Uma Única Barreira
Banheira era um grande "pote", um pouco maior que eu, que era cheio de água fria, ótima nesse calor.
Me despi e fiquei pensando que, se Bruno me ofereceu esse banho, será que ele gostava de mim?Quando saí, tinha uma roupa me esperando. Ela era simples : uma camisa com uma bermuda embutida, de um tecido fino Branco.
Coloquei a mesma e voltei para a senzala. Estava ocorrendo um tipo de comemoração.- O quê é isso? - perguntei a Lori.
- Eles disseram que é uma comemoração por receberem novos " irmãos de cor ".
- Quer dizer novos escravos?
- Não diga isso - ela parecia ofendida, o que eu não entendia pois era a verdade - Olha... Só tenta relaxar, tudo bem? Até os... escravos... Tem de se distrair um pouco.
- Tudo bem - disse e me sentei perto de Mãe Jani que se encontrava em um canto.
Percebi que Lori havia hesitado em dizer a palavra "Escravos ". Não sei qual era o problema dela com isso, era nossa realidade agora.Percebi que alguns homens faziam uma espécie de luta. Achei aquilo interessante e, tomando coragem, perguntei a Mãe Jani :
- O quê é isso que eles estão fazendo?
- Se chama capoeira. Eles usam para distrair os senhores e então...
- Então o quê? - perguntei, ansiosa.
- Nada. Mais alguma coisa que você queira saber minha flor?
Pensei por um instante. Sim. Eu queria saber o que acontecia com os escravos caso eles desobedecem os senhores.
- Qual o tipo de castigo empregado pelos senhores? - pergunto rápido.
Ela pareceu surpresa e ao mesmo tempo, triste.
- Não quero te antecipar com isso, mas você verá - Ela disse se afastando. Olhei ao meu redor, todos pareciam estar felizes, ou pelo menos fingindo estar.
₩
5 de novembro de 1886
Estar todos os dias com Bruno parecia um sonho. Infelizmente, fazia um tempo que eu não ia na Banheira, mas esperava todas as vezes que ia visitá-lo.
Já estava me acostumando com aquela rotina. Depois de um tempo o trabalho foi ficando mais fácil, e me acostumei em ir na casa.
Quando estava indo em direção a casa de Senhor Viana, Lori me chamou :
- Oi sortuda!
- Do que você está falando Lori?
- Você está todos os dias com Bruno e ainda pergunta?
Ri das asneiras que ela falava. Não sabia exatamente o que Bruno sentia por mim mas não era nada de tão grandioso.
- Acho que ele está apaixonado por você.. - Ela disse com um sorriso.
- Apaixonado? - disse visivelmente feliz, mas ao mesmo tempo confusa - Então... Ele gosta de mim?
- Gosta? Ele te ama! Pode confiar. - assim que terminou sua frase, me abraçou e disse para não perder a oportunidade de ver Bruno
Corri até a casa dele e quando cheguei lá, ele estava me esperando.- Olá, Maria. Hoje teremos uma ocasião um tanto... Repugnante.
Sem entender muito, fui levada junto dele a um lugar que eu conhecia bem.
Era em uma árvore perto da senzala, porém havia algo diferente nela. Havia um escravo que tinha visto quando cheguei aqui. Ele estava amarrado e um escravo da casa continha um objeto estranho na mão : uma tira de couro cru.Quando menos esperava Bruno já estava ao lado de seu pai que começou a falar :
- Isso que veremos agora é uma amostra do que vocês escravos terão se tentarem fugir - Sr. Viana disse.
O escravo da casa começou a bater com a tira de couro cru no escravo amarrado, que gritava de dor.
Não conseguiria ver aquilo, virei meu rosto e fiquei olhando para a senzala.
"Isso não pode acontecer comigo" - pensava. Eu gostava de estar todos os dias com Bruno. Eu não queria fugir. Ou eu queria sem saber?Quando os gritos se sessaram, olhei novamente. As costas do escravo amarrado estava cheia de cortes que seriam praticamente impossíveis de cicatrizar.
- Você não queria saber a punição - disse Mãe Jani séria - Agora sabe - completou e se retirou de cabeça baixa.
Bruno veio até mim, depois fomos até perto de seu pai.
- Aquilo foi... - disse abaixando a cabeça.
- Horrível, eu sei - Ele falou levantando minha cabeça e me olhando nos olhos - Mas necessário.
- Não.. - murmurei. Por que Bruno, uma pessoa que parecia tão doce e cavalheiro, poderia achar aquela barbaridade "necessário "?
Nisso, eu discordava.*Capítulo Dedicado a Vitória Chagas, por encher o meu saco todos os dias para postar novos capítulos*
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Uma única barreira
RomanceCapa MARAVILHOSA por : @AudreyHansol Outubro de 1886. Malika deixou a África de mãos vazias. Foi contrabandeada para o Brasil. Já sabia o que a lhe esperava. Ser escrava. Assim que chega em território brasileiro conhece Juliano e Bruno. Os irmãos...