Capítulo 10 - Como uma rainha

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Sâmia foi para o seu quarto e dispensou o jantar. Depois de um banho, começou a ler o livro, parou na segunda página e voltou para procurar o autor. Não tinha!

— Por favor, menina, pare de gritar. Está espantando meu almoço.

A garota que estava pendurada na árvore olhava em volta quando viu uma porção de flores azuis que corriam em direção oposta.

— O que era aquilo?

— Aquilo era meu almoço; graças a você, não é mais.

Ela olhou o enorme leão branco à sua frente e disse:

— Não sou idiota. Se eu descer daqui, você me engole!

— Fique aí para sempre, se assim desejar, mas lhe aviso que sou vegetariano.

— O quê?

O leão abaixou a cabeça num gesto de tristeza.

— É uma vergonha, eu sei, mas eu sou assim, é minha natureza.

A menina passou a mão pela perna. A calça havia se rasgado quando subiu às pressas na árvore e um filete de sangue escorria.

— Sua natureza é comer gente!

— Não, não é. A vida lhe dá ao menos duas escolhas a cada vez, e eu escolhi o que me pareceu mais justo.

— Como se chama?

— Leo — disse o leão, agora dando um bote num arbusto e fazendo correr mais algumas das flores azuis.

— Sou Sâmia Rolfe — disse assim que saltou da árvore.

— Entendo.

O leão a olhou e, logo depois, disparou atrás de outras flores que corriam mais ao sul. Segundos depois, ela saiu em disparada atrás dele.

Sâmia fechou o livro e olhou à sua volta. Teve medo de que alguém a estivesse observando. Aquilo não era possível! Voltou a abrir o livro e releu a mesma frase. À medida que seus olhos corriam pelas linhas, tinha mais certeza de que aquela era a sua história, a sua passagem pelo Mundo dos Jogos. Avançou todas as páginas, indo ao final.

"E após vencer o temível Senhor dos jogos, ela devolveu a vida, a sua madrasta e ao seu irmão, voltou para casa e decidiu que nunca mais iria deixar seus sonhos dominá-la, viveria em um mundo real, onde a imaginação ficaria sufocada, em um passado remoto, onde só encontraria o Submundo em seus sonhos, ou pesadelos..."

Fim.

— Meu Deus!

Sâmia fechou o livro e colocou sobre a cômoda. Ficou olhando-o de longe. Ele havia sido reescrito, mas por quem? Sua cabeça pulsava. Deitou-se na cama e seus pensamentos vagaram noite adentro, até que, finalmente, dormiu.

Ela foi acordada por Leander quando já passava das dez.

— Leander? O que aconteceu?

— Vim acordá-la. A Aédi está ocupada com algumas de nossas hóspedes e vim ajudá-la.

Esfregando os olhos, ela se levantou. Ainda não tinha acordado direito, estava cambaleando pelo quarto quando seus olhos pousaram sobre a cômoda onde, na noite anterior, deixara o livro. De repente, sentiu como se estivesse totalmente desperta e puxou Leander para uma cadeira.

— Leander, sente-se. Você precisa ver isso — disse, estendendo-lhe o livro.

Ele folheou o livro sem muito interesse, fechando-o, em seguida, e colocando-o sobre a cômoda.

Ciclos Eternos - Submundo Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora