Capítulo 19 - O Festival

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Com a aproximação do festival, o humor do rei havia melhorado. Não que ele estivesse sendo gentil com ela, mas pelo menos ele não estava sendo rude. Sâmia estava sentada na cadeira entre Leander e o rei, nos lugares de honra da casa. Um grande palanque erguido de rochas formava uma espécie de colcha ao redor do palco.

A multidão estava em posição de meia-lua de frente para a apresentação. Sâmia chegou a se perguntar se o Submundo inteiro não estaria ali: era uma multidão assustadora.

— Pessoas de todos os reinos viajam para assistir ao festival de Agnes — comentou Jahean, olhando para ela, que observava as pessoas.

— Ótima noite, meus amigos. É uma honra tê-los unidos mais uma vez em minha casa para o milésimo festival da Terra Baixa.

— Milésimo? Aquele homem não tinha mais que sessenta anos.

Sâmia se espantou, olhando para o rei que se apresentava.

— Como todos sabem, eu, rei Etoile, faço a todos muito bem-vindos!

Sem mais palavras, o rei ocupou sua cadeira e Agnes entrou com todo seu esplendor. Vestida com uma minissaia de couro preta cheia de tiras, formando uma cortina sobre as pernas, que a tornavam com um comprimento mais adequado para aquele mundo, e uma blusa cinza-claro, com o brilho das estrelas, fez os olhos de Jahean brilharem, satisfeitos.

— Meus amigos, família e convidados, começa agora o grande festival.

Os aplausos começaram.

Durante o tempo que Sâmia havia passado na Terra Baixa, estudou apenas o que fazer durante sua apresentação. Agnes não lhe dava nenhuma pista do que mais iria acontecer. Esse era o segredo do sucesso, dizia ela, nem mesmo Etoile sabia das atrações.

Entraram no palco cerca de oito homens vestidos de preto, com longas vestes e um capô cobrindo o rosto. A iluminação baixou à medida que o toque começava. Uma música envolvente, ritmo meio afro, fazia o coração de Sâmia bater mais forte. Os homens caminhavam cabisbaixos em círculos.

Sâmia viu surgir do chão, como se a terra tivesse se aberto — realmente tinha se aberto! — Uma jovem vestida com um longo vestido branco, com mangas enormes que se agitavam com o vento. Os homens pararam, circulando a jovem enquanto cantava as primeiras linhas, e um ancião se aproximava, tocando uma flauta.

O ancião andava pelo palco e os homens o seguiam a passos lentos. Depois de duas voltas, voltaram-se para a plateia, deixando-o ao centro com a jovem. Os homens estendiam as mãos para frente e, para o espanto de muitos, principalmente o de Sâmia, havia bolas de fogo sobre a palma das mãos.

"Parece um show de ilusionismo" — pensava ela. Só que aqui eles realmente tinham chamas nas mãos.

— Agnes sabe como conquistar a plateia. — O rei olhava para ela e sorria.

Sâmia se limitou a concordar com a cabeça. Por que ele estava falando com ela?

A segunda apresentação foi uma dança curiosíssima, onde trinta homens, todos vestidos de azul e branco, realizavam uma música no ar! Seus corpos deslizavam a meio metro do chão, cantavam sem abrir a boca! Mas a música vinha de onde?

— A música deles vem da alma — disse o rei, como se estivesse lendo seus pensamentos.

Sâmia não entendeu uma palavra do que cantavam, mas a melodia era profunda. Realmente deveria vir da alma. Houve inúmeros shows e ela não imaginou que passariam a noite por lá. As pessoas estavam alegres. Havia muita bebida e comida sendo servida. Estava admirada! Como as coisas aqui se pareciam com o que eles chamavam de Superfície! Na Terra, os idiotas brincavam de magia, e os inconsequentes daqui brincavam de mortais.

Ciclos Eternos - Submundo Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora