Décimo Segundo Capítulo

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Uma Única Barreira

Acordo com minha mãos dormentes. Abro os olhos lentamente e reconheço aquele teto. Eu estou na senzala.
Tento levantar minhas mãos, porem a dor me consume e dou um grito. Olho ao meu redor e vejo o que eu temia; Escravo gemendo de dor, com marcas avermelhadas em linhas horizontais e verticais em sua pele.

Mãe Jani chega até mim e eu a olho, feliz em vê - la ali. Sabia que estava em boas mãos.

- Que bom que acordou, Malika - ela diz.

- Penso o mesmo - minha voz sai fraca e um tanto desafinada.

- Sua atitude foi muito arriscada - ela diz, com um olhar preocupado - Você poderia ter morrido!

- Eu sei, mas Lori não merecia isso. Eu consegui dete-lo? - tinha medo que minha atitude fora em vão.

- Não.... - ela diz.
Tento me levantar mas um simples movimento que faço com minhas mãos, me faz sentir absurdas dores. Desesperada, consigo me manter sentada com os cotovelos, ignorando os apelos de mãe Jani para parar.
Olho em volta procurando Lori e a vejo.
Lágrimas descem sem parar e meu único consolo é : Ela não está morta.
Lori está deitada com as costas para cima, um pano por cima da mesma, conversando com alguém em seu lado. Pedro.

- Lori! - grito.
Ela olha pra mim, tenta se levantar mais desiste e da um gemido de dor.
Pedro a olha e a consola, ela novamente me olha e sorri, acenando com a cabeça, como se dissesse "Obrigada".
Sorrio de volta e finalmente volto meu olhar para mãe Jani que parece ocupada com outra pessoa.

Novamente eu me deparo olhando ao redor e pensando o porquê de eu não poder estar ali ajudando . Em comparação com os outros, eu tinha um pequeno corte nas mãos.
Finalmente, segurando os gemidos de dor que tentavam escapar, levanto minhas mãos e vejo como estão as mesmas.
Um corte vem de a ponta da minha mão direita até a ponta da esquerda. Era a marca da tira de Couro cru.

Era isso que eles faziam conosco, nos torturavam e nos matavam aos poucos. Brancos, os únicos porcos e repugnantes daquele lugar, como eu poderia conviver com eles olhando para minhas mãos e vendo o estrago que um deles fez? Simplismente não poderia.
Me deito novamente e tento esquecer que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Apenas tentar.

Desperto e noto que mãe Jani dorme ao meu lado e outras escravas cuidam dos feridos. Olho para aquela mulher que em pouco tempo, se tornou importante e quase indispensável em minha vida.

Um alvoroço começa fazendo mãe Jani acordar, assustada. Ela olha para mim, sorri e rapidamente vai até a entrada da senzala para ver o que acontece.

Procuro novamente Lori e a acho conversando e de mãos dadas com Pedro. Isso estava me irritando seriamente. Não saber ao certo se eles se amavam ou se eram apenas amigos me deixava confusa, e não poder perguntar a ela, não melhorava minha situação sentimental.

Então ele entra. Com o mesmo sorriso de sempre. O que ele faz aqui?
Ele chega mais perto e tento pateticamente me levantar pelos cotovelos.
Pensei que iria rir, debochar de mim, mas ele apenas me lança um olhar de pena e me ajuda.
Não quero sua ajuda, mas sei que nesse momento eu preciso dela.

- Como vai, Malika? - ele pergunta, com um sorriso torto, diferente do seu habitual.

- Como você acha Juliano? - digo, áspera.

- Não sei, não sou você. - diz sorrindo.
Odiei esse humor dele.

- O que veio fazer aqui? - pergunto indiferente.

- Ora, vim saber como está. - ele olha para os lados e continua - Querendo ou não, você é a Minha doença que prefiro não ter a cura, se lembra? - diz.
Meu coração bate mais forte. A doença, o amor. Sinto minha visão vacilar, mas não Posso demonstrar isso, não quero.

- Então quer dizer que sou uma doença, Juliano? - digo soltando um sorriso sarcástico.
Quero que ele vacile com o sorriso. Não é isso que ele faz.

- Então, se preferir, você é a cura para as doenças que eu considero mundanas e ridículas. Você é a Minha cura. - ele diz saindo do local.

O que Juliano estava fazendo comigo? Tentando me mostrar que era diferente e que queria meu bem?
Se for isso, sinto lhe dizer que ele ainda não conseguiu.




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