8- Lhe prometo a liberdade.

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Algumas coisas na vida não se pode esquecer, não da pra fugir e nem tentar mudar, porem, não há forma de se acostumar com elas, de ignorá-las e fingir não existirem. Meus pesadelos são constantes, e a cada noite eles parecem serem ainda piores embora seja sempre iguais, acordo cansado, dolorido como se tudo tivesse acontecido de verdade.

- você esta bem Thom?

 _me perguntou um dos policiais ao me ver entra na recepção da ala D. seu nome era Luiz, tinha um corpo bombado, porem era uns 10 centímetros menor que eu, mantinha sempre uma barba bem aparada e negra que realçava inda mais seus lábios vermelhos, cortava seu cabelo sempre na maquina 2 e tinha um belo par de olhos azuis piscina capazes de sorrir mesmo quando sua expressão se mantinha seria, era muito atraente e conservado para um homem de 40 anos.

- estou sim Luiz,só não dormi direito. – respondo com um sorriso educado.

- insônia? – sorriu de volta.

- é. – dei de ombros.

- porque não fala com o dr. Breno? Ele pode ti receitar um calmante, eu imagino como deve ser estressante pra você, o calmante pode ajudar.

- você tem razão, vou ver com o Dr. Mais tarde. – eu não queria estender a conversa, mas calmante nenhum poderia me livrar dos pesadelos, eu desisti de tomá-los quando percebi isso. 

– agora vou indo, tenho muito trabalho hoje.

- tudo bem, e qualquer coisa pode me chamar.

- ta bom, tchau.

Prossegui para meu posto e iniciei meu trabalho, passei em todos os quartos, o 245 estava em isolamento na sala que chamavam de purgatória, não fui procurá-lo La, não era preciso, eu sabia que apesar de tudo ele estava bem, o que La no fundo me irritava.

- bom dia Arthur. – disse adentrando seu quarto, ele me olhou de relance e com um gesto de mão me mandou aproximar-se.

Fechei a porta e caminhei ate o lado de sua poltrona onde ele tinha colocado uma poltrona semelhante a dele para mim, sentei-me enquanto ele continuava a olhar pela janela. Arthur estava ainda mais lindo, seus olhos eram uma tempestade enquanto seu rosto era pura calmaria. "as pessoas mais calmas são as que têm a mente mais barulhenta." Ouvi alguém dizer isso um dia.

- você parece cansado. – ele me tirou de meus pensamentos com sua voz grossa.

- ah, eu estou bem. – respondi o que sempre respondo com um meio sorriso.

- suas mentiras podem enganar os outros, mais eu ti vejo como você é Thomas.

 Arthur estendeu a mão tocando com as costas dela em minha bochecha direita, o calor dela pareceu aquecer todo meu corpo, abri um largo sorriso sentindo seu carinho. 

– diga-me, o que tem ti atormentado.

- não é nada de mais, apenas tive um pesadelo. – meu sorriso sumiu ao lembrar-me, "porque não posso dormir como todas as outras pessoas e ter sonhos normais como todos?" me perguntei por um momento.

Arthur segurou minha nuca e me puxou de encontro a ele, seu beijo era calmo capaz de me acalmar também. Apesar do cansaço me senti revigorado. Não foi um beijo longo nem curto, mas foi perfeito, quando interrompi o beijo ele estava me encarando.

- não tenha medo dos seus pesadelos, não há nada que você possa fazer para mudá-los por isso são tão assustadores... eles vão acontecer de qualquer maneira.

- que palavras animadoras. – digo revirando os olhos, Arthur riu e me deu um selinho.

- não são animadoras, mas são verdadeiras.

- eu só queria não te-los o tempo todo. – murmurei.

- você nunca vai deixar de ter pesadelos Thomas, mas o fato de você temê-los os torna maiores e mais assustadores, enfrente-os e aceite os como são, os pesadelos são o reflexo da pior parte de nossas mentes e você não deve temer sua própria mente. - tornou a olhar através de sua janela fiquei por um tempo o olhando, não entendia como uma pessoa não enjoaria daquilo.

- você não cansa? De olhar sempre para a mesma coisa?

- não. – respondeu de pronto. – não é a mesma coisa, a cada dia alguma coisa muda.

- do que adianta ver as coisas mudarem e continuar preso aqui dentro? – eu disse sem pensar e ao ver que minhas palavras podiam magoá-lo eu tentei me desculpar, porem Arthur não me deu tempo.

- eu estou preso aqui dentro Thomas, mas ainda assim estou mais livre que você. – seus olhos me penetravam.

 – você esta preso em seus próprios medos.

- como pode dizer essas coisas como se me conhecesse? – suas palavras haviam me incomodado. – você não me conhece, não sabe do que tenho medo, você não conhece meus medos.

- eu vejo  MEDO em seus olhos. – disse segurando meu queixo com firmeza.

Não sei o que me incomodou mais no momento, ele me encarar tão fixamente ou eu sentir que ele podia ver mesmo minha alma, era assustador e ao mesmo tempo fascinante pois nunca ninguém enxergou tão fundo em minha alma.

Sem ter o que dizer apenas me levantei para sair da sua presença. Arthur fechou sua mão em meu pulso me impedindo de me afastar, com um simples puxão tirou o equilíbrio do meu corpo me fazendo cair em seu colo, minhas pernas ficaram penduradas sobre o braço da poltrona enquanto meu rosto foi comprimido contra seu peito pelo abraço apertado que ele me deu. Ele parecia me ninar em seu colo, a sensação de proteção tomou conta de mim e ali eu tinha certeza, nenhum monstro, nenhum pesadelo poderia me alcançar.

- não se preocupe meu bebê, eu vou ti libertar, você vai ser tão livre quanto eu um dia. – ele sussurrou para mim então tocou seus lábios no topo de minha cabeça.

 – vou ti dar a liberdade.

- que liberdade? – perguntei num sussurro.

- a minha, ti darem a minha liberdade e nunca mais vai temer seus pesadelos. – Arthur levantou meu rosto e me beijou, não me deixou sair de seu colo por muitos minutos, eu já estava apaixonado por aquele psicopata, perdidamente apaixonada por ele.

Passei o dia com suas palavras martelando em minha cabeça, "...eu vou ti libertar..." Arthur tinha certeza de que era mais livre que eu, e por um momento eu cheguei acreditar nele, afinal, ele é ele mesmo, não se esconde atrás das aparências, não tem medo de dizer o que quer e nem de fazer o que quer mesmo dentro de um hospício como esse, e quanto a mim, vivo dentro de mim mesmo, digo o que é preciso e quanto é preciso, me olho no espelho e sei que não sou eu mesmo que vejo refletido ali.

Talvez Arthur seja mesmo mais livre que eu, porem a pergunta que não sai da minha mente é "será que ele pode mesmo me dar a liberdade dele?" no fundo eu sabia que sim, mais ainda tinha medo, medo de dizer quem eu sou, medo de mim mesmo. A liberdade pode não valer de nada para a pessoa que não sabe o que fazer com ela.

As pessoas vivem pondo a culpa em monstros que não existem, se escondem com medo de demônios assustadores que assolam a sociedade e manifestam entre si atos cruéis, mas essas pessoas não vêem que esses tais demônios são nada mais nada menos que seres humanos. Esta dentro do homem o monstro do qual ele mais teme.

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