Décimo Nono Capítulo

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Uma Única Barreira

14 de Março de 1888.

Acordo olhando para o lado vendo Lori e um sorriso se forma em meu rosto.

- Bom dia! - dou um grito.
Ela acorda bruscamente e me olha com uma cara brava.

- Malika! - diz ela se sentando.

- Lori. - digo sorrindo.

- O que foi? - ela pergunta franzindo a testa.
Penso em tudo que relembrei ontem, queria me abrir para ela, ser sincera.

O medo estava mais forte, minhas mãos suavam, e eu não sabia se tinha certeza do que queria. Aqueles segundos de silêncio pareciam levar horas.
Pensei mais um pouco e decidi que, não ocultaria toda a verdade dela.

- Tenho saudades. - digo num sussurro.

- Do que? - pergunta.

- De casa, de liberdade, de Mãe Jani... De tudo que um dia eu tive e deu valor. E que agora não tenho mais. - olho para ela com os olhos marejados, esperando consolo.

Lori me abraça, e eu me sinto mais segura.
Ela é tudo o que eu tenho de mais precioso nesse momento.
Ficamos ali por um bom tempo, até que ela finalmente me solta e me olha nos olhos.

- Não sei direito pelo que você passou, mas estou aqui. - diz ela.
Sorrio e sinto que estamos cada vez mais próximas.

- E Juliano? - ela pergunta.
Sinto meu coração se apertar.

- Eu gosto dele. - digo rapidamente

- O quê?! - ela pergunta.
Segundos depois, ela gargalha verdadeiramente.

- Lori, eu não gosto dele! - ela diz afinando a voz.

- Espera... Eu não falo assim! - digo fingindo estar com raiva.

- Tudo bem... Agora vamos? - ela pergunta apontando para a entrada.

- Sim.

Chegamos na senzala, deitamos e olhamos para o teto.

- Ai... - murmuro quando sinto algo nas minhas costas, assim que deito.
Me levanto e busco o que estava me incomodando. Me surpreendo ao ver que era um papel dobrado.

Olho para Lori que está com uma sobrancelha levantada, fazendo uma careta. Dou uma risada e tento imitar sua expressão.

- Deveríamos abrir? - sussurro.
Ela não me responde.

Em um movimento inesperado, ela pega o papel de minha mão me fazendo soltar um grito de desaprovação. Ela ameaça sorrir, mas fica com uma expressão séria.

- O que foi? - digo.
Ela me entrega o papel, me fazendo perder o ar.

O papel continha um pequeno texto, com uma letra impecável que eu conhecia bem. Nele dizia; Amanhã à noite depois da saída da Fazenda, vire a sua terceira esquerda e siga reto até encontrar um lugar familiar. Te espero.

- Nossa... - murmuro.

- Ele te ama! - Lori grita.

- Quem... c-como... - tento dizer, mas não consigo. Estou muito surpresa.

- Juliano! Eu te ajudo! Você vai! - ela diz tudo muito rápido, como se ela estivesse ansiosa.

- Lori eu... Você é muito importante pra mim! Obrigada! - falo e abraço.
Novamente ficamos assim por um tempo.
Penso por alguns segundos tentando saber que lugar seria aquele. Nada me veio a memória, então apostaria na sorte e no meu senso de direção.

Fecho os olhos ainda com a cabeça lotada de pensamentos. Seria mesmo Juliano?
Amanhã seria um longo dia, um dia de grandes esperas, de grandes emoções e de grandes amores.

* Demorei mas... VOLTEI! Será que é Juliano? Não sei... Boa leitura e até o próximo capítulo! *

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