Uma Única Barreira
Vou andando por entre as árvores da fazenda e uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Tudo isso deveria acabar. Por quê todas essas pessoas sofrem? Por que Juliano, que quer ajudar essas pessoas, recebe essa medida punitiva?Por um segundo, volto ao passado, relembrado todas as coisas pela qual já passei. Senti saudades de minha mãe, que não conseguiu nos acompanhar até o final dessa jornada. Sinto saudades de Lana, que sempre esteve comigo nos momentos felizes e tristes, mas que não esteve comigo no momento em que eu mais precisava dela. Sinto saudades de Mãe Jani, que por um tempo, me fez esquecer de todas as coisas ruins que sentia. Sinto saudades de liberdade.
Então, também lembro das coisas boas. Lembro da minha amizade com Lori, lembro das noites de festa na senzala, lembro dos dias que passei no quilombo, lembro da feijoada que Mãe Jani fazia, lembro de...
Lembro de Juliano, que mesmo quando eu não queria sua ajuda, quando não queria sua presença, ek e estava lá.Alguém encosta em meu ombro. Meu coração palpita mais rápido uma pitada de esperança cresce. Seria ele?
Me viro rapidamente, para minha amargura era alguém que não merecia ser comparado com Juliano.- O que você..? - tento perguntar mas sou impedida por seus lábios grudando nos meus.
Um gosto amargo invade a minha boca e eu empurro.- Bruno! O que está fazendo? - digo.
Ele chega mais perto.
Percebo a gravidade da situação. Não tenho mais nenhum Juliano para me definir daquele cretino.- Como assim o que estou fazendo? Antes você gostava disso. - ele me beija mais uma vez e eu o empurro novamente.
- Pare! - digo, desesperada.
Ele me olha de cima a baixo.- E desde quando você da às ordens por aqui? - ele me puxa para perto e eu me debato contra seu peito.
Soco ele várias vezes consecutivas até que consigo atingir seu ponto fraco.- Sua vadia! - exclama ele.
Logo em seguida, sua mão vem em direção ao meu rosto e sinto minha visão falhar.Uma forte dor me invade e tudo o que eu consigo fazer é tentar segurar as lágrimas de dor que insistem em cair.
Meu olhar está apavorado em direção a Bruno, que permanece curvado, tentando se recuperar da dor e quando ele levanta o rosto, vejo que está com um corte na testa.Medo é a única sensação que tenho. Ele se aproxima de mim e cospe no meu rosto.
Sinto nojo e repulsa, mas continuo parada, temendo o que ela possa fazer.- Se você fosse um pouco mais importante pra mim... - ele diz. - Dessa vez, eu ignorarei o que você fez. Se bem que... - ele olha pensativo para a casa.
Não entendia o que ele queria. Tudo que pensava era o quanto eu queria entrar naquele lago, para me sentir menos suja.
Porém não poderia fazer isso, teria que esperar mais um pouco.- Se alguém lhe perguntar, você não viu nada. - diz ele.
Ele caminha vagarosamente em direção a casa.
Seus cabelos loiros grudados na testa, seus olhos castanhos realçados por conta do sol.
Bruno realmente é encantador, se não fosse tão nojento.Quando perco ele de vista, corro rapidamente até o lago e mergulho no mesmo, me sentindo instantaneamente mais limpa.
Sentir aquela água balançando no meu cabelo e em meu corpo, era uma sensação que não tinha preço.Olho para o céu e vejo estrelas começando a aparecer. Me levanto, esfrego um pouco o rosto no local onde Bruno havia cuspido.
O outro lado do meu rosto ainda lateja um pouco, mais nada de muito insuportável.Saio do lago e vou diretamente até a senzala, onde durmo profundamente, mesmo encharcada.
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Uma única barreira
RomanceCapa MARAVILHOSA por : @AudreyHansol Outubro de 1886. Malika deixou a África de mãos vazias. Foi contrabandeada para o Brasil. Já sabia o que a lhe esperava. Ser escrava. Assim que chega em território brasileiro conhece Juliano e Bruno. Os irmãos...