15 de Março de 1888.
Uma Única Barreira.
Finalmente chegamos na fazenda. Juliano olha para mim e eu lhe dou um beijo.
Ele arqueia arregala os olhos, visivelmente surpreso.- Qual é o problema? - pergunto.
- Demorou tanto para finalmente conseguirmos nos beijar... E agora não quer mais parar? - ele pergunta, brincalhão.
- Não é isso... - eu digo, sorrindo - E que antes eu estava tão cega por uma decepção, que não consegui enxergar quem me amava de verdade.
Ele me olha profundamente.Não queria me separar de Juliano.
Poderia ter sido apenas por uma noite, mas aqueles beijos, aqueles sorrisos, pareciam ter durado uma vida inteira.
Uma vida inteira de carinho e de amor.- Juliano, se importa de dormir comigo? - questiono.
Ele sorri e afirma com a cabeça.Comemoro internamente e externamente, dançando. Sim, eu estava dançando na frente de Juliano!
Ele solta uma gargalhada profunda, e um tanto gostosa de se ouvir.Nos deitamos juntos naquele chão duro da senzala, com um cuidado absurdo afim de não acordar ninguém, e ele faz uma careta.
- Como você consegue dormir aqui? - ele me questiona.
- Costume. - dou de ombros.
Lhe abraço ainda deitada.Naquele momento, queria acreditar nas palavras de João mais do que nunca; a escravidão acabaria um dia.
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Acordo com um grito fino e estridente.
Me levanto e percebo que é Lori nos olhando.- Eu disse que ele te amava! - ela fala, sorrindo.
Faço uma careta e me levanto junto com Juliano.- A noite foi agitada? - ela pergunta.
- O quê? Não...Mas Malika dança muito bem. - Ele diz.
Fico envergonhada.- Como assim? Eu também quero ver essa dança, senhorita Malika! - ela fala.
Então, sem cerimônias, começa a dançar.Lori nunca foi uma pessoa que tinha vergonha, mas eu acho que ela estava passando um pouco dos limites.
Juliano solta novamente uma gargalhada, e ela o acompanha.- Então é isso que vocês fazem no seu tempo livre! - ele diz.
- Não! Bom... Um Pouco - digo.
- Eu também quero participar! - Pedro diz.
Pela primeira vez, o vejo sorrindo.Pedro abraca Lori, e lhe dá um beijo na testa. Eles realmente gostavam um do outro, e me sinto feliz por eles, por saber que minha amiga está feliz.
Olho para Juliano, que sorri, mas eu sei que aquela felicidade não duraria muito tempo.
Só de pensar, um calafrio percorre a minha espinha, e instantaneamente, olho para minhas mãos cicatrizadas.Percebo que Pedro e Lori estão destraídos demais, e novamente, olho para Juliano.
Ele me olha um pouco triste, e sei que agora ele deveria falar com meu Amo.
Eu o abraço fortemente, e concordo com a cabeça.
Como se lendo nossos pensamentos, meu Amo chega na porta.- Já decidiu Juliano? - diz ele.
- Sim - ele diz, olha para mim e inesperadamente, me dá um beijo apaixonante.
- O que você pensa que está fazendo!? - Sr. Viana grita, indignado.
- Eu não vou bater nela, porque a amo! - Juliano fala.
Sr. Viana se aproxima de nós.- Como você ousa fazer isso? - ele murmura.
Rapidamente, ele bate em Juliano, e eu grito desesperada.Pedro, que observava tudo, separa os dois.
Meu amo tem fúria no olhar, e Juliano permanece calmo. Qual era o problema dele? Por quê ele não podia ver as pessoas felizes, sem querer atrapalhar?- Primeiro seu irmão, agora você?! - Sr. Viana fala - Então eu também desisto! A Fazenda está em suas mãos. - diz ele.
Juliano sorri, vitorioso.Agora, eu também sorrio, pois finalmente poderia ficar perto de Juliano, sentir Juliano, formar uma família...
Eu lhe dou outro beijo.- Bruno... Saiu da Fazenda? - ele pergunta.
- Acho que sim, mas... O que importa? Eu só quero ficar perto de você... - digo.
Nós rimos e nos abraçamos, ajoelhados.Agora, tudo seria diferente, teria Juliano perto de mim, teria Lori perto de mim, e não tinha mais ninguém para atrapalhar. Minha vida poderia melhorar?
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Uma única barreira
RomanceCapa MARAVILHOSA por : @AudreyHansol Outubro de 1886. Malika deixou a África de mãos vazias. Foi contrabandeada para o Brasil. Já sabia o que a lhe esperava. Ser escrava. Assim que chega em território brasileiro conhece Juliano e Bruno. Os irmãos...