo tinha vontade de fazer. Sempre que lia um romance, gostaria de mudar trechos e agora isso era possível. Ela dizia o que deveria ser feito e os autores acabavam fazendo a revisão. Eles viajavam diariamente da fazenda para a cidade de New Jersey, onde Kevin havia aberto a matriz da Editora Star Light.

Era um dia ensolarado e Sâmia estava sentada na grama com Kevin e Big John.

— Kevin, posso fazer uma pergunta pessoal?

— Tem dúvida de que ainda não somos amigos suficientes para tanto?

— Não, é claro que não, mas é realmente muito pessoal.

— Muito bem, então pergunte.

— Você já amou, Kevin?

Kevin a olhou nos olhos quando respondeu:

— Estou amando agora.

Sâmia deu um suspiro. Sim, ela havia notado o sentimento de Kevin. Havia sido a melhor coisa que aconteceu na vida dela desde o período das trevas, mas ainda sentia muita dor. Vendo a expressão de tristeza dela, Kevin tentou consertar o que disse:

— Perdoe-me, Sâmia. Você gostaria de me dizer alguma coisa e eu não falei por mal. Por favor, continue. Quer conversar sobre o que aconteceu?

Já era hora de Sâmia dizer a alguém o que se passava com ela, mas Kevin entenderia? Não queria dizer que foi um namorado que a traiu. Ela precisava dividir sua história inteira com alguém.

— Kevin, promete me ouvir sem dizer que sou desequilibrada?

— Sâmia, por Deus! Eu nunca diria isso!

— E se eu disser que passei três meses no Submundo?

— Passou onde?

— Existe uma terra mágica em algum lugar, bem como um rei que governa todos os reinos.

Sâmia olhava a expressão de Kevin para saber se pelos seus olhos passaria algo como pena, por achá-la doida, ou deboche, mas, ao contrário do que ela pensava, ele apenas disse:

— Continue.

— Há muitos anos eu entrei em um livro que achei num parque, eu odiava a minha madrasta, a quem havia desejado a morte por ter tomado o lugar da minha mãe. Depois que encontrei o maldito livro, ela realmente morreu, deixando meu pai miserável. Eu o vi morrer a cada dia. Um dia achei um exame de sangue numa gaveta; ela estava grávida! Eu havia matado não só uma mulher, mas também a mãe do meu irmão e meu irmão junto!

O livro contava a história do Mundo dos Jogos, um livro que te chamava para jogar e, se vencesse, poderia ter o que quisesse. Eu não sei como isso aconteceu, mas eu tive o prêmio antes do jogo. Eu pedi que o rei a matasse e vi quando as peças de xadrez saíram do livro e levaram Jane para as profundezas, para logo depois meu pai encontrar o corpo dela caído no quarto. Hoje eu penso que a ideia dele não era dar um prêmio a quem vencesse, mas amaldiçoar os que tinham seu desejo realizado a ponto de fazê-los voltar e clamar por misericórdia.

Ela respirou profundamente e continuou:

— Foi o que fiz. Quando vi que meu pai havia perdido o gosto pela vida, eu entrei no livro e caí no Mundo dos Jogos, encontrando o desgraçado rei, que disse que Jane viveria se eu vencesse seus jogos malditos.