Sétimo Capítulo

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Uma Única Barreira

3 de Janeiro de 1887.

- Malika, vamos! - Pedro me chamou. Juliano iria embora e eu achei melhor ir com ele. Não que eu não tivesse gostado do quilombo, mas eu sentia saudades de Lori.

- Tudo Bem, Juliano. O que você vai falar para seu pai? - pergunto quase chegando na Fazenda.

- Irei dizer que me perdi e que você me achou e me trouxe de volta.

- E porque você ficou um mês fora? - continuo, desafiadora.

- Estava muito fraco, e você cuidou de mim. - respondeu abrindo aquele sorriso de sempre, vitorioso.

Chegamos e Sr. Viana veio correndo para falar com seu filho.

- Ora veja quem voltou - Ele disse calmo demais para a gravidade da situação - Perdeu a ceia de Natal... E ainda com uma escrava? - Antes que eu ou Juliano pudéssemos falar qualquer coisa, Sr. Viana rapidamente bateu sua mão em mim.

- Pai! - Juliano gritou enquanto eu sentia meu rosto arder - Ela me salvou! Estava perdido e fraco quando ela me encontrou, cuidou de mim, e me trouxe de volta.

- E o que ela estava fora da fazenda? Ela irá ser castigada!

- Pai, não! Ela foi atrás de mim.

Meu amo olhou-nos desconfiado e saiu, como se engolisse aquilo de mau gosto.

- Está bem? - Juliano perguntou colocando delicadamente a mão sobre meu rosto.
Com seu toque, senti um calafrio.

- Sim, mas eu não queria ter entrado nessa história! - disse enquanto sentia as lágrimas quentes descerem por minha bochecha.

- Maria, por favor eu...

- Não Juliano, eu que tenho que pedir por favor. Por favor, me esqueça.

Saí dali andando vagarosamente em direção à senzala ouvindo Juliano chamando meu nome.
Quando me sentei no chão, Lori e Mãe Jani vieram na minha direção me enchendo de perguntas e depois de ouvi-las, respondi todas com uma só frase.

- Não vou dizer que o que Juliano disse é mentira, mas também me recuso a dizer que é verdade. A única coisa que interessa a vocês no momento é : Continuo não me importando com Juliano.

5 de Janeiro de 1887.

Estava começando a me sentir exausta de sentimentos. Uma hora, eu achava Juliano um verdadeiro cretino, e em outra, pensava em o quanto ele era cavalheiro.
Mãe Jani percebeu isso e veio falar comigo naquela noite.

- Malika, sei o quanto está confusa em relação a Juliano, não tem sido fácil para você!... Posso não está ajudando em nada, mas uma coisa eu tenho certeza: Juliano se importa conosco.

- Conosco... Quem? - pergunto interessada em conversar com ela.

- Nós, escravos. Sei que tem algo diferente nele que seu pai não lhe ensinou, mas ele descobriu. Ele é um Abolicionista.

- Mãe Jani, como sabe? - estava surpresa com sua facilidade de simplesmente saber de tudo.

- Ó minha querida - Ela disse alisando meu cabelo - Muitos de luta e convivência com esses meninos, resulta nisso. - completou, me deixando sozinha naquele lugar.
Não Sei se foi pelo cansaço, ou pelas palavras acolhedoras de Jani, mas naquela noite, me deitei e adormeci rapidamente.

*Já estamos em 1887! Sim! Obrigada pela repercussão e que venham os #200views! *

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