Este é outro mundo:Que não é de homens.LI BAI, "PERGUNTA E RESPOSTA NAS MONTANHAS"(CHINA, DINASTIA TANG, EM TORNO DE 730)
Podemos vê-la brilhando resplandecente ao crepúsculo, afugentando o Sol nohorizonte ocidental. Depois de vislumbrá-la pela primeira vez à noite, as pessoascostumavam fazer um pedido ("à estrela"). Às vezes, o desejo se realizava.
Ou podemos avistá-la a leste, antes do amanhecer, fugindo do Sol nascente.Nessas duas encarnações, mais brilhante que todos os outros corpos celestes a exceçãoapenas do Sol e da Lua, ela era conhecida como a estrela da tarde e a estrela da manhã.Os nossos antepassados não reconheciam que ela era um mundo, um único mundo,nunca muito distante do Sol, porque gira ao seu redor numa órbita mais próxima que ada Terra. Pouco antes do amanhecer ou pouco do entardecer, podemos vê-la às vezesperto de alguma nuvem branca fofa e assim descobrir, pela comparação, que Vênus temcor, um amarelo-limão bem claro.
Espiamos pela ocular de um telescópio - mesmo um telescópio grande, mesmoo maior telescópio óptico da Terra - e não podemos perceber absolutamente nenhumpormenor. Ao longo dos meses, vemos um disco sem características passarmetodicamente por fases, como a Lua: Vênus crescente, Vênus cheia. Vênus minguante,Vênus nova. Não há indícios de continentes ou oceanos.
Alguns dos primeiros astrônomos que viram Vênus pelo telescópioreconheceram de imediato que estavam examinando um mundo envolto em nuvens.Estas, como sabemos atualmente, são gotinhas de ácido sulfúrico concentradomanchadas de amarelo por um pouco de enxofre elementar. Eles se mantêm bem acimado solo. À luz visível comum, não há indícios de como seria a superfície desse planeta auns cinqüenta quilômetros abaixo do topo das nuvens, durante séculos, o melhor quetivemos foram hipóteses fantásticas.
Conjeturava-se que, se conseguíssemos uma visão mais detalhada, talvezencontrássemos brechas nas nuvens que revelariam, dia a dia, aos pouquinhos, asuperfície misteriosa geralmente oculta a nossos olhos. A época das hipóteses chegaria,então, ao fim. A Terra tem, em média, metade de sua superfície coberta por nuvens. Nosprimeiros tempos da exploração de Vênus, não víamos motivo para que esse planetafosse 100 por cento encoberto. Se fosse apenas 90 por cento, ou até mesmo 99 por centocoberto de nuvens, os trechos transitórios livres poderiam nos dar muitas informações.
Em 1960 e 1961, as Mariner 1 e 2 primeiras sondas espaciais projetadas paravisitar Vênus, estavam sendo preparadas. Havia aqueles que, como eu, achavam que asnaves deveriam levar câmeras de vídeo para radiotransmitir imagens para a Terra. Amesma tecnologia seria usada alguns anos mais tarde, quando as Ranger 7,8, e 9fotografaram a Lua antes de se espatifarem sobre a sua superfície - a última abrindo umburaco na cratera Alphonsus. Mas o tempo era curto para a missão a Vênus, e ascâmeras eram pesadas. Alguns afirmavam que estas não eram, de fato, instrumentoscientíficos, mas uma espécie de vale-tudo, uma brincadeira, uma concessão ao público,sendo incapazes de responder a uma única pergunta cientifica simples e bem formulada.De minha parte, achava que verificar se há brechas nas nuvens era uma pergunta dessetipo. Argumentava que as câmeras também poderiam responder perguntas que éramosdemasiado tolos até mesmo para formular. Dizia que as fotos eram a única maneirapossível de mostrar ao público - que, afinal, era quem pagava a conta - a emoção dasviagens robóticas. De qualquer modo, as naves não levaram câmeras e, no caso dessemundo especifico, as missões subseqüentes têm, ao menos em parte, justificado essadecisão: mesmo em imagens de alta resolução tiradas por vôos próximos, descobriu-seque, à luz visível, não há brechas nas nuvens de Vênus, assim com não as há nas nuvensde Titã. Esses mundos são permanentemente encobertos.
Na radiação ultravioleta, há detalhes devidos a trechos passageiros de nuvensem elevadas altitudes, muito acima da principal camada de nuvens. As nuvens altasdeslocam-se ao redor do planeta muito mais velozmente do que este gira: super-rotação.Nas radiações ultravioleta, a possibilidade de ver a superfície é ainda menor.
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Pálido Ponto Azul-Carl Sagan
Non-FictionOBS: """os capítulos estão com um problema no espaçamento entre as palavras, dentro de uma semana será corrigido""" Por que gastar fortunas com programas espaciais quando há tantos problemas aguardando solução a poucos metros de nossas casas? Para...