Capítulo 23 - Entre as grades

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Eu entrava no corredor com minhas mãos para trás e um policial atrás de mim me guiando. Ouvi dizer que eu tinha visita, mas não me disseram quem seria. Eu já estava ali há mais ou menos duas horas, como alguém já tinha me achado eu não sabia. "Talvez seja a Sunny" pensei. Então cheguei à sala e o Jack estava sentado numa mesa de duas cadeiras, onde as duas ficavam uma em frente a outra. O policial me colocou na cadeira que estava vazia e eu olhei para o rosto do meu pai biológico.

- O que você está fazendo aqui? - Perguntei.

- Esclarecer algumas coisas... - Ele disse.

Eu permaneci calada esperando ele soltar as primeiras palavras. Eu estava em um momento na minha vida que nunca estive, me sentia no fundo do poço. Não poderia fazer mais nada para me dar forças, a única pessoa que ainda estava em minha cabeça era a Sunny.

- Eu não estive esse tempo todo contra você, Kyle. Alia ameaçava matar sua filha se eu não atrapalhasse você.

- Foi por isso que você me encontrou no teatro e pegou os desenhos que eu tinha da Emmy.

- Exato. - Ele disse se aproximando. - Depois daquele dia do teatro, Alia pegou a Emmy e disse que eu não estava mais nos seus planos. Ela só me usou para que eu pegasse a criança. Mas ela nunca quis maltratar a Emmy, ela estava planejando algo maior, e até agora ninguém sabe o que era.

- Mas ela já está morta. - Eu disse prendendo meu cabelo. - O que quer que esteja planejando, as duas estão mortas, não vai ser concluído.

- Mas você sabe como os mortos mexem nas nossas vidas não é?

Eu o olhei e lembrei do velhinho falando sobre a chuva de mortos na estação de trem. Minha cabeça doía parece que eu estava com uma pedra em cima dela.

- Você acha que ele voltará?

- Não sei. Mas não vim aqui para isso. - Ele tirou um saco do bolso e colocou em cima da mesa o cobrindo com a mão. - Sei que você achou o assassino na Emmy, e que por isso está aqui.

- Cansei de fugir, Jack. Eu já irei morrer mesmo por conta da substância que você me dera no teatro...

- Não. - ele me interrompeu. - Você não vai. A substância que eu lhe dei não era nada mais do que a mesma que você tomava para ter sonhos e visões.

- Mas não foi isso que os pais do Richard disseram para mim... Espera. - Eu suspirei. - Eles mentiram. Eu sempre soube que eles trabalhavam para a Gradley transportando drogas. Então eles mentiram para eu pensar que iria morrer e sair do controle?

Jack balançou a cabeça como um sinal de sim e olhou para baixo como arrependimento. Eu sentia sua respiração de longe enquanto a raiva subia para minha cabeça.

- Por que você não me contou no teatro. - Eu disse.

- Você estava com raiva de mim, injetaria em si mesma algo que um inimigo te daria?

Eu fiquei calada por alguns segundos enquanto pensava no que tinha feito e nas coisas que eu deixei de fazer por pensar que morreria.

-Eu fiz o que fiz porque pensei que iria morrer aqui.

- Eu sei. Mas você não irá morrer e nem ficar aqui. - Ele tirou a mão em cima do saco pegando a minha e levando para cima do mesmo. - Essa droga te deixará morta por duas horas. Ela apagará todos os seus sentidos. Os policiais irão levar comida para você às três horas da tarde, então você precisa calcular a hora que irá tomar para acordar na enfermaria que fica perto da porta de saída. É o melhor jeito de sair.

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