Voltei a casa mais nada estava como antes, ninguém estava lá e a cozinha não parecia que tinha sido usada por ninguém. O cheiro de chá que eu sentia antes tinha desaparecido e minhas mãos ficavam frias toda vez que o vento de fora batia nas janelas daquela casa. "Será que morri?" pensei comigo mesma. Talvez eu estivesse no recanto, ou ainda estivesse indo... Eu não sabia. Mas sabia que o efeito da substância tinha me pegado de jeito dessa vez. Aquilo estava parecendo real quando eu ouvi um rangido de madeira sendo imprensada.
Parecia algo que eu já escutara alguma vez, algo semelhante a... Uma cadeira de balanço! Pensei e tive certeza, era como se eu pudesse gritar "BINGO!". Alguma cadeira de balanço estava ali e eu precisava descobrir onde ela estaria e quem estava a balançado. Então segui o som, subi as escadas voltando para o quarto onde eu me acordei.
A cadeira balançava mais ninguém estava lá, não tinha ninguém sentado. Aproximei-me e vi o vento entrando pela janela onde a cadeira estava de frente. Pensei que poderia ser o vento até sentir uma presença atrás de mim, quando virei existia uma velhinha na cama, deitada, como se estivesse doente há um longo tempo.
- A senhora... De novo... - Falei.
Era a mesma senhora que me alertava sobre alguém falso próximo a mim, a mesma senhora que me apresentou uma cobra em um casebre, me dizendo que seria o símbolo da falsidade. Ela estava ali como se já esperasse sua morte, sua pele estava mais enrugada e mais pálida do que da primeira vez que a vi.
- Eu sou forte na hora da morte, querida. - Ela disse.
Eu me aproximei e peguei a sua mão, ela estava gelada, mas o sorriso em seu rosto deixava claro o que iria acontecer. Ela sabia que tinha chegado sua hora. Ela deu um leve riso de canto e olhou para fora.
- Veja... - Ela disse olhando ainda para a janela. - Isso tudo está acabando.
- Como a Senhora sabe?
- Você logo, logo vai saber de toda a verdade.
- A senhora disse no nosso primeiro encontro que só precisava que eu chegasse até a senhora para poder partir. Por que não foi?
- Por que você não entendeu o recado.
- Eu tento... – Respirei o mais fundo que podia. - Mas não entendo. Alguém falso está próximo a mim... Mas quem? A Sunny?
- Não! A Sunny foi internada por coisas que não cometeu.
- Ela não matou aquelas pessoas em seus surtos?
- Não. Foi tudo um engano.
- Então quem foi? E por que em nossas visões vimos que tinha sido ela?
- A cobra irá te dizer, Kyle.
- Que cobra?
- Aquela...
Ela olhou para a janela e eu também, me deparei com uma enorme cobra entrando por ela. Não era uma simples cobra, era uma cobra que eu não sabia distinguir o tamanho de tão grande. Algo muito maior do que eu já vira no zoológico alguma vez.
- Agora vá. E encontre-a, faça pagar por todo mal.
Quando eu virei de volta para a velhinha ela tinha sumido, era eu e a cobra naquele momento. Eu tentei correr mais era tarde, ela já tomava todo o quarto com seu enorme corpo rastejante. Ela entrelaçou sua pele em mim e me puxou me suspendendo no ar fazendo com que meus pés não tocassem ao chão. Eu olhei bem nos olhos dela e ela parecia inocente. Ela inclinava a cabeça me estudando e tentando se comunicar, parecendo um cachorrinho dizendo "Sim!" para uma comida. Então abriu a boca e colocou a sua língua pontuda para fora, me agarrando pelo pescoço e me engolindo. Fazendo-me afogar no escuro de um lugar quente.
Acordei e sobrepus meu corpo para frente, desencostando minhas costas da cama. Richard estava parado olhando para mim como se eu tivesse dormido por dias, ou como se estivesse desesperado todo esse tempo sem saber o que fazer. Sua cara era de preocupado, com um pouco de alivio por eu ter acordado normalmente.
- Por quanto tempo dormir? - Perguntei.
- Menos do que 24 horas.
- E onde está a Sunny?
- Eu não sei. É estranho, eu estava aqui o tempo todo e ela também. Então ela resolveu sair do quarto e não voltou, quando desci para observar ela não estava lá em baixo também.
- E onde estamos?
Analisei o quarto saindo da cama. Olhei-me no espelho e estava pálida, "Deve ser por ter passado quase 24 horas sem comer" pensei comigo mesma. Então fui até a janela e aquele lugar me veio na mente, era o mesmo quarto do meu sono, o quarto da Alia.
- Eu irei buscar algo para você comer.
Era madrugada, o relógio já mostrava que iria amanhecer logo, logo. E eu estava ali passando minhas mãos entre a madeira da janela, e lembrando-se da cobra, e sua longa língua. A mesma cobra que estava naquele mesmo lugar, tudo estava me puxando para a verdade, mas meus sentidos me diziam "Não, você não irá saber da verdade agora" e eu apenas obedecia. A madeira estava toda riscada, ela morara ali quando era criança, percebi por conta dos rabiscos da parede. O Richard voltou colocando sanduíches naturais em cima da escrivaninha e se dirigindo a mim.
- Quem nos trouxe aqui?
- A Sunny teve uma intuição, Não sei bem se uma intuição, mas ela ficou longe de mim por um tempo antes de sairmos do sanatório e voltou já com esse local anotado em um papel.
- Temos que achá-la.
- Você teve alguma visão enquanto estava desacordada?
- Sim. Eu vi a minha mãe, uma criança... e uma cobra.
- Cobra?
- Alguém falso está entre nós.
Saí da janela e analisei o quarto com os braços cruzados. Era tudo como no sonho, parecia que aquele lugar tinha passado muito tempo sem ser tocado. Além do cheiro de poeira também inalava o cheiro de roupas velhas guardadas. Então andei até o armário rosa que estava do lado esquerdo do quarto. Eu estava procurando algo entre o armário da Alia, quando achei as quatro bonecas em cima de uma pequena caixa, as mesmas bonecas do meu sonho, a Alia sem cabeça, eu, a Sunny e a Emmy no meio de nós.
- Você acha que sou eu... Ou a Sunny?
- Nem uma das opções... - Eu disse pegando a caixa e levando para cima da cama.
- Por que essa boneca é a única sem cabeça?
- Ela representa nossa amiga que morrera no casebre.
Joguei as bonecas em cima da cama e abri a caixa. Lá tinha um perfume, quase não tinha sido usado. O peguei e espirrei um pouco no ar.
- Esse cheiro... - Disse o Richard fechando os olhos e tentando buscar na memória de onde já tinha o sentido antes. - Já o sentimos antes.
- No sanatório. É o cheiro da Alia.
- Mas como o sentimos lá se o perfume está aqui?
- Meus pensamentos estão certos, Minhas visões sempre tentaram me avisar. - Apertei o perfume entre minhas mãos – Ela não morreu. Ela está com minha filha.
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A Simetria
Mystery / Thriller[OBRA AUTENTICADA NA BIBLIOTECA NACIONAL] Depois de quatro anos do ocorrido em Manhattan, Kyle Hones, volta a correr perigo em busca da sua filha de quatro anos que adotara e que foi raptada. Deixando sua faculdade de química de lado para buscar sua...