4 - A salvo... Será?

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Larguei o telefone e me virei, eu tinha duas alternativas, correr para fora dali ou tentar alcançar alguma seringa com calmante na farmácia, e eu escolhi a segunda opção. Corri ate a farmácia em busca da seringa, mas antes que eu pudesse pega-la um empurrão me chocou contra a parede, minhas costas bateram com força e perdi o fôlego por uns segundos, antes que eu caísse no chão o homem já estava em cima de mim, ainda atordoado olhei para ele e o reconheci, era o paciente do quarto 245.

Instintivamente estiquei minha mão direita fechando- a em uma seringa que cravei em seu ombro, para meu azar não havia nada na seringa, porem o susto fez com que ele se afastasse de mim, sua expressão era de raiva quando tirou a agulha então seus olhos brilharam de desejo e divertimento, eu estava sozinho, os enfermeiros já devia ter chegado, mas eu ainda estava sozinho e com um psicopata estuprador bem a minha frente.

Olhei para os lados, eu não estava muito longe da porta, era só chegar ate ela que eu escaparia dele, me virei para engatinhar, cheguei bem perto então ele me pegou pela cintura e me jogou de volta a parede, "ele esta brincando comigo." Pensei ao ver seu sorriso sádico.

Olhei para a prateleira e vi o brilho de uma tesoura, não havia outro jeito, eu teria de fazer, de novo.

- pode lutar bonitinho, o fim será um só. – disse ele rindo.

- vai se fuder babaca. – rosnei para ele.

Rapidamente me pus de pé o corri em direção a tesoura, porem mais uma vez meu plano fracassou, era um gato brincando com um rato, o no caso eu era o rato. Ele me segurou pelos pulsos me prensando contra a bancada, seu corpo colado no meu e seu hálito quente em minha nuca.

- chega de brincadeiras. – disse ele me segurando firme, juntei todo meu fôlego e gritei.

- ARTHUR. – me perguntei depois, porque gritar o nome de outro louco ao invés de gritar socorro?

- não adianta, ninguém vai atrapalhar nossa festinha hoje gracinha.

Senti suas mãos percorrendo meu corpo então me lembrei de tempos passados, dos olhos azuis acinzentados que me olhavam, nunca me esqueci dos olhos, eles contavam toda a maldade de uma alma perturbada, então como se fosse ele ali ouvi novamente as palavras que me perseguem por anos. "não vou mentir e dizer que vai ficar tudo bem, porque não vai... e a culpa é sua."

Fechei com força meus olhos para afugentar as lembranças, não era hora para ficar relembrando o passado, eu estava em perigo naquele momento e tinha que fazer algo. E então em questão de instantes tudo sumiu, as lembranças sumiram junto com as mãos que me apertavam e o corpo que me pressionava contra o balcão, eu ouvia os sons abafados mais não abri meus olhos, deixei meu corpo escorregar ate estar sentado no chão e fiquei apenas ouvindo ate que novamente fui segurado e puxado contra seu corpo.

- como saiu de seu quarto? - perguntei em voz baixa.

- a porta estava destrancada. – Arthur me segurava e apertava contra seu corpo.

Olhei para trás dele e vi o corpo estirado do paciente 245, seu rosto era pura destruição e seus braços estavam dobrados, porem para o lado errado, ele não estava morto, o que me deixou um pouco frustrado.

- você quebrou os dois braços dele. – olhei em seus olhos, não havia emoção alguma La.

- a culpa é sua, por me fazer gostar de você.

 – um choque percorreu meu corpo, novamente aquelas palavras, "devo ter um ima para loucos." Sorri para ele que retribuiu com um dos sorrisos mais lindos que já vi em minha vida.

Arthur arrastou o corpo do 245 ate o quarto e largou-o La então voltou para seu quarto e eu sai em direção a recepção, ate aquela hora ninguém tinha aparecido o que era muito estranho, tão estranho quanto o fato de um paciente que sempre esta preso aparecer livre no meio do corredor, "eu o vi logo cedo e ele estava com a camisa de força." Parei no meio do caminho e massageei as laterais de minha testa, minha cabeça começava a doer.

A recepção estava completamente vazia, vozes vinham da sala ao fundo, me aproximei devagar e pela porta meio aberta os vi lá, todos estava lá dentro em silencio, alguns balançavam a perna como se estivessem impacientes com algo. Na mesma hora voltei para meu posto e me pus a conferir as portas, algumas estavam trancadas, e outras não, era como se alguém quisesse que eles fugissem, por sorte apenas um saiu, ou melhor dizendo, apenas dois.

Fui ate o quarto do Arthur e entrei em silencio, estava completamente escuro, ele não estava na cama nem em sua poltrona, fechei a porta e logo fui surpreendido por seu corpo atrás do meu, sua boca desceu ate meu ouvido e sua voz rouca saiu em um sussurro.

- veio me agradecer por ter salvado sua vida?

- vim saber se alguém alem de mim entrou no seu quarto. – respondi.

- ninguém entra no meu quarto, a menos que queira paz. – ele riu ao dizer "paz". – é isso que você quer? Paz?

- não. – me virei para ele, Arthur me olhava profundamente, seus olhos tinham um brilho perigoso, porem lindos demais para desviar os olhos. Eu não fiz nada nem faria nada para pará-lo, apenas deixei me levar.

É da natureza do ser humano ser atraído pelo que pode lhe ferir, por mais medo que tenha, o homem precisa ter um pouco de adrenalina correndo nas veias para dizer que sua vida valeu á pena. Aquilo que não se pode ter é exatamente o que ele vai querer pelo simples fato de ser algo difícil.

Arthur era o meu alvo difícil, a coisa impossível que eu decidi querer e o perigo que despertava a adrenalina em minhas veias suficiente para dizer que valeu a pena cada minuto.

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