Sexto Capítulo

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Uma Única Barreira

Chegamos ao local que tanto Pedro me falava : O quilombo.
Um lugar organizado, onde todos trabalhavam. Um paraíso para escravos fugitivos.
Quando iria entrar ali, ouço uma voz conhecida :

- Maria! - Não. Não podia ser ele. Como ele veio parar aqui?
Continuo andando ignorando-o, mas ele insiste em me chamar.

- O que você está fazendo aqui?? - pergunto.

- Maria eu...

- Malika - digo - Meu nome é Malika.

Olho para Pedro que tem um olhar surpreso e ao mesmo tempo, encorajador. Como se disesse : "Vá em frente".

- Eu te segui. Eu sei que eu posso te...

- Quantas vezes eu tenho que dizer que eu não quero a sua ajuda, Juliano?! - grito.
Ele não desistia fácil. Prometi a mim mesma que não confiaria mais em brancos.

- Você não entende, eu sou um abolicionista!

- Um o quê?

- Um abolicionista. - foi a vez de Pedro falar. Pela primeira vez pensei qual seria seu verdadeiro nome. - Ele apoia a nossa causa... Ele quer a abolição da escravidão.

- Sim. Posso ficar aqui por um tempo. Ajudá -los. Para entender melhor o quilombo - Ele dizia isso olhando ao seu redor, admirado.

- Olha.. Tenho que pensar nesse assunto e... - Pedro continuou

- Não! Ele é Branco certo? Não pode ficar aqui! - disse desesperada.

- Malika, não é você quem manda aqui - abaixei minha cabeça, envergonhada. - Sim. Você pode ficar aqui por um tempo.

- Ótimo - Juliano sorriu - Ficarei aqui por um mês.
Não acredito! Saí da senzala para me afastar daqueles irmãos, agora um deles me segue até aqui?

Pedro nos leva até um local onde iremos durmir, todos nós estávamos cansados, e algo me dizia que esse um mês com Juliano, seria mais longo do que eu imaginava.

Primeiro de Dezembro de 1886.

Acordei naquele dia e fiz minhas atividades do quilombo : plantar e colher grãos.
Quando acabei, fui brincar com as crianças que pareciam estar sumidas.

- Olá... Juliano? - quando cheguei mais perto, vi todas as crianças ao redor de Juliano mexendo no seu cabelo liso, surpresa com seus olhos de um Verde espetacular e com sua cor...
Espera eu falei que seus olhos eram espetaculares?

- Olá Malika! Acho que surpreendi essas crianças - Ele disse alargando aquele sorriso.

- Se elas soubessem o quanto você é repugnante.

Nesse mesmo momento, sua expressão se fechou.

- Sou um abolicionista. Não respondo pelas atitudes de meu pai.

- Mas também não faz nada contra elas. - digo e saio dali.
Não me importava se Juliano apoiava os escravos, não gostava de ter sua companhia.

3 de Dezembro de 1886.

Encontrei Juliano plantando em um canto. Ele estava sempre mais distante dos outros escravos. Não foi fácil para nenhum de nós conviver com um Branco, num lugar de negros fugitivos.
Acho que já tinha perdoado Juliano, mas ainda era difícil estar com ele.

- O que vai falar para seu pai quando voltar? - perguntei a ele.

- Não sei - respondeu - Acho que direi que fui atrás de um escravo, bati a cabeça e acordei agora.

- O quê? - disse surpresa.

Ele sorriu.

- Eu sei. Não tenho pensado em nada ultimamente.

- Acho que você não tem pensado bem ultimamente.

- Sim- ele alargou o sorriso - Deve ser isso. Todos nós pensamos afinal.

Me sentei ao seu lado. Sim, conversar com ele... Era uma sensação inexplicável.

- Estava pensando a um tempo - começo - Como consegue fazer... Poesias com tanta facilidade?

O sorriso não saía de seu rosto.

- Anos de prática. - Ele respondeu e saiu.
Eu fiquei ali, sentada naquele chão de terra, pensando em tudo que eu passei até aqui, e que as coisas estavam melhorando.
Sim, eu podia me considerar feliz.

*De acordo com meus cálculos, eu postei antes de completar uma semana, então estou no lucro*

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