Bônus

112 17 3
                                    



Enrico Turner

Acordo com o som de batidas na porta do quarto e levanto sonolento, mal abro a porta por completo e minha filha entra aos gritos.

— Anda pai, arruma logo suas coisas! – Diz pulando e batendo palma igualzinha a Amanda quando está empolgada. Às vezes acho que essa menina foi gerada na barriga errada.

— Calma Chloe! Arrumar o que? – Ainda não entendi o que ela está falando.

— A vovó acabou de ligar chamando todo mundo para passar esse fim de semana lá! – Diz rindo em animação.

— Todo mundo?! – Sai quase como uma pergunta e vejo quando minha filha passa correndo pela porta gritando.

— Vou me arrumar, chama a Lanne! – Bocejo e olho para minha cama. Não acredito que vou troca-la por horas dirigindo até a fazenda da mamãe, fomos dormir tarde ontem conversando e comendo a pizza cheia de gordura que minha filha insiste em dizer que é maravilhosa.

Vendo que não tem jeito a dar vou chamar a Lanne antes que a Chloe faça com ela o mesmo que fez comigo. No caminho escuto meu celular tocar e volto para o quarto, atendo e gritos idênticos aos da Chloe quase explodem meus ouvidos.

— Ricooooooo! Arruma tudo rápido e chama a Lanne. Vamos para a fazenda, sua mãe acabou de me ligar. Estou mesmo precisando de algumas horinhas de paz. – Minha amiga não fala, ela metralha as pessoas.

— Se você deixar eu chamo sim. – Digo levemente irritado, pois estou morrendo de sono.

— Pelo visto você também precisa de um pouquinho de paz seu mau humorado. – Desliga na minha cara assim que termina de reclamar.

Saio novamente do quarto e subo a escada dos quartos de hóspedes e me assusto ao encontrar Lanne jogada no tapete. Ela está segurando o celular com uma mão e a outra cobre seu rosto. Me aproximo e a encaro com atenção, seus lábios são bem desenhados e naturalmente rosados, passo alguns segundo e balanço a cabeça para espantar esses pensamentos.

Percebo que ela soltou o celular no tapete e movido pela curiosidade pego o aparelho do chão, passo o dedo e vejo uma foto dela com o Roger como plano de fundo da tela de proteção. Bem que disse para Amanda que eles iam acabar voltando, é só uma questão de tempo. Coloco o celular no tapete e tento acorda-la.

—Lanne? – Chamo e ela não se mexe. Chamo novamente, dessa vez toco no seu braço esquerdo que está cobrindo seus olhos.

— Ei, acorda! – Puxo seu braço de leve e ela resmunga.

— Só mais um pouquinho, por favor, Rô! – Eu escutei direito? Ela me chamou de que?

— Acorda! – Falo alto e tiro o braço dos seus olhos.

— Oi?! – Acorda assustada e tateando o tapete a procura do celular.

— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? – Pergunto ao notar que seus olhos estão vermelhos e inchados.

—Estou sim, é que eu gosto de dormir assim, fazia isso direto no meu apartamento e esse tapete é até melhor que o meu – Fala com um sorriso sem graça.

— Eu vim avisar que estamos indo passar esse fim de semana na fazenda da minha mãe. Amanda acabou de ligar e pediu que eu te chamasse. – Levanto e estendo a mão para ajuda-la.

— Certo, eu vou tomar um banho e arrumar umas coisas pra irmos! – Responde segurando minha mão e quando já esta de pé na minha frente puxa a mão com uma expressão levemente assustada.

— Eu vou fazer o mesmo. – Falo já virando para descer a escada. Não consigo pensar em mais nada para dizer, esse foi o máximo de contato que tivemos e me sinto estranho.

Volto para o meu quarto e separo umas roupas para levar. Tomo meu banho e desço com as minhas coisas. Encontro as duas na cozinha rindo enquanto tomam o café da manhã.

— Prontas? – Pergunto enchendo um copo de suco.

— Até demais, vamos logo! – Chloe já está a todo vapor.

— Posso pelo menos tomar meu suco? – Lanne começa a rir da empolgação exagerada da minha filha e eu não consigo deixar de observar como seu sorriso é incrível.

Ela já não está mais com os olhos vermelhos e inchados, seu cabelo está preso em um coque desajeitado no alto da cabeça. Todas as vezes que nos encontrávamos ela estava bem arrumada e maquiada, agora de cara lavada, regata branca, calça jeans e botas sem salto percebo que não precisa de nada mais.

— Vamos pai! - Sou acordado do meu devaneio pela minha filha que não para de reclamar. — Anda que a viagem é longa e quero chegar a tempo de almoçar com a vovó!

Já na estrada Chloe não consegue controlar sua ansiedade, canta junto com o rádio e batuca algumas vezes nas pernas. Lanne se reveza entre ajuda-la e dormir no banco de trás e eu agradeço mentalmente pelo Leo ir também, pois essa bagunça seria bem pior com a Amanda e a Chloe juntas.

A viagem é longa, cerca de 5 horas até chegar à fazenda que fica em Rochester, numa área rural com grandes fazendas de plantações e criação de animais. Meu pai era dono de alguns lotes, quando ele faleceu a mais o menos três anos, minha mãe vendeu as terras e se dedicou a cuidar apenas da fazenda principal onde mora atualmente. Sempre que posso venho passar um final de semana com ela e saio daqui renovado, é maravilhoso reviver momentos da minha infância e adolescência.

Feita para o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora