Capítulo 26 - Ele

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Rafael

Mais um mês... um mês sem a minha rainha. 4 meses sem sua comida, sem seu cuidado e sorriso. Como sua ausência vem me mudando. Primeiro meu pai, o meu modelo, meu referencial, meu herói se foi, sem eu nem poder dizer adeus. Agora lá está dona Isabel vivendo através de aparelhos, viva e ao mesmo tempo morta. Por que Deus? por quê? Você quer tirar todo mundo de mim?! Cadê sua bondade? Cadê você Deus? Me responda! AAAHHHH! Leve a mim! não a ela, por favor! Eu não estou aguentando. Estou cansado, to morrendo aos poucos não tenho ânimo para mais nada. O melhor é deixar o mar te afundar, dói menos, é mais fácil que resistir, exige menos esforço...

Ando muito frio e distante de tudo e todos, principalmente de Deus, não tenho forças para orar, para buscar, não consigo ser como Hanna, que na fraqueza busca mais a Deus. Essa luta está tão difícil... Está difícil Deus de entender que o fardo que me deu está mais pesado do que consigo suportar? Eu não sou como Jó! - minha fé é fraca - Dúvidas me cercam, minha vida se tornou deprimente ao ponto de desistir dos meus sonhos. A vida me cortou profundamente deixando marcas visíveis, o futuro tanto planejado agora vejo sendo queimado e os sonhos que segurei tão forte não possuem mais significado... Aonde está a saída? As águas me consomem! Acho que irei me afogar...

Não dá, não aguento mais esse medo, essa angustia. Só não me afundei totalmente por causa da Hanna. Ela é o meu sol no meio dessa escuridão, minha esperança, meu sustento... por ela ainda não desisti, mas se fosse ela já teria desistido de mim... 7 meses que estamos juntos. Já deveríamos estar noivos, mas com tudo isso não pensei muito em nós. Não tenho cabeça e vejo o quanto ela é madura para entender e esperar o meu tempo. Talvez devêssemos terminar, não sou bom o suficiente para ela. Agora que sou uma pessoa amarga e isolada. Nesses dias fui tão rude com ela, estou à afastando ao poucos eu sei, mas é de mim agir de tal forma, fiz a mesma coisa com minha mãe quando meu pai morreu, só Malu conseguia quebrar a barreira que construí naquela época. Aqui estou eu mais uma vez, me fechando, me tornando frio, virando pedra... 

Acabei trancando esse semestre da faculdade, não tenho ânimo para nada, me afastei dos meus amigos, deixei de ir para a igreja, meus líderes, os pastores e o pessoal já vinharem aqui, já fizeram de tudo para me animar e me fazer voltar, mas eu não quero voltar... Apenas o Arthur e Hanna vem me ver constantemente. O resto já desistiu de mim e agradeço por isso, não quero pena de ninguém. O que ainda me alivia, me faz voltar a ser como antigamente é as bobices da minha Hanna, que consegue arrancar um sorriso de mim e o meu violão, nele consigo por toda a dor para fora. Por mais que sinta o desejo de terminar com Hanna por ser o melhor para ela, querer protegê-la dessa tempestade que estou virando, deixá-la ir é o mesmo que assinar meu óbito, pois eu desisti de mim, mas ela não. Hanna é o que ainda me mantem firme. Eu sei, estou sendo egoísta, por isso penso em terminar... sinceramente, não sei, ando uma confusão ambulante. 

Pego meu violão que está ao lado da minha cama, começo a dedilhar e tocar notas aleatórias e quando menos percebo estou tocando a introdução Vem me socorrer de Palavrantiga

"Não tenho um tom.

Não tenho palavras.
Não tenho um acorde que me socorra agora.


Tudo foi embora.
Só tenho você.


Havia o silêncio que mostrou os meus vícios.
Me agarro contigo. Vem, me socorra agora.
Tudo foi embora.
Só tenho você, Amor.Agora.


Essa não é mais uma canção de amor.
Não, não, não
.

Eu canto pra Ti.
Já sei onde estou.
Olhando pra mim posso saber que nada sou.

Eu grito pra Ti. Oh Deus, vem me socorrer.
Olhando pra mim posso saber que nada posso fazer.


Oooh, Oooh".   

Um só coração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora