V

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Ainda era escuro, não parava de girar ao redor, podia sentir. Ainda segurava firme na mão de Nico, com medo. Ficamos assim por uns cinco minutos.

- Pode abrir os olhos agora - ele disse quando tudo parou.

Abri os olhos e estávamos em outro lugar.

Grama seca, árvores altas e calçada de pedras brilhantes, lugares enormes que pareciam estúdios de filmes e ao lado um enorme letreiro escrito em enorme letras Hollywood.

- Estamos em Los Angeles? - gritei.

- Sim! - disse - Por que?

- A mais de dois mil e oitocentos quilômetros de Long Island? Sério?

- Como você sabe?

- Eu não sei... - pisquei os olhos - É uma distância, e tem velocidade, que é tempo... Eu não sei, Nico! Por que me trouxe para o outro lado do país?

- Eu não sei! Só queria ficar o mais distante possível.

- Não podia nos levar, bem... - fingi pensar - Para Nova York?

- Sim, mas... - ele abaixou a cabeça.

- Legal! - fingi animação. - Vamos para a praia, é aqui pertinho, ou podemos visitar a calçada da fama!

- Mas que arrogância.

- Você também é muito gentil, Nico! Obrigada.

- O que você esperava, Lydia? Não íamos para o mundo inferior, isso aqui é melhor do que nada!

Um silêncio se formou, nem percebi mas ainda estávamos de mãos dadas. Tirei minha mão e comecei a observar o lugar. Não era tão ruim assim.

Senti um enjoo na barriga, acho que o café da manhã está voltando.

- Nico... Como Chegamos aqui?

- Viajamos nas sombras - diz encostado numa árvore. - Foi muito difícil, é longe e ainda tinha você.

- Está me chamando de gorda? - falo brincando.

- Não, claro que não.

- Então porque estamos aqui?

- Você queria ser salva ou não? Aquele pessoal não ia se abaixar e dizer "Salve Lydia! Filha de Cronos!" e depois "oh não! Ela vai nos matar!".

- Não! Mas... As pessoas podiam me aceitar do jeito que eu sou! Eu não sou do mal, sabia?

- Sério? Nem notei

- Nico me leva de volta, por favor.

- Mas... Você não quer... Aproveitar que estamos aqui e explorar a cidade? Essa viagem me esgotou.

Pensei um pouco, esse garoto não tem cabeça, só ele podia me levar de volta. Eu não vim preparada, não tem nem como voltar.

- Tudo bem, senhor morte. Vamos lá.

***

- Para onde vamos? - perguntei.

- Não sei, aonde quer ir? - ele perguntou enquanto caminhava pelas calçadas de Beverly Hills.

- Não sei, que tal fazer compras?

- Sério? - ele arqueou uma sobrancelha. - Tudo bem.

- Tem uma loja da Chanel aqui perto... - falei brincando.

Ele sorriu. Um milagre deuses!!

- Uma peça de roupa, só uma! Não tenho tanto dinheiro mortal... - diz - Só se aceitarem dracmas.

- A Chanel é para lá - vamos para a direita.

Uma dica: se você é um semideus, fique super atento a monstros, principalmente se for fazer compras. Aprendi isso do jeito difícil.

- Acho que você nunca veio numa Chanel - falo para Nico.

- Nem você - ele diz olhando as roupas que escolhi para experimentar.

Eu não exagerei... De vinte sobram dez, de dez sobram cinco até ficar só uma.

- O que acha dessa branca? - mostro a blusa na mão esquerda.

- Prefiro a preta - ele aponta para a outra que seguro na mão direita. Que novidade.

- Posso ajudar? - perguntou uma das atendentes da loja que surgiu do nada.

Essas atendentes as vezes me dão medo, surgem do nada!

- Hm... Sim, quero experimentar essas roupas.

- O provador é por ali - ela aponta para um canto da loja.

Vou até lá, Nico se levanta e me olha como se dissesse: cuidado.

Faço um sim com a cabeça e continuo a andar. Subimos uma escada branca enorme e chegamos em outra parte da loja onde tem vários provadores brancos, e a parede deles vai até o teto, as portas são de madeira também branca.

Entro em um deles e coloco as roupas no gancho, a porta se fecha rápido atrás de mim. Era só o que me faltava.

***

Ouço um sibilar de cobra , aquela atendente era um monstro, acho que uma empousa ou uma górgona! (aulas de mitologia serviram para alguma coisa!). O.k. Tem uma górgona em Los Angeles.

- O chefe vai ficar muito feliz com uma semideusa herdeira de Cr... - ela fala.

- O que? - digo batendo na porta mais está trancada. - Me deixa sair daqui sua cascavel!

- Não! Você não vai até...

- NICO! - grito o mais alto que posso.

- Será que você só vai me interromp...

- LYDIA! - ouço ele gritando.

Olho por baixo da porta, a górgona foi atrás dele, e se tivesse mais outra? Se fosse a Medusa já teria me transformado em pedra.

Não consigo me concentrar, a raiva é mais forte, nem uma arma ou espada eu tenho.

Tento chutar a porta, mas é como tentar quebrar bronze celestial.

Meu bolso fica mais pesado, é o relógio de bolso.

A Herdeira de Cronos • pjoOnde histórias criam vida. Descubra agora